Postagem em destaque

Governo cria malha aérea emergencial para atender o Rio Grande do Sul

EBC   Radiografia da Notícia *  Canoas receberá 5 voos diários. Aeroportos regionais ampliam oferta *  Antes do fechamento, o aeroporto da c...

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

Violência serve de combustível para segurança privada

Presídios se transformaram em faculdades do crime, que alimentam a indústria da segurança privada



Luís Alberto Caju

  A violência não pode acabar. Do contrário 4.500 empresas e 600 mil vigilantes clandestinos ficam sem emprego, além dos 170 mil homens que atuam como orgânicos (vigilantes formados pelas próprias indústrias). A grosso modo sem aumento da criminalidade, somando regulares, clandestinos e orgânicos, o Brasil tem 1,2 milhão de pessoas envolvidas diretamente na segurança privada. Batem de longe os aproximadamente 500 mil homens que atuam juntos nas polícias civil, militar, federal e rodoviária federal.

 Em 2012 este segmento de mercado cresceu 6,5%, faturando algo em torno de R$ 14 bilhões. Na maioria das empresas que trabalham com segurança privada, os proprietários sãos militares da ativa ou da reserva ou policiais. Profissionais que conhecem o funcionamento da máquina que serve para proteger patrimônios e vidas de famílias dispostas a pagar para não cair nas mãos de bandidos. É um pedágio às avessas. Desembolsa dinheiro para manter os criminosos longe de casa, empresa e até de filhos e esposa.

 Há 30 anos o uso de segurança particular era costume de autoridades e artistas. Existia crime, porém os bandidos não tinham a audácia, raramente, de sequestrar, invadir residências ou mesmo assaltar carro forte ou explodir caixas eletrônicos. Vivia-se os últimos anos do Regime Militar, cujos integrantes linha dura das Forças Armadas ainda tinham carta branca, apesar da anistia decretada em 1979, de executar criminosos que ousassem ultrapassar os limites, como praticar arrastões em condomínios fechados ou estourar caixas de banco para retirar dinheiro.

 Porém, a crise econômica das décadas de 1980 e 1990, quando inflação mensal chegava a 50%, aliada ao forte desemprego, empurrou muitas pessoas ao crime. Para complicar, os militares deixaram juntos no mesmo presídio do Rio de Janeiro, detentos comuns com os condenados por delitos políticos. Era o embrião da temível Falange Vermelha e do crime organizado no Brasil. Nas celas e banho de sol, os ladrões pé de chinelo eram doutrinados de que não deviam roubar pobre, o vizinho da favela ou do cortiço, mas o ricaço, se possível pegar alguém de sua família e pedir resgate. Em liberdade deveria ajudar quem ficou preso.

 Os governos da Nova República, Sarney, Collor, FHC até chegar ao presidente Lula, descuidaram com a segurança pública. Caíram no erro de investir apenas na repressão, sem aplicar recursos no trabalho de inteligência e aumento de salários dos policiais e compra de bons equipamentos. Durante muitos anos era proibido investigadores ou PM usar pistolas automáticas. Tinham de portar os defasados revólveres calibre 38.

 O aumento da violência levou a elite empresarial a investir na segurança privada do patrimônio e de familiares. Filhos de grandes empresários ao sair de casa, têm a companhia de agentes, equipados com armamentos sofisticados. Mesma nas famosas festinhas, meninos ou meninas, filhos de milionários ou bilionários, estão acompanhados de seguranças, atentos a qualquer movimentação que possa colocar em risco a vida dos clientes.

 Carros passaram a receber blindagem, mesmo os que não estavam na categoria de luxo. Câmeras sofisticadas, com lentes dotadas de luz infravermelha, equipam portões de residências, entradas de condomínios fechados ou até de apartamentos de coberturas. Veículos de entregas de móveis, bebidas ou até dos Correios, são hoje acompanhados por escolta armada, com a liberdade de atirar contra criminosos que ousem atacá-los.

 É nesse vasto universo que a violência se transformou num grande negócio. Não pode cair, precisa aumentar para que mais pessoas busquem ajuda nas empresas de segurança privada, para ter a paz que o governo deixou de proporcionar, por meio de sua segurança pública. É tão grave a situação, que pesquisa do Ibope (Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística) apontou que apenas 9% dos paulistanos se consideram em segurança na cidade. O estudo revelou que a violência é o seu maior medo. É a senha para empresários que vendem proteção continuar aumentando seus lucros, para desespero de quem gostaria de viver em paz.


Nenhum comentário:

Postar um comentário