Postagem em destaque

A Ineficiência do Gasto Público

    Pixabay Radiografia da Notícia *  Por definição, a eficiência do gasto público é menor do que a do gasto privado *  Logicamente num regi...

quinta-feira, 31 de julho de 2014

Como será o mundo de 2040?



As distâncias serão reduzidas por causa de naves avançadas tecnologicamente

Luís Alberto Alves

 A tecnologia avança a passos rápidos. Daí fica uma questão no ar para sabermos como será o nosso mundo em 2040. Quanto ao individualismo, não descarto uma sociedade onde existirá pouco amor em relação ao próximo. Faço essa projeção pelo comportamento atual de jovens e adolescentes, sem qualquer apreço aos pais, os tratando como mercadoria ou bancos para financiar seus caprichos.

 Hoje os telefones celulares são computadores portáteis. Fazem diversas funções. Serve como arquivo de fotos, de músicas, de textos; são máquinas fotográficas, filmadoras, calculadoras, aparelhos de GPS e carregam inúmeros aplicativos para realizar funções sem estar no escritório.

 Os carros evoluíram bastante. A eletrônica contribuiu para instalação de dispositivos os transformando em robôs. Agora é possível mandar o veículo estacionar sozinho por meio de comandos existentes no telefone. Algo revolucionário agora. Porém daqui a 26 anos isso estará defasado. Talvez, naquela época, os automóveis não precisem de motoristas. Andarão sozinhos. Bastando digitar ou mesmo por comando de voz falar o destino e ele levar até o local.

 Pagar contas nos bancos deverá ser feito por programas de internet, mas num processo mais avançado do que o atual. Acredito que a voz será a senha para receber e pagar dívidas. Ninguém precisará digitar ou mesmo tocar teclado de computador. Pelo som da voz, tudo será iniciado e processo entrará em andamento.

                                                  Nervosos
  Calculo que os presídios acabarão. Ninguém deverá cumprir pena num local fechado, cercado de grades. Cada condenado terá um chip implantado no corpo que o imobilizará na sua própria residência. Dependendo da periculosidade, não poderá sair da sala ou quintal. O próprio chip vai descarregar cargas elétricas impossibilitando a fuga para local não programado. Os impulsos nervosos deverão ser controlados por meio de substâncias químicas que esse dispositivo despejará na sua corrente sanguínea.

 Definitivamente o papel estará presente apenas em algumas funções. Revistas, jornais e cartazes ganharão aspectos digitais. Uma manchete poderá mudar várias vezes durante o dia. Os portais eletrônicos assumirão, definitivamente, o papel executado atualmente pela imprensa escrita. Os programas de televisão vão interagir com o telespectador. O cenário vai mudar eletronicamente seguindo o gosto de quem está assistindo.

 Os meios de comunicação sofrerão mudanças drásticas. Por causa da nova geração, exigente e bem apressada, o material informativo precisará circular velozmente, do contrário a empresa perderá receita. O Mesmo se aplica aos anúncios. Tudo bem no estilo digital.

 Quanto aos relacionamentos, calculo que a superficialidade marcará forte presença. Não existirá o amor entre duas pessoas, como ocorre atualmente. A futilidade guiara os casais. Ficarão juntos enquanto houver atração física. Nessa época o aborto estará estabelecido como política pública de saúde. Poucos terão filhos. Os indesejados, por diversas causas, raramente virão ao mundo.

                                                  Drogas
 Para driblar a sociedade marcada pelo status social, financeiro e político, diversos tipos de drogas estarão nas mãos da sociedade. As sintéticas tomarão lugar das atuais maconhas e mesmo cocaína. O formato comprimido cederá espaço para líquidos ou mesmo rápidos vapores, contendo a substância que proporcionará alguns minutos de prazer.

 A depressão que atualmente castiga grande parte da população mundial estará sob controle. Fica triste só quem quiser. Farmácias virtuais venderão medicamentos ou mesmo o governo fornecerá remédios de consumo rápido para banir a tristeza, em fração de segundos.

 Viajar de avião como fazemos atualmente será igual andar de carroça no final do século 20. Aparelhos cada vez mais sofisticados vão funcionar como expresso de luxo, não entre países, porém cidades. As distâncias reduzidas por causa da grande velocidade possibilitarão que o percurso Rio de Janeiro/Paris seja feito em minutos, não em 12 horas como ocorre atualmente.

 Os helicópteros tomarão os lugares dos ônibus, pois a grande quantidade de automóveis deixará as ruas e avenidas congestionadas. Eles funcionarão como lotações de luxo. Os mais ricos usarão dispositivos individuais que os levarão a qualquer lugar voando. Para distâncias mais longas, a materialização será algo comum. A pessoa entra numa bola de vidro e logo aparece no local que pretendia ir.



Brasileiro adora viajar em teorias de conspiração




Na visão dos conspiradores tudo já estava combinado na Neymar sair da Copa do Mundo
Luís Alberto Alves

 Nas redações de jornais e televisão é rotina aparecerem malucos trazendo histórias baseadas em teorias de conspiração. Juram que tudo é verdade. Sabem os nomes dos autores do assassinato do presidente dos Estados Unidos, John Kennedy, em novembro de 1963 durante visita a Houston, Estado do Texas.


 Garantem que Getúlio Vargas não se suicidou em 1954, mas foi executado enquanto dormia no Palácio do Catete, Rio de Janeiro. O presidenciável Tancredo Neves, segundo eles, foi vítima de ataque bacteriológico. Pistoleiro contratado pelos militares da Ditadura que chegava ao fim teria acertado sua barriga e bala contaminou seu organismo provocando sua morte em 21 de abril de 1985, após derrotar Paulo Maluf no Colégio Eleitoral.

Desde 1963 não para de aparecer teóricos para justificar conspiração no assassinato de John Kennedy

 Para piorar a alucinação, outros doidos afirmam que a repórter da TV Globo, Glória Maria, viu Tancredo ser atingido durante comício e ameaçada de morte precisou ficar afastada do trabalho. A mesma loucura paira sobre Juscelino Kubitscheck. Ele perdeu a vida num acidente na Via Dutra, quando seu carro bateu de frente com uma carreta ao atravessar a pista, após ser fechado por um ônibus.
Na mesma linha, o acidente que matou o presidente JK também foi armação da Ditadura Militar


 Na carona da teoria de conspiração, JK poderia ganhar as próximas eleições para presidente, aumentando o medo da Ditadura Militar, já agonizante em 1976. Durante vários anos várias pessoas acreditaram nessa maluca hipótese. Tudo baseado em suposições, sem nenhum embasamento ou prova de confiança.
Getúlio Vargas não "se suicidou", mas foi executado


 Agora o foco é a derrota do Brasil na Copa do Mundo. Na internet circulam vários vídeos “revelando” a trama da Fifa interessada na derrota da Seleção. Caso a pessoa não tenha lucidez embarca e passa a crer que realmente o Brasil vendeu o jogo para a Alemanha, na histórica goleada de 7 a 1 no estádio do Mineirão.

 Credibilidade
  Para aumentar a credibilidade, os adeptos da conspiração dizem que os atletas da Seleção estavam apáticos, sem capacidade de qualquer reação. Como se estivessem numa partida de “compadres” onde todos já sabiam qual seria o resultado. Só esquecem-se de dizer da forte pressão de ganhar o título num Mundial realizado no País, após 64 anos do vexame da Copa de 1950, perdida no Maracanã.

 Sustentam que o atacante Neymar não estaria deitado na maca quando chegou ao hospital para ser medicado, após a joelhada desferida pelo zagueiro carniceiro Zúñiga na partida contra a Colômbia. Os malucos de plantão crêem que tudo foi combinado. O craque desfalcaria o Brasil e o título ficaria com os alemães.
Tancredo Neves não escapou das teoria de conspiração


 O logotipo da Copa do Mundo, de acordo com os adeptos da conspiração, já revelaria que o hexacampeonato chegaria às mãos da Seleção neste Mundial. O desenho representaria alguém com semblante derrotado, apoiado o rosto nas mãos. Tudo bem feito, apoiado nos dirigentes da Fifa e de grandes empresas multinacionais.


 Infelizmente o brasileiro não aceita a derrota. Para justificar o vexame da goleada imposta pelos alemães, o negócio é criar histórias que somente desequilibrados mentais ou ingênuos para acreditar. Não procuram investigar a fundo as questões. Partem de suposições e invadem a internet com trechos de vídeos de reportagens e colocam a imaginação para funcionar. Os cineastas de Hollywood perdem tempo ao deixar esses talentos em casa. Usando a mente, eles poderiam fazer ótimos roteiros de filmes de suspense.

quinta-feira, 24 de julho de 2014

Saúde brasileira está doente há tempos




Fechamento é tragédia anunciada do caos da saúde pública no Brasil


Luís Alberto Alves

 Nesta semana o pronto-socorro da Santa Casa de São Paulo, um dos maiores hospitais filantrópicos do Brasil, fechou suas portas por falta de condições técnicas para atender a população carente e reaberto hoje (24) após injeção de R$ 3 milhões do governo estadual. Segundo a administração, a dívida da Santa Casa gira em torno de R$ 400 milhões, além de R$ 50 milhões com fornecedores.

 Não é novidade o que aconteceu. Há muito tempo a Saúde está doente no País. Profissionais se deparam com falta de materiais básicos, como seringas, luvas e medicamentos para primeiros socorros. Existem casos de pacientes mortos por causa da ausência de remédios enquanto está internado.

 Nos finais de semana em São Paulo, metrópole com 12 milhões de habitantes, virou rotina hospitais telefonarem para a Polícia Militar e Corpo de Bombeiros alertando para que não tragam pacientes, pois eles não serão atendidos por falta de condições técnicas. Mesmo casos banais como linha de sutura de cortes às vezes sumiu do estoque e não foi reposta devido à ausência de dinheiro em caixa.

 A má administração provoca a saída de bons profissionais na busca de melhores salários e condições ideais para exercer a função. Isto ocorre de médicos a enfermeiros, técnicos de radiografia, assistentes sociais entre outros. O ato extremo de fechar o pronto-socorro da Santa Casa deve ser entendido como o “fundo do poço” da saúde pública.

 Infelizmente o governo, tanto na esfera municipal, estadual e federal, pouco fazem para resolver o problema. Parece que existe o interesse de manter a população doente, visando evitar críticas à gestão. Nas diversas regiões da capital paulista onde há hospital público estadual, a mesma situação ocorre. Corredores cheios de pacientes, amontoados em macas, alguns deitados no chão e outros a espera de atendimento.

Em diversos hospitais do País os pacientes ficam amontoados pelos corredores

 Fazer exames como ultrassom ou que exijam grande complexidade é exercer a paciência ao limite. Espaços na agenda variam de três meses a um ano, quando se trata de casos de próstata. Com 200 milhões de habitantes, o Brasil tem apenas 376 aparelhos de radioterapia destinados aos pacientes que desenvolveram câncer e requer esse tipo de tratamento.


 Numa avaliação superficial parece que existe o propósito de sucatear a rede pública de saúde para empurrar a maioria da população aos braços dos hospitais privados, onde qualquer atendimento é pago. Quem não tiver dinheiro morre. Como ocorreu com um vigilante que perdeu a vida no portão de um hospital particular na Zona Leste de São Paulo. Passando mal, os funcionários do local informaram que ele não poderia ser atendido, só na rede pública. 

terça-feira, 22 de julho de 2014

A agonia de procurar um dependente químico nas ruas




Ônibus da Guarda Civil Metropolitana, de São Paulo, parado na Cracolândia, onde drogas transformam vidas em farrapos

Luís Alberto Alves

 Durante alguns dias o editor deste blog, Luís Alberto Alves, sentiu na pele o desespero de procurar um dependente químico pelas ruas de São Paulo. Com nomes fictícios para preservar a família do jovem desaparecido de casa há 30 dias, a saga começa pela Baixada do Glicério, região central da cidade, a poucos metros da estação Dom Pedro do Metrô. Antes eles fizeram varreduras em hospitais e necrotérios. Nada encontraram.

 Ainda fazendo bastante calor, acompanhei os familiares da vítima desta terrível droga chamada crack. O carro anda em marcha lenta para facilitar a visualização de adolescentes, jovens e adultos, maioria homens, reunidos num terreno baldio embaixo de dois viadutos que terminam na Avenida Rangel Pestana.

 Iludidos pela rápida sensação de alívio proporcionada pelas pedras deste entorpecente, eles não se incomodam mais com a sujeira do local onde dormem, urinam e defecam. O forte odor arde as narinas. Semelhantes a zumbis, o olhar perdido fixam em mim e nos parentes da pessoa desaparecida.

 Após alguns minutos saímos e entramos nas ruas da Baixada do Glicério, bairro dominado pelo crime organizado. Perto da igreja católica e do quartel do Corpo de Bombeiros daquele bairro, se misturam haitianos e africanos. Nas mãos de alguns deles é possível ver papelotes de cocaína e pedras de crack.

                                                           Prazer

 De vidros erguidos, passamos novamente em marcha lenta até encontrar uma rara blitz da PM no local. De arma na mão, o soldado nos olha assustado e entramos em outro beco. Nada encontramos. Apenas mais miséria e farrapos humanos sentados nas calçadas interessados apenas na próxima carreira de cocaína ou fumar a minúscula pedra na busca do prazer que rapidamente passará.

 Entramos no bairro do Cambuci e subimos a rua que atravessa a Avenida Conselheiro Furtado. Outra cena horrível: vários homens e algumas mulheres, imundos, inclusive com os cabelos sujos, se drogam livremente. Devagar olhamos cada um deles, mas quem procuramos não se encontra ali.

 Após alguns minutos já estamos na Cracolândia, no quadrado formado pela Praça Júlio Prestes, Largo Coração de Jesus e Praça Princesa Isabel e antigo prédio do Deops, temível lugar onde muitos presos políticos foram torturados e mortos durante o Regime Militar. Ali a miséria humana aparece de forma assustadora. De bermudas ou sem camisa, os viciados não têm nenhuma preocupação com os policiais da Guarda Civil Metropolitana montando guarda ao lado do ônibus da corporação.

 Paramos o carro, olhamos atentamente para cada homem ou mulher. O casal, pai do dependente químico desaparecido, averigua cada detalhe, mas infelizmente nada de positivo acontece. Apenas decepção após várias horas rodando por diversas ruas da capital paulista sem obter nenhum resultado positivo.

                                                           Periferia

 No dia seguinte o itinerário muda. Em vez do Centro, deslocamos para a periferia de Santo Amaro. A busca começa no início da tarde e termina após a meia­noite. Andamos em marcha lenta por praças e ruas estreitas daquela região. A mesma cena volta a se repetir, com inúmeros drogados, de olhar perdido e quase sem vida, alojados nos bancos, interessados apenas no prazer maligno do entorpecente.

 O casal tenta aparentar calma, mas é visível nos gestos e tom de voz o nervosismo e tensão. Cada pessoa sentada ou deitada na porta de estabelecimento fechados ou mesmo abandonados pode representar o alívio daquela busca. O cansaço chega rápido, por causa das subidas e descidas em ruas esburacadas e algumas sem boa iluminação.

 São horas olhando em diversas direções, com a boca seca castigada pela sede e a fome torturando o estômago. Num contato feito com Pms de uma base, a resposta de estímulo é humilhante: “distribua a foto, porque um pai fez isto nos quatro anos de procura do seu filho”. De forma subliminar o policial está dizendo que será difícil encontrar o desaparecido.

 Mas o pior estava por vir, quando nos deparamos com um homem, aparentando mais de 30 anos, que dizia saber onde se encontrava a pessoa que estávamos procurando. Dopado ele falava palavras desconexas. Nos levou a uma casa, ponto de venda de drogas. A pessoa não estava lá.

                                                         Madrugada

 Paramos, numa praça, de madrugada, e começamos a conversar com o suspeito. Transpirando bastante, tenta nos levar para outro ponto de droga. A proposta é recusada por ser local muito perigoso. Os nervos dos pais da pessoa desaparecida estão à flor da pele. Nesta hora, o sono, fome, sede e cansaço castigam o corpo. A mente não consegue mais decodificar facilmente todas as informações.

 Logo descobrimos outros locais, em bairros próximos ao Aeroporto de Congonhas, Zona Sul paulistana, que passa a esperança de encontrar o dependente químico tão procurado por todos nós. Mas o sono e as dores no corpo nos vencem e retornamos cada um para sua casa.

 Quando se vai atrás de alguém sumido por causa das drogas, qualquer ligação que chega ao celular é vista como tábua de esperança. Assim como pessoa que tenha traços parecidos ou mesmo jeito de caminhar. Por maior que seja a dificuldade, a esperança acaba ganhando destaque. No início de cada busca, a mesma frase aparece na boca: “hoje, com ajuda de Deus, vamos ter bom resultado”.

 Na busca pelo veneno que proporciona pouco tempo de prazer, descobri que os dependentes químicos viram andarilhos. Saem da Zona Norte e vão à Zona Sul ou do Oeste para Leste. Não dormem durante a noite. Reserva este período para se entupir de entorpecentes. Não raro sofrem overdose. Procuram cochilar no começo da manhã.

                                                       Mentira

 Para conseguir dinheiro mentem bastante. Entram nos ônibus, para pedir dinheiro. Inventam história de que a mãe ou pai está doente e precisa daquele valor para comprar remédio. As mulheres repetem o mesmo gesto. Tudo é válido para garantir a compra da pedra maldita. Entre os drogados nunca falam seus nomes verdadeiros, mas utilizam apelidos.

 As pontas dos dedos ficam escuras por causa das queimaduras ao segurar o cachimbo, feito de lata de bebida onde a pedra do crack é acesa. Os dentes, dependendo do uso prolongado, começam a apodrecer rapidamente. Aos poucos a dignidade some. As roupas ficam sujas, os pés escurecem com o pó do asfalto, o corpo passa a exalar mau cheiro de urina e fezes.

 O estágio final de alguém mergulhado no vício do crack é trágico. Numa das vezes me deparei com uma jovem diante da Catedral da Sé, maltrapilha, descalça e bem magra. Logo ouvi alguém dizer: “essa menina era linda quando chegou aqui. Princesa. Agora virou farrapo, lixo. Ninguém nem mais olha para ela”.

 Como profissional de imprensa, onde estou há 30 anos, percebi o quanto é difícil para os pais de alguém drogado suportar a maratona de  carro ou a pé, aquele ente querido seqüestrado pelo vício. A tortura do telefone celular não tocar trazendo a boa notícia ou mesmo a porta da casa se abrir, com ele retornando para ficar e nunca mais sumir. Infelizmente a droga castiga profundamente o dependente químico e seus familiares.




sexta-feira, 18 de julho de 2014

Você é formiga ou cigarra?



Formiga gosta de trabalhar...

E a cigarra de lazer

Luís Alberto Alves

 Na vida existem dois tipos de pessoas: formiga ou cigarra! A primeira gosta de trabalhar constantemente. Nunca perde oportunidade. Não desperdiça o tempo com futilidades. Dentro da empresa é pontual. Raramente falta. Procura conhecer a rotina do local nos mínimos detalhes. Não é puxa saco, mas está atenta aos acontecimentos. Quando abre qualquer vaga para curso de requalificação é umas das primeiras na lista.

 A formiga não fala mal do emprego. Reconhece os erros da administração, porém guarda para si. A rádio peão dificilmente irá conseguir obter qualquer tipo de informação dela. É fiel ao patrão. Faz o melhor. Caso precise fazer qualquer crítica, vai deixar todos saírem e a sós com o chefe ou diretor colocará os pontos negativos naquele ambiente. Porém de forma construtiva. Não é feitio de a formiga atirar contra o próprio pé.

 Estas pessoas acabam sendo bem-sucedidas na vida profissional. Ficam vários anos no trabalho e quando mudam é para algo melhor. Não descem, mas lutam para subir. Investem na sua formação. São avessas a modismos. Desconfiam de discursos, sejam de qualquer tipo. Práticas e realistas acreditam no que está diante dos seus olhos. É bem difícil dar um passo sem estudar criteriosamente a situação, em diversos ângulos. Seus olhos estão bem abertos sempre.

 Racionais, raramente são pegas pela emoção. Às vezes tomam decisões consideradas não politicamente corretas, porém visam o futuro. Ou seja, para ficar com todos os dedos das mãos, oferecem os anéis, mesmo que sejam de grande valor. Participam das rodinhas de colegas nas confraternizações de final de ano onde trabalha, porém controla a boca para não falar besteira.

 O clima de festa é bem administrado pela formiga. Tem consciência da rapidez daquele momento. Algo igual orvalho molhando a relva. Após os primeiros raios do sol, logo se dissipa. De visão aguçada, enxergam o futuro. Numa empresa têm a postura de alguém interessado em cargos estratégicos e de boa remuneração. Migalhas não satisfazem as formigas. Gostam de bonança e a garantia de um futuro melhor.

 A cigarra é oposta da formiga. Leva a vida na flauta. Tudo é diversão. Até o trabalho não é considerado essencial. Na carteira profissional são visíveis os diversos empregos por onde passou. Alguns até por pouco tempo. Detesta rotina. Considera camisa de força prestar serviço vários anos no mesmo local.

 Foge dos cursos de requalificação profissional. Sempre luta por algo futuro. Igual o cão correndo atrás do próprio rabo. Às vezes presta vestibular para cursos sem qualquer conexão com suas aptidões. Adora ficar na multidão. Gosta de ser vista e bajulada. O êxtase da cigarra é ver todos ao seu redor, comentando as qualidades dos talentos, que inconscientemente despreza.

 Não perde tempo em descer a madeira nos executivos administradores da empresa onde é funcionária. Seja no bar ou café de corredor. Qualquer detalhe é motivo para desforra. Nas festas de final de ano, alcança o auge quando começa discursar e percebe que virou alvo da atenção de todos.

 Cigarra detesta estudar ou trabalhar a sério. Procura viver o presente intensamente. O futuro nunca merece atenção. Seja sentimentalmente ou profissionalmente. Dinheiro é algo que some rápido da conta corrente. Não investe em caderneta de poupança. É ávida para conhecer o Exterior. Caso esteja animada demais pede a demissão e vai viajar, sem qualquer preocupação com o retorno. Gosta do momento.


 Porém a vida reserva duas surpresas para pessoas que se comportam como cigarra ou formiga. A primeira dificilmente escapará da miséria no final da vida ou irá morar de favor com algum filho, caso não acabe no asilo ou na rua. A segunda terá bom futuro. Trabalhou duro na juventude e vai desfrutar uma velhice amparada no conhecimento adquirido durante a caminhada. Talvez até fazendo free­lancer de consultor, ganhando em poucos dias, o que muitos precisam suar a camisa para obter num ano. Dificilmente será adotada pela miséria. Terá um lar e uma boa família ao seu redor.

terça-feira, 15 de julho de 2014

MMA: projeto de lei regulamenta barbárie nos ringues




O MMA trouxe para atualidade a barbárie existentes nas lutas de gladiadores da época do império romano

Luís Alberto Alves
 O que era ruim ficou pior: a Assembleia Legislativa de São Paulo aprovou o Projeto de Lei 767/2013, autoria do deputado Leandro KLB, dispondo sobre regulamentação do exercício e autorização de eventos de MMA (Artes Marciais Mistas do inglês Mixed Martial Arts). Para quem adora ver sangue jorrando do rosto de lutadores, essa Lei mais parece prato com bife mau passado.
 Já virou rotina na televisão assistir ao show de pancadaria oferecido pelos simpatizante desta nova forma de gladiadores, que na época do Império Romano entravam nas arenas e saciava a vontade da plebe ao tirar a vida do adversário a socos e golpes de bastões, espadas ou maça (bola cheia de pregos). Quando sangue jorrava do rosto do pobre infeliz, o público vibrava nas arquibancadas e o governante prosseguia no mandato, pois a sede de rebelião era aplacada.
 Hoje, a arena é visualizada por milhões de telespectadores. O cidadão pacato do escritório, no sofá de sua casa esmorra a mesa, grita e torce para um dos lutadores de MMA acabar com o outro. Quanto mais desfigurado ficar o seu corpo, melhor é o espetáculo. Apesar dos desmendidos dos organizadores, é algo sem regras, visto que o adversário em desvantagem, mesmo caído, continua recebendo golpes até ficar desfalecido. Isto não ocorre no boxe.
 O MMA mistura diversos tipos de artes marciais, como boxe, jiu-jítsu, karatê, judô, muay thai. Mas a bárbarie é a mesma: é preciso bater no oponente para a plateia ver o sangue jorrar do corpo dele. Seria a válvula de escape para uma parcela da população que defende o extermínio como política de segurança pública. A velha máxima de que bandido bom é criminoso morto, enterrado de pé, para não tomar lugar no cemitério. Algo doentio.
 O MMA passa a mensagem subliminar aos adolescentes e jovens de que as diferenças de ideias devam ser resolvidas na truculência, socos e ponta pés. A força precisa deixar em segundo plano o diálogo. Isto já fica visível na rebelião dentro dos lares, com vários filhos enfrentando os pais quando contrariados nos seus desejos.
 Nosso mundo precisa de paz, não de regularmentação do instinto de violência. Mas o que esperar de um governo responsável pela adoção de política de segurança pública, onde os moradores da periferia são tratados como foras da lei? Gestão que coleciona elevado número de mortos pela polícia, sem qualquer tipo de prova revelando a ligação da vítima com o crime, só pode sentir prazer neste tipo de luta.
 O MMA ajuda saciar a sede de sangue do governo preocupado apenas na defesa da elite, esquecendo da maioria da população composta de cidadãos honestos e trabalhadores. O erro deles é morar, por falta de condições financeiras, na periferia. Ali, infelizmente a polícia considera todos suspeitos, mesmo alguém sem qualquer ligação com criminosos. É bem provável que o governador Geraldo Alckmin (PSDB) sancione essa bárbara lei. Infelizmente!


Mistura indigesta: políticos e empresários de futebol na CBF




Atual presidente da CBF, José Maria Marin defendeu o Regime Militar na década de 1970


Luís Alberto Alves

 Para a Seleção Brasileira voltar a brilhar nos gramados, é preciso mudança radical na CBF: higienizar a entidade de políticos e empresários de futebol. Há muitos anos que ela virou cabide de emprego de pessoas sem qualquer conexão com a rotina esportiva. Sem medo de errar, seus dirigentes não sabem nem chutar uma bola ao gol. Nunca calçaram chuteiras, apenas sapatos bem engraxados para circular nos corredores e gabinetes do Congresso Nacional.

 Não adianta trocar a comissão técnica e manter os tristes hábitos de condução do futebol brasileiro, com vários times à beira da falência por causa de péssima gestão e reféns de diretorias preocupadas apenas em aparecer na vitrine para ganhar ou se manter em cargos nos governos estaduais ou federais. Conscientes do amor da população pelo futebol aplicam mensalmente a política do pão e circo, para desviar a atenção do povo para os graves problemas enfrentados pela nação.

 Infelizmente políticos agem de forma parecida com as garotas de programas: gostam de pessoas endinheiradas e de quem possam tirar proveito. Todo clube no auge da saúde financeira e colecionador de títulos vai atrair interesseiros deste tipo. Quando mergulha no lodo das dívidas e queda nas tabelas, e até rebaixamento, são abandonados, assim como os ratos fazem com o navio afundando. Exemplo disso é o São Caetano, do ABC paulista, que no começo dos anos 2000 chegou a disputar final da Libertadores da América.
Fleury, delegado torturador, elogiado por Marin


 Não quero defender Felipão e sua comissão técnica. Ele teve parcela de culpa na gestão da Seleção Brasileira, mas o problema é mais profundo. É igual doente que só ingere anestésico sem avaliar a causa das dores. Nosso time estava tomando esse medicamento há muito tempo. Os torcedores ficaram iludidos com a conquista da Copa das Confederações. Caíram na cilada de que a conquista do Mundial seria fácil. O resultado todos sabem.

 Saiu o mafioso Ricardo Teixeira e entrou outro pior: José Maria Marin, vice governador de São Paulo na década de 1970 e cachorro de estimação do Regime Militar. Aliás, partiu dele o elogio público ao delegado carniceiro Sérgio Fleury, autor de inúmeras mortes de presos políticos através de suas mãos de terrível torturador. Uma vez lobo, lobo sempre.

 A estrutura futebolística brasileira está podre. Se cobra resultados, mas sem qualquer investimento nas categorias de base. Da fortuna arrecadada pela CBF, pouco sobra para os clubes que fornecem seus jogadores para a Seleção. Na outra ponta estão interesseiros empresários de futebol, afinados com a nata podre da CBF. Fazem lobby constante para colocar seus atletas nas seleções, visando o brilho da vitrine para futuras vendas ou até negociação de caríssimos contratos.

 Muitos deles tomaram de assaltos vários clubes, enfiando goela abaixo dos técnicos a escalação de suas estrelas. Para apimentar mais a parceria, juntaram forças com investidores, que só entendem de dinheiro, e o que era ruim ficou pior. Atualmente existem jogadores que chegam à Seleção sem qualquer condição técnica de vestir a camisa canarinho.

 É muito raro encontrar atletas de outros estados no time. Sempre estão ali jogadores atuantes em São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Rio Grande do Sul. Parece que no restante do Brasil ninguém pratica mais futebol. Essa panela continua cozinhando o mesmo arroz há décadas. Caso o presidente da federação daquele estado esteja afinado com a CBF, ocorre o chamado do contrário nunca aparecerá na lista dos escolhidos.

 Atualmente temos uma seleção de cores multinacional: maioria é proveniente de equipes estrangeiras, caso do atacante Hulk, que joga na Rússia. Presta-se mais atenção aos brasileiros atuando no Exterior, do que naqueles ainda em clubes do Brasil. A desculpa é que o futebol internacional evoluiu. Concordo. Então a qualidade dos nossos craques caiu? Não! Continuamos a produzir bons jogadores, faltam oportunidades. Hoje quem passa nas peneiras é o afilhado do diretor, não o menino calçando chuteiras rasgada e magro, mas bom de bola.

 Enquanto imperar a mentalidade tacanha de usar a Seleção Brasileira para fins políticos e massa de manobra para iludir a população, desviando sua atenção dos graves problemas ainda existentes em nosso país, correremos o risco de ver outros times ganharem a Copa do Mundo. Aliás, eles aprenderam a se organizar. Investiram dinheiro na montagem de boa infraestrutura. Proporcionaram condições para que a comissão técnica pudesse trabalhar, sem a ingerência de dirigentes interessados apenas na manutenção de cargos políticos, para continuar bebendo leite na mamadeira do governo.