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segunda-feira, 7 de julho de 2014

Hipocrisia é a marca registrada da nossa sociedade



A moradora de rua deitada no jardim desmente a frase escrita na mureta

Luís Alberto Alves

 A hipocrisia é a marca registrada da nossa sociedade. Várias pessoas usam capa de bondade, mas o coração está cheio de maldade. São como, disse Jesus Cristo, túmulos: bonitos por fora e repleto de impurezas por dentro. Interessados por marketing, artistas, atletas e até alguns empresários aparecem nas entrevistas ostentando a pose de simpatizantes da redução das desigualdades, ainda marcantes no Brasil. Tudo mentira.

 Em várias conversas mantidas por mim com moradores de ruas, descobri que gangues de filhinhos de papai saem pela madrugada, talvez no retorno das suas intermináveis festinhas, agredindo mendigos que dormem nas calçadas ou mesmo no gramado das praças. Alguns usam spray de pimenta para borrifar nos olhos daqueles que foram adotados pela miséria.

 Como estamos na época do politicamente correto, virou chavão personalidades famosas fazendo discursos bonitos, alguns tão intensos que tocam o coração, ajudando as lágrimas a escorrer dos nossos olhos. Caímos na ilusão de que o mundo está ficando bom. Engano! Ele continua cada vez pior.

 Há poucos meses vestimos roupas surradas e calçados sujos e ficamos sentados nas escadarias da Catedral da Sé, um dos pontos turísticos de São Paulo. Eu e minha noiva sentimos na pele o peso da discriminação. Juntos e de mãos dadas, as ditas pessoas do bem saiam do interior da igreja e procuravam ficar distantes de nós. Nenhuma se aproximava. Logo um clarão se instalou no local onde estávamos.

 Percebi que as histórias dos moradores de rua não são obras de ficção. Pior é acontecer algo assim para alguém que acabou de sair de um tempo onde acabou de ouvir a Palavra de Deus. Hipocrisia. Ali dentro todos são cordeiros, porém ao voltar para o mundo exterior, os lobos mostram as garras.

 É fácil pregar o amor aos amigos, sentados numa mesa de bar repleta de bebidas e deliciosos salgadinhos. Difícil é fazer o mesmo com aqueles ignorados pela vida ou mesmo azar de parar nas ruas após perder a família ou mesmo a razão para viver. São pessoas sujas pela poeira e fumaça dos escapamentos dos carros, das roupas que não conseguem lavar regularmente e do lixo, onde passam a procurar o sustento.

 É lindo o apresentador de televisão gritar que é contra os maus tratos praticados contra mendigos, mas que dentro de sua casa é verdadeiro carrasco no relacionamento com seus empregados, os sujeitando a estafantes jornadas de trabalho, sem direito a folgas no final de semana.

 Mais constrangedor são personalidades famosas não praticarem o que falam nas entrevistas. Afinal de contas vivem num mundo onde a palavra miséria é insulto e fome é palavra criada por agitadores interessados na adoção de regime totalitários.
 A imagem real das ruas desmente que o Brasil seja um país sem discriminação. Mentira. Ela existe. A moradora de rua deitada numa praça, esquina das ruas Tomaz Carvalhal com Cubatão, Paraíso, região da ainda endinheirada Avenida Paulista, desmente a frase escrita na mureta.

Quando fiz essa foto, várias pessoas olhavam de seus carros luxuosos para mim, que numa manhã de domingo me preocupei com aquela pobre mulher. Um casal passou por mim a passos rápidos, tentando sair rapidamente do local. Para eles, a mendiga era apenas um “lixo”. Talvez em suas mentes, eu estaria fazendo algo completamente inútil.

 Na cabeça deste tipo de gente, morador de rua polui a imagem da cidade. Precisariam ser retirados para locais distantes. São vagabundos. Alguém que pensa assim nunca se preocupou em ouvir as histórias dessas pessoas. Quais motivos os levaram para distantes de suas casas e até o abandono de suas famílias. Como solução, adotam a triste limpeza adotada por Hitler antes da Segunda Guerra Mundial: matar.

 Cada vez que passamos diante de um mendigo e sentimos nojo dele, estamos alimentando em nosso coração o desejo de uma sociedade livre de impurezas. Inconscientemente adotamos o discurso raivoso de que os desiguais devem ser banidos da terra. Para isso a máscara do amor continua guardada na bolsa ou na roupa cara de grife, usada em ocasiões especiais, onde as garras de lobo ficam escondidas. Sociedade hipócrita! Cada vez mais se parece com os túmulos de cemitério: lindos por fora e imundo por dentro!



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