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A Ineficiência do Gasto Público

    Pixabay Radiografia da Notícia *  Por definição, a eficiência do gasto público é menor do que a do gasto privado *  Logicamente num regi...

segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

Final de ano exige autocrítica



Olhar para o interior ajuda corrigir posturas erradas na vida

Luís Alberto Alves

 Mais um ano chega ao fim. São poucas as pessoas a fazer autocrítica. Olhar para dentro de si para compreender as razões vitórias e derrotas. Muitos preferem se encher de comida e bebida. Agem como se o mundo estivesse próximo do fim. Sem qualquer raciocínio crítico. Guardam o combustível errado para repetir os mesmos erros em 2015.

 É importante refletirmos sobre nossas decisões. Tirar lições em cima dos fracassos, visando encontrar ferramentas úteis para usar na estrada rumo ao sucesso. É igual casamento fracassado. Qual motivo contribuiu para ruína daquele relacionamento matrimonial? Não há incompatibilidade de gênio, conforme gostam de apresentar perante o juiz diversos advogados, para requerer o divórcio.

 Desde o namoro, é impossível alguém contrário gostar de outra pessoa. Água não combina com fogo. É latente nas posturas e modo de agir. Só tremendo idiota vai descobrir após o casamento que não existe entrosamento, ou seja, a tão falada incompatibilidade de gênio. Falta é analisar os pontos de convergência e divergências. Caso essa segunda prevaleça, é melhor pular do barco. É o mesmo de tentar unir cachorro e gato embaixo do mesmo teto.

 Qual razão impede de se fazer autocrítica? Talvez orgulho. Muitos não aceitam olhar e perceber o quanto são errados, hipócritas e mesquinhos. Preferem olhar o lado bom. Desconhecem que as más posturas ajudam na correção. Motorista velocista aprende através das salgadas multas e cassação da carteira de habilitação que é preciso obedecer às regras do trânsito. Entendem, por meio da punição, a loucura de resistir neste tipo de afronta às leis.

 A vida profissional exige exame crítico. Trabalhadores de vários setores cometem erros infantis e amargam nas filas dos desempregados. Se você é muito nervoso, tem língua agitada, não consegue ficar sobre o muro; pode ter certeza que irá sofrer bastante. São poucas as boas empresas para candidatos deste estilo. Ou quase nenhuma.

 Você já se perguntou qual o motivo para a perda do último trabalho? Chegava muito atrasado, faltava várias vezes ao mês, falava mal dos patrões, ofendia os colegas, perdia tempo nas redes sociais? Era competente? Fugia de encrenca? Era pontual? Enfim qual razão de sair da empresa após tantos anos de dedicação?

 O ano tem 12 meses. Tempo suficiente para se fazer obra de gênio e burrada. Alguns perdem trimestres envolvidos em futricas. Esquecem do alvo fixado na madrugada de 1º de janeiro. Igual alcoólatra jurando de pés juntos o abandono da bebida. Mas no dia seguinte é flagrado com copo de cerveja nas mãos.

 Não é bom gastar tempo em besteiras, artifícios que vão te levar ao buraco, caso insista neles. Semelhante má amizade, sem trazer nada de útil à vida, o melhor é descartar. Partir para o que é bom. Qual razão de gastar várias horas num curso que pouco vai acrescentar ao currículo? Só por status? Errado. O ideal é centrar fogo naquilo que aumentará o valor agregado na tua caminhada profissional.

 Só existe alguém que te conhece profundamente: você! Agora é o momento de separar algumas horas, de preferência de manhã, talvez ainda na cama, após acordar e colocar a mente em funcionamento. Separe o joio do trigo. O que deu certo e errado. Quais motivos influenciaram no sucesso e fracasso. Invista nos pontos positivos. Não perca tempo nos dados negativos. Se teu nervosismo ajudou impedir promoções no trabalho, o ideal é entrar no time dos calmos. Porque o pavio curto só te prejudicou.

 Às vezes olhamos para o sucesso alheio e nos questionamos: por que ele deu certo e eu continuei a ver navios? Esquecemos de pesquisar os pontos bons daquela pessoa. Em situações de pressão, age com moderação, segura a língua, fica de espírito desarmado, prefere ouvir e ficar calado. Não sai socando e gritando na primeira estocada. Só observarmos o lado bom, sem a preocupação de saber como ocorreu aquela conquista.

Na vida nada chega as nossas mãos facilmente, exceção aberta a porcarias. Cargos bem remunerados exigem sacrifícios e muito conhecimento. Casamentos felizes andam de mãos dadas com renúncias de ambos os lados. Diálogos são constantes. Não existem decisões unilaterais, onde só um manda e o outro abaixa a cabeça. Mesmo em meios a discussões, prevalece o bom senso.

 Para termos boa vida, é importante abrirmos mãos do veneno que pode estar nos matando há vários anos. Não é legal odiar o próximo. Até na hora do enterro precisamos de alguém para segurar na alça do caixão. O ser humano não é ilha. Caso esteja sem falar com alguma pessoa há muito tempo, procure restabelecer a relação, principalmente agora em época de rede social. Não crie inimigos, se possível adversários. Saia da caverna. Mostre a cara em público. Recuse o radicalismo como estilo de vida. Ele vai te isolar no mundo.


 Assim você conseguirá ter um ano­novo sempre. As pessoas gostarão de ficar ao teu lado. Vão lhe procurar, até na busca para conselhos. Quando estiver pisando nos espinhos, encontrará alguém para lhe ajudar. Quando cultivamos o bem, reduzimos bastante o espaço do mal. Pode enfrentar surpresas ruins, mas conseguirá ficar por cima. Porém tudo começa com o exame do seu interior. Aproveite parte desta quarta­feira (31) para fazer isso. Teu coração e mente agradecerão.

O tempo não espera ninguém




O tempo é implacável na sua caminhada pela nossa vida


Luís Alberto Alves

 O tempo é radical: não espera ninguém. Prossegue na sua caminhada rumo ao futuro, desprezando choro, lamento e indecisões. Infelizmente diversas pessoas se esquecem de fazer o correto. Concentram energias em picuinhas, na procura de pelo em ovo. Quando abrem os olhos, já não existem dias ou meses para recuperar o que perderam.

 Quando somos jovens imaginamos que temos todo o tempo do mundo para concretizarmos nossos caprichos. É a hora de desprezar conselhos, principalmente dos pais. Afinal de contas existe a impressão de que a força nunca chegará ao fim. Pelo contrário, aumentará com o passar dos dias.

 Perdemos tempos nos relacionamentos “Titanic” ou mesmo em emprego que não trará nada de bom no campo profissional. Poucos conseguem visualizar o horizonte adiante. Após os 25 anos, os meses voam. Para muitos é começo do auge no segmento onde resolveu atuar. Logo chega os 30 anos. Sessenta meses depois a barriga insiste deixar o cinto mais apertado, caem os primeiros fios de cabelos e as cáries pipocam nos dentes.

 Nesta altura do campeonato, muitos já se encontram casados e com filhos para criar. Tudo passa a ter sentido. Inclusive o dinheiro gasto nas brincadeiras fúteis, drogas e bebidas. Não demora e logo chegam os 40 anos. Sinônimo do começo da geladeira profissional para alguns segmentos empresariais e ápice do conhecimento para outros.

 Para espantar diversas doenças, principalmente do coração, e manter sob controle a pressão e longe do diabetes, ocorrem as visitas freqüentes às academias, caminhadas e corridas nos parques e até no circuito de ruas. É a época dos 50 anos, quando definitivamente as ilusões ficaram para trás.

 Nessa época o tempo anda rápido. Aumenta o grisalho dos cabelos, os dentes começam a perder a força de morder os gostosos pedaços de picanha e chuleta. As pernas, nas curtas corridas e até no futebol de final de semana, insistem na desobediência ao cérebro. Subir vários degraus de escadas é tormento.

 A barreira dos 60 anos é rompida. Nesta altura do campeonato, os netos já são adolescentes. Amante das músicas barulhentas e de letras terríveis bate a saudade da década de 50 ou 60, de Beatles, Rolling Stones, Otis Redding, Tom Jobim, Vinícius de Morais, Elis Regina, Gilberto Gil, Jorge Benjor, Festival de Woodstock, Brasil tricampeão no México, Elvis Presley, Ritchie Valenz, Bill Halley, o Santos de Pelé e Coutinho, o Botafogo de Garrincha e Nilton Santos, o Palmeiras de Ademir da Guia e Dudu, o Flamengo de Zico, o Internacional de Falcão, o Guarani de Campinas de Zenon e Cia...


 Após os 70 anos tudo é lucro. Dependendo das extravagâncias da juventude ainda é possível manter acessa a chama do amor junto da esposa. Claro, não com o ímpeto dos 18 anos, mas marcando presença no campo. Filhos e netos criados, aposentadoria (mesmo pouca) caindo na conta mensalmente, e a certeza da missão cumprida. Caso seja intelectual, poderá continuar escrevendo, escorado na experiência das várias décadas de vida. Época em que tudo vira filme, reprise das ousadias cometidas décadas atrás. Mas na sua memória. Valeu a pena viver intensamente, sem perder a velocidade das águas do rio do tempo.

sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

Ditadura do celular



Tecnologia sofisticada que aproxima e afasta pessoas

Luís Alberto Alves

 Hoje milhões de pessoas são reféns da ditadura do celular. Não conseguem sair de casa sem este telefone móvel. Mesmo no banheiro, sentados no vaso sanitário, ficam livres dele. Nos restaurantes, durante almoços em grupos, ou até mesmo ao lado de familiares, virou rotina as pessoas navegando na internet ou no wathsApp.

 As relações ficaram frágeis. É mais fácil falar com alguém que esteja no Exterior ou mesmo em outras regiões do Brasil, do que conversar ou prestar atenção ao que diz o filho, filha, marido ou esposa. O distante ganhou status de interesse. Quem está perto acabou de lado. Não  merece mais atenção.

 Nas reuniões de trabalho são regra os participantes ouvindo as instruções do chefe ou diretor, porém munido de celulares. Outro terror são os famigerados salfies. Nem mesmo velório escapa dele. Virou espécie de prova. É preciso se auto fotografar comprovando que esteve naquele local. Os jovens abusam de tudo. Alguns fazem selfies com o rosto inchado e olhos cheios de cera ao acordar.

  Infelizmente a mesma tecnologia que aproxima o parente distante, possibilitando envio de fotos e vídeos familiares, é usada para destruir as relações. Maridos e mulheres deitam, ambos de celular nas mãos. Em vez do carinho e até relação sexual, os dois preferem circular pela internet até o sono chegar.

 O trânsito já registra acidentes provocados por motoristas que conduziam o veículo, com uma das mãos e a outra usava para digitar no celular. É rotina o semáforo abrir, e o carro continuar parado. Motivo: as redes sociais ou o famoso whatsApp prendem a atenção daquele alguém, despreocupado com a imensa fila de veículos atrás de si.


 Por causa das inúmeras ferramentas existentes nos atuais celulares, desde jogos a aplicativos possibilitando baixar músicas, vídeos, livros e outras “guloseimas” eletrônicas, as pessoas viraram reféns deste aparelho. Agora tudo gira em torno dele. Como se fosse a peça mais importante da vida. É perigoso quando uma sociedade passa à condição de reféns de uma máquina, deixando em segundo plano as relações pessoais. 

Bandidos transformam Paraíso no inferno




Assaltos frequentes apavoram comerciantes e moradores da Rua Cubatão, Paraíso, região da Paulista

Luís Alberto Alves

 Por incrível que pareça, a Rua Cubatão, no trecho entre Tomaz Carvalhal e Rafael de Barros, virou o inferno. Os assaltos são freqüentes. Alguns comerciantes já tiveram de passar por essa triste experiência várias vezes. Até seqüestros relâmpagos de vítimas ocorreram.

 O mais curioso de tudo é que a poucos metros da Rua Cubatão mora o prefeito Fernando Haddad (PT). Alguns quarteirões abaixo está o 36º DP (Paraíso). Infelizmente os bandidos ignoram esse detalhe. Deitam e rolam aterrorizando lojistas, motoristas e pedestres.

 Na periferia diversas pessoas imaginam que numa região luxuosa igual a da Paulista, esteja livre de assaltantes. Não é verdade. A tática de moradores é redobrar o cuidado ao entrar nas garagens dos edifícios. Pois muitos ataques ocorrem nesta hora. Os assaltantes aguardam a abertura do portão para entrarem junto, invadir apartamentos e levar automóveis.


  Algumas vítimas não registram queixas no 36º DP, por causa do famoso “chá de cadeira”.  Outros imaginam que a polícia esteja interessada em resolver casos envolvendo personalidades famosas. Quando a vítima faz parte do time dos desconhecidos, o empenho cai a nível zero. Só não se sabe até quando os criminosos continuarão afetando a paz no Paraíso.

segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

Ex-gerente da Petrobras garante ter avisado presidência sobre corrupção




Segundo Venina, o esquema começou em 2008

Luís Alberto Alves

 A ex-gerente da Petrobras, Venina Velosa da Fonseca, revelou ontem (21) no programa Fantástico da Rede Globo, que avisou a atual presidente da estatal, Graça Foster, sobre irregularidades na empresa. Segundo ela, os problemas começaram em 2008 e todos seus superiores foram alertados. Mas, pelo visto, as denúncias caíram no vazio.

 Para mostrar que não estava blefando, Venina entregou seu computador pessoal à Polícia Federal, onde o disco rígido e demais informações serão periciados.

 Pelo que descreveu Venina, o esquema de corrupção na Petrobras é semelhante paciente num estado terminal, com todos os órgãos comprometidos. De acordo com ela, ocorria pagamento de serviços não prestados, de contratos que aparentemente estavam superfaturados. Nas negociações, o código ética da estatal acabava ignorado pelos supostos corruptos.

 De acordo com Venina, o primeiro a ser informado foi o então diretor Paulo Roberto Costa, que recentemente num processo de delação premiada, onde terá redução de pena, resolveu abrir o bico e contar como funcionava o esquema na Petrobras. Todas pessoas com poder para resolver a questão receberam avisos de Venina, até o presidente Sérgio  Gabrielli.

 Mas quando o esquema é forte, onde todos lucram com a corrupção, a regra é ignorar os avisos, quando partem de pessoas honestas. Infelizmente se percebe que a Petrobras esteve nas mãos de mafiosos, interessados apenas em arrancar dinheiro nas negociatas. O mais estranho nesta história é Graça Foster receber e-mail de Venina e permanecer calada, deixando a roubalheira prosseguir.

 Agora cabe à presidente Dilma Rousseff (PT), que já foi funcionária da estatal, tomar enérgicas atitudes para acalmar os acionistas, principalmente, e a opinião pública.  E todos os envolvidos neste crime devem ser punidos e confiscados os bens comprados com dinheiro sujo. Não vale é continuar fazendo discursos vazios, dizendo inexistir irregularidades naquela estatal. É o mínimo que devemos esperar de uma presidente da República comprometida com a ética.


segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

A postura radical da vida




Existe algo mais radical do que a morte?

Luís Alberto Alves

 Existe algo mais radical do que a vida. Na época do politicamente correto, onde se prega que é preciso ficar em cima de muro para não agredir a sensibilidade do próximo, o ato de viver rompe com esse paradigma. O é oito ou 80, não há meio termo, política de colocar panos quentes.

 Nos vários exemplos que irei citar, ficará visível o radicalismo existente em nossas vidas: não há meio doente ou sadio; ou é alguém com saúde ou atormentado pela doença. Você é bom da cabeça ou maluco, excluído da convivência da sociedade, internado num hospício.

 Em termos sentimentais o ser humano encaixa em dois perfis: feliz ou infeliz. Novamente a vida joga para escanteio os políticos do coração, que vivendo um fracasso, tenta passar a imagem de que a felicidade é moradora e parceria de todas as horas. As crianças detectam essa postura. Elas percebem rapidamente quando os pais não se bicam mais, mesmo quando o casal tenta fingir durante o almoço do final de semana que tudo está a mil maravilhas.

 A situação financeira é outro exemplo duro do radicalismo da vida: ou você tem dinheiro, mesmo pouco, ou não tem nada. São os extremos, onde o ser humano pode pender para miséria ou para conta de saldo verde no banco.

 Ou você mora, mesmo de aluguel, ou é militante do bloco dos sem tetos. Desconheço alguém que tenha moradia e goste de viver na rua, por achar bacana sentir frio, passar fome, sede e acordar de manhã com os jatos de água desferidos pelas mangueiras dos caminhões da prefeitura limpando as calçadas.

 Outra mostra mais cruel do radicalismo da vida é quanto à idade: é impossível, depois de velho, tentar esconder a idade. Alguém com 60 anos simular que tenha a metade dessa caminhada na estrada da vida. Os cirurgiões plásticos esticam a pele do rosto, mas se esquecem de fazer o mesmo nas mãos. As rugas delas mostram que o tempo já passou e muito.

 A resistência física mostra o quanto o radicalismo de nossa vida é cruel. Com 15 anos de idade, o vigor físico impera. O corpo do adolescente desconhece o frio, mesmo quando a temperatura está baixa. É possível ficar acordado a noite toda sem qualquer ameaça da sonolência. Não se tem medo de nada. Pelo contrário, o melhor negócio é entrar de cabeça em qualquer tipo de aventura. Aliás, o Serviço Militar é prestado aos 18 anos, para aproveitar o fogo dessa energia.

 Salvo raras exceções, os ossos estão fortes, principalmente os dentes, e restante do organismo respiram saúde perfeita. É quando a vida deixa bem clara sua postura nada política: ou você é jovem ou velho. Sem espaço para o politicamente correto, tipo: as pessoas idosas que são jovens e vice-versa.

 O tempo também joga no time dos radicais: ou você aproveita os bons momentos ou perde. Não há meio termo. Ou se acompanha o ritmo dele ou fica para trás, perdido pela estrada. Ele recusa lamentações: “Ah se eu tivesse feito aquilo ou agido de forma diferente”. Caro leitor, você perdeu o fio de miada. O cavalo da sorte passou arreado na tua porta e lhe esperou. Porém a preguiça impediu de montá-lo. Ele foi embora.

 Por exemplo: 2014 está chegando ao fim. É o mesmo mês de dezembro, porém em outro contexto. Você está mais velho, mais tarimbado pela vida e até com experiência maior. É outra situação. Talvez esteja num bom emprego ou mesmo sem trabalho algum. Mas percebeu que o tempo não lhe esperou. Continuou andando para frente. Ou você fica esperto e ágil para acompanhá-lo ou ficará para trás.

 A postura radical da vida é tão cruel que o ser humano fica diante de duas situações: ou está vivo ou morto! Mais duro ainda: caso seja defunto, logo o seu enterro, mesmo como indigente, o poder público vai realizar. A vida não admite, sequer, que os mortos continuem junto dos vivos. Ou você fica em pé ou deitado, ou é deficiente visual ou enxerga, ou é falante ou mudo, ou tem ouvido bom ou está no time dos deficientes auditivos, ou é bom ou mau, bonito ou feio, frio ou quente. Aliás, até Jesus Cristo disse que é melhor sermos quentes ou frios, porque o morno Ele vai vomitar.


sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

A rotina de um torturador no regime militar de 1964



Atual delegacia do Paraíso, na Rua Tutoia, abrigou o terrível centro de torturas DOI/Codi

Luís Alberto Alves


 De manhã o delegado *Márcio sai de casa, beija os filhos, a esposa e deseja que todos tenham ótimo dia. De terno cinza, camisa azul, e gravata estampada, sapatos pretos bem engraxados; entra na garagem e sai com o Opala 69, prata. Decorridos pouco mais de 40 minutos chega ao trabalho, na Rua Tutóia, bairro do Paraíso, região da Paulista, ou Zona Sul, para outros.

 Logo ao entrar tira o paletó, veste outra camisa surrada, pendura uma corrente com um crucifixo enorme no pescoço e enche os dedos de anéis. Fuma o tradicional cigarro Minister, que segundo a propaganda da então TV Excelsior, tem o sabor que satisfaz. Naquele endereço, onde hoje funciona o 36º DP, naquela época era o famigerado DOI/Codi, braço do Exército no trabalho de investigação de crimes cometidos por opositores ao regime.

 Com mais dois investigadores, fortes e truculentos, entra numa cela e retira uma jovem, aparentando 22 anos, branca, bonita, dentes lindos e olhos castanhos claros. “Vagabunda comunista! Agora vai dizer onde estão os outros terroristas. O endereço do aparelho (casa ou apartamento onde opositores do regime se reuniam ou moravam) e quem fornece as armas. Já te aviso para não se lembrar de Deus aqui dentro”, esbraveja o delegado, com o branco dos olhos avermelhando de ódio.
A terrível máquina de choque elétrico "pimentinha"

                                                          Crucifixo
 A presa se refugia no canto da cela, erguendo os dois braços tentando escapar dos dois homens que lhe segura as pernas e os braços e a sai arrastando para fora. “Hoje, você vai dizer tudo”, ameaça o delegado Márcio, batendo o crucifixo na cabeça da jovem. Segundos depois ela já está pendurada no pau de arara.

 “Tragam a “pimentinha” (máquina de onde saem os fios para liberar os choques elétricos) e enfia em todo buraco que existir no corpo dessa vagabunda, piranha, lixo humano”, orienta Márcio. Rapidamente a ordem é cumprida. Quando um pequeno cilindro de metal enrolado com fio é introduzido na vagina da detenta, o sangue começa a jorrar no chão.

 “Dá um nó na língua dela com o fio. Coloca outra ponta dentro da orelha e do nariz. Quero o alicate, porque hoje vou arrancar todas as unhas dessa infeliz”, esbraveja.

 Em questão de segundos o circo de horror começa o triste espetáculo. A manivela da “pimentinha” começa girar e logo libera a primeira carga de choque elétrico. A jovem joga a cabeça para trás e de sua boca começa sair espuma branca. Os glóbulos oculares parecem que vão explodir. O chão fica sujo de fezes e urina misturada com sangue.

                                                            Missa
 Um dos investigadores pega a palmatória e acerta vários golpes nas nádegas, sola dos pés e nos ombros. Tudo acompanhado de xingamentos e socos. “Terrorista de meia tigela. Quero os nomes? Onde fica o aparelho? As armas são fornecidas por quem? Sei que é o pilantra do Fidel Castro e os olhos rasgados da China quem estão por trás disso tudo. Fala! Preciso ir à missa hoje e não posso chegar atrasado”, grita o delegado.
Cadeira de dragão, outro aparelho de tortura

 Durante duas horas a vítima dos torturadores não abre a boca, apenas grita e urra igual cão ferido. Num desvario, um dos torturadores começa se masturbar e joga esperma na boca da jovem, enquanto prossegue a sessão de choques elétricos. Logo as orelhas delas mudam de cor, por causa das constantes faíscas que soltam dos fios. O mesmo ocorre no nariz.

 “Tira esse lixo da minha frente. Essa piranha não vai agüentar calada. Depois da missa, talvez eu passe aqui. Preciso dessa informação hoje”, diz o delegado. Ela é retirada da sala de tortura, cujas paredes estão salpicadas de manchas de sangue e forte mau cheiro de urina e fezes. De volta à cela, é jogada no canto. Começa a vomitar sangue pisado e a tremer. Um dos investigadores chama o delegado e mostra o que acontece. “Traz a palmatória para eu acabar com essa frescura”, grita Márcio. A suspeita leva diversos golpes nas costas, nádegas, palma das mãos e sola dos pés. Tudo acompanhado de gritos e xingamentos.

 A jovem desmaia, mas logo acorda quando dois baldes de água são jogados no seu corpo. Ela passa a tremer de frio e falar palavras desconexas e ranger os dentes, alguns deles quebrados pela violência das pancadas que sofreu no rosto. Agora já meio desfigurado.
                                                          Hóstia
 “Não podemos ter dó de comunistas. Eles não gostam de Deus. São adeptos de Satanás. Imagina esse pessoal tomando o poder aqui no Brasil. Até missa vão proibir. Ninguém terá mais direito de guardar imagem de santo em casa, nem muito menos comemorar o Natal, pois para eles Jesus Cristo nunca existiu”, explica o delegado para os dois investigadores do Dops (extinta Departamento de Ordem Política e Social, que funcionava ao lado da estação Júlio Prestes, hoje sala São Paulo).

 “Doutor, não posso nem sonhar com um negócio desses. Todo domingo eu tomo a hóstia na igreja perto de casa. Ali rezo 20 Salve Rainha e 30 Ave Maria, para me proteger desses animais”, responde o carcereiro, que carrega na lapela da blusa, uma pequena cruz de metal.

 Horas depois o delegado Márcio, acompanhado da esposa e dois filhos pequenos estão na igreja assistindo à missa. Ouve atentamente o sermão do padre, dizendo que Jesus Cristo foi o cordeiro enviado por Deus para retirar o pecado do mundo, quando morreu crucificado na cruz do calvário. Aperta as mãos da esposa, e a beija carinhosamente no rosto. “Você é a mulher mais linda que conheço. Minha vida, meu doce amor”, declara, encostando o rosto junto à cabeça dela.
Prédios que faziam parte do DOI/Codi no bairro do Paraíso, Zona Sul de SP


 Saem após o término do culto no mosteiro de São Bento e vão almoçar no restaurante Guanabara. Ali, as refeições ocorrem em silêncio. Márcio procura sentir profundamente o sabor do molho de tomate que cobre a lasanha, recheada de presunto e queijo. “Lasanha sem molho de tomate, é igual time do Santos faltando o talento de Pelé e Coutinho”, compara.

                                                           Bagunça
 Pede sobremesa de morangos cobertos de chantilly. Procura ser bem carinhoso com os filhos, ambos com oito e dez anos. Passa as mãos na cabeça de ambos. “Vocês terão um Brasil digno. Onde todos andarão em paz nas ruas, sem qualquer tipo de bagunça, principalmente de favelados e bandidos”, profetiza para a esposa e os dois meninos.

 Horas depois está no DOI/Codi, desta vez para interrogar um casal de professores da USP. Ambos são suspeitos do assalto à casa do ex-governador Adhemar de Barros. Não existe nada de concreto, apenas possível ligação. “Coloca os dois fdp de frente para outro”, ordena a quatro torturadores que começa arrancar as roupas dos suspeitos, desferindo socos na barriga, costas e tapas no rosto.

 “É tua mulher essa vagabunda pilantra?, questiona o delegado olhando para o suspeito sentado na cadeira de dragão, com a boca cheia de sal e cheio de fios espalhados pelo corpo. A mulher pendurada no pau de arara leva um chute que a faz dar uma volta na barra de ferro que sustenta o seu corpo. Com a cabeça imobilizada, o alicate de pressão nas mãos de Márcio ajuda a arrancar um dente da boca da professora. O sangue jorra, recheado de gritos de dor.

 “Para roubar e matar inocentes ninguém chora. Isto é só o começo”, ameaçou. Um dos investigadores traz um pequeno e estreito tubo de PVC. Enfia na vagina da suspeita e dentro dele coloca um pequeno ratinho. O animal entra e começa morder o útero da acusada. Ele começa sacudir o corpo, gritar, suspirar e desmaia.
Torturadores usavam cobras nos interrogatórios

                                                           Margarida
 Ao retirar o camundongo coberto de sangue e restos de carne na boca, o delegado pega o bicho pelo rabo e acaricia seus pelos. “Complementa a refeição dele com queijo mussarela. Fez bom trabalho”, disse. Mas a sessão de terror estava no começo. “Traga a Margarida e enrola ela no pescoço desse vagabundo”, diz o delegado a um dos investigadores, que volta com uma cobra jibóia nas mãos.

  O professor se apavora, começa a dizer que não conhece ninguém que participou do assalto à casa de Adhemar de Barros. Não tem militância política, é favor da democracia. “Sem vergonha! Achamos vários livros de comunismo na sua casa, inclusive do safado Karl Marx. Suas aulas na USP são recheadas de críticas ao governo”, esbravejou o delegado.

 A cobra se enrola no pescoço do suspeito e começa apertar até o ar sumir dos pulmões do acusado. Minutos depois do desmaio, ele volta a si após fortes cargas de choques elétricos. Um investigador traz um pé de pato, enche de amoníaco e coloca na sua boca. A tortura é repetida várias vezes, com a vítima sentindo fortes falta de ar, por causa do forte cheiro do produto.

 Com os corpos cobertos de feridas e ossos fraturados, os dois são colocados numa cela escura cujo chão está repleto de baratas e aranhas.  Bem machucados, ambos não conseguem se mexer ou esboçar qualquer reação. Por causa do sangue que sai dos braços e pernas, os insetos começam a subir neles. A poucos metros ouvem os gritos de outras pessoas torturadas, desta vez estudantes apanhando de palmatória e passando pelo terrível corredor polonês, sofrendo todo tipo de agressão.
Camundungos eram introduzidos no ânus e vagina dos suspeitos

                                                         Pijama
 Mais um dia de trabalho chegou ao fim. Márcio retorna para casa. Antes passa numa floricultura e compra lindo buquê de rosas. Não se esquece de bombons. Doce preferido dos filhos. Ao passar diante de uma igreja católica, para o carro por alguns minutos e reza três preces de Pai Nosso, clamando para que o Brasil nunca caia nas mãos de um governo comunista. Em casa, toma banho, veste pijama e vai brincar de autorama. Antes de dormir com a esposa, não se esquece de colocar touca e deixar o ursinho ao lado da amada, a quem jurou amor eterno naquele inverno de 1952, quando se casaram na igreja do Largo Coração de Jesus, no Bom Retiro.


*Márcio é o nome fictício de um dos delegados mais cruéis na Ditadura Militar, que prestava plantão no DOI/Codi, e fazia questão de usar corrente com crucifixo durante as torturas. O casal de professores é fictício, mas representa todos acusados de terrorismo presos entre 1969 e 1976, alguns mortos após as intensas sessões de maus tratos. Porém os métodos usados foram retirados dos documentos elaborados pela Comissão Nacional da Verdade que concluiu seu trabalho nesta semana (12/2014).