Militares recusam informar onde estão os corpos dos desaparecidos |
Luís
Alberto Alves
O trabalho criterioso feito pela Comissão
Nacional da Verdade apontando 377 responsáveis por torturas durante a Ditadura
Militar vai servir como peça decorativa. A presidente Dilma Rousseff (PT) não
se esforçará para pedir revisão na Lei de Anistia, aprovada em agosto de 1979,
perdoando crimes cometidos tanto por militantes de esquerda quanto dos agentes
do Estado responsáveis pela morte e desaparecimento de quase 440 opositores ao
regime de terror implantado no golpe militar de 1964.
Mesmo amparada pelo voto direto para um
segundo mandado, selando 16 anos do PT no poder, parece que a linha dura das
Forças Armadas ainda faz tremer os políticos petistas. Alguns acenam para a
famosa tática de arquivar qualquer resquício de revanchismo. O período terrível
da ditadura deve ficar esquecido. Deixar embaixo do tapete, mesmo as dores
sofridas pelos parentes dos desaparecidos, que até hoje não sabem onde estão os
restos mortais de filhos, pai, mãe ou mesmo irmãos trucidados nos diversos
centros de torturas existentes no País, principalmente nos governos Médici e
Geisel.
Infelizmente este tipo de postura não irá
resolver o problema. Funcionará igual doença que não recebeu tratamento
correto, apenas paliativo e logo explodirá adiante, talvez até afetando
gravemente a saúde do paciente. Policiais e militares envolvidos nas terríveis
práticas de arrancar, sob tortura, confissões de opositores à ditadura,
continuam livres, alguns deles recebendo aposentadoria imerecida pelos péssimos
serviços prestados na destruição de vidas, maioria jovens.
É um absurdo até agora as Forças Armadas não
fornecerem informações detalhadas sobre os locais, por exemplo, onde estariam
os restos mortais dos guerrilheiros do PC do B executados na região do Araguaia
na primeira metade da década de 1970. O macabro major Curió, participante do
combate realizado pelo Exército naquela época, sabe exatamente os locais que serviram
de ponto de desova dos cadáveres. Assim como outros de seus colegas de fardas.
Porém passados mais de 40 anos, os militares,
alguns deles já na reserva, continuam exercendo forte influência na mente de
quem se encontra no comando, seja do Exército, Marinha ou Aeronáutica. Mesmo
numa empresa de fundo de quintal existe arquivo registrando a passagem de
funcionários, com data de entrada e saída, e até os motivos do seu
desligamento.
Nunca acreditei na história de que as Forças
Armadas não tenham documentos secretos com nomes de militares envolvidos na
repressão política. Se o Brasil fosse sério, não vivesse na demagogia, já
teríamos há muito tempo investigação profunda com nomes, cargos de todos os
envolvidos apontando onde encontrar os ossos dos militantes sumidos na suja
guerra do Araguaia.
Delegado Aparecido Calandra, um dos torturadores no DOI/Codi de São Paulo |
Considero erro não punir os agentes do
governo envolvidos no desaparecimento e morte de opositores entre 1969 e 1976.
Muitos foram seqüestrados em suas casas, levados aos centros de torturas e ali
acabaram mortos de forma cruel e degradante, sob argumento de garantir a
segurança do País. Qual razão para arrancar com alicate os seios de uma
simpatizante da luta armada? Ou mesmo introduzir baratas na sua vagina ou
colocar uma serpente deslizando sobre o seu corpo? Ou introduzir fios elétricos
no ânus, boca ou orelha, e por meio de freqüentes choques, reduzir aquela vida
a farrapos e enterrar ou desaparecer com aquele corpo para sempre?
Pau de arara era uma das torturas preferidas para arrancar informações, resultando na morte do suspeito |
Neste caso esses agentes do Estado são
criminosos. O dever da polícia, seja em qualquer esfera de atuação, é prender e
por meio de processos limpos de interrogatório obter as informações necessárias
para elucidação do crime. No caso da ditadura militar brasileira, a regra era
eliminar os opositores do regime. Não bastava a prisão e mesmo confissão. Os psicopatas
escondidos por baixo de fardas das Forças Armadas e mesmo distintivos da
Polícia Civil funcionavam como assassinos. Alguns chegavam a dizer que se Jesus
Cristo entrasse naquela divisão do Exército ou Aeronáutica, sentiria na pele os
efeitos dos choques elétricos desferidos numa sessão de tortura no temível pau
de arara.
Ao adotar a postura de avestruz, quanto aos
horrores cometidos durante a ditadura militar, o atual governo brasileiro passa
o atestado de incompetência perante a história. Além de alimentar o ego dos
extremistas de plantão dentro das Forças Armadas, sempre dispostos a repetir os
mesmos erros cometidos no passado. Exemplo disso é o discurso raivoso do
deputado federal Jair Bolsonaro, militar da reserva. É preciso separar o joio
do trigo, assassinos e psicopatas do grupo de homens e mulheres que nunca
concordaram, e até perderam a vida, com atitudes contra a democracia.
Caso não resolva pisar fundo, a presidente
Dilma poderia baixar decreto lei suspendendo aposentadoria e como comandante em
chefe das Forças Armadas, a perda definitiva da patente dos militares
envolvidos nos crimes cometidos durante a ditadura militar. Parentes dos mortos
e desaparecidos ficariam aliviados com gesto dignos de bons estadistas, porque
governante qualquer cabeça de bagre pode ser.
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