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terça-feira, 9 de dezembro de 2014

Apocalipse da falta de água




Reservatório da Cantareira, que um dia abasteceu milhões de pessoas em São Paulo

Luís Alberto Alves

 O cenário é horroroso. A garrafinha de água, de 250 ml é vendida a R$ 200. O galão de 50 litros custa R$ 5 mil. Nos hipermercados o refrigerante e as bebidas alcoólicas perderam espaço para a água. Cada cliente tem direito a levar duas garrafas de dois litros, ao preço de R$ 800. Para evitar saques, esses estabelecimentos comerciais têm guarda reforçada diariamente, com homens musculosos armados de metralhadoras.

 Por que? Para repelir os saques, não de comida. Há muito tempo os miseráveis deixaram de lado o furto ou roubo de alimentos. Eles estão em busca, sempre, do ouro líquido. Sinônimo de riqueza não é mais andar de carro importado ou morar nos apartamentos de cobertura dos bairros luxuosos. É ter dentro de casa diversos galões de água mineral. Visto que a fornecida pela Sabesp (Saneamento Básico de São Paulo) agora tem o terrível gosto de barro ou de podre, pois passou a ser captada do morto rio Tietê.

 Para evitar mortes, o governo decretou crime de lesa pátria quem for pego lavando calçada ou carro. Nas empresas nenhum funcionário pode escovar os dentes nos banheiros, monitorado por câmeras de última geração. A descarga só é permitida após o vaso sanitário estar próximo de evitar qualquer uso. Mesmo assim, a válvula só libera cinco litros da água captada pelas calhas do edifício.

 Os hotéis, todos, passaram a cobrar taxa extra nos quartos com chuveiro. A ordem é o cliente não tomar banho. Ele só tem direito a 800 ml deste líquido precioso durante estadia de três dias. Nos bares e restaurantes o copo de água mineral é vendido a R$ 60. É proibido qualquer desperdício. Os pratos são lavados com jatos de ar.

 Na periferia onde se aglomera a legião de miseráveis, a tropa de choque da PM agride diariamente parte da população que insiste em invadir os bairros da elite em busca de água. Caso alguém seja pego saqueando um caminhão pipa, é sumariamente executado, sem direito a qualquer defesa. Aliás, este tipo de transporte é feito sob rigorosa segurança. Os motoristas usam uniformes que dificulta furto do ouro líquido.

 O abastecimento é vigiado por câmeras e equipes de segurança. Mesmo as gotas que caiam no solo, são rapidamente absorvidas por tapetes e repostas no tanque. As raras nascentes de água estão protegidas pela tropa de choque do Exército e Aeronáutica. Ninguém pode se aproximar do local, sem autorização expressa do ministério da Defesa.

 A maioria das nações não briga mais pelo petróleo. Pois combustíveis alternativos abastecem os veículos, inclusive com ar. O foco hoje é a água. O Amazonas virou área de segurança internacional, sofrendo ataques constantes dos Estados Unidos e países europeus. Parte desse Estado, próximo ao Pará acabou anexado pelos norte-americanos. Diariamente cargueiros partem lotado do ouro líquido rumo às grandes cidades do tio Sam.

 Na rodas de botecos, onde poucos bebem cachaça ou cerveja, apenas molham os lábios com água, ao custo de R$ 40 o algodão umedecido, as pessoas relembram que tudo começou em 2015, quando a seca liquidou com a economia paulista. Alguns se recordam saudosamente da época  em que as piscinas de clubes públicos eram a diversão da criançada. Hoje elas estão secas.

 As escolas lecionam aulas de história falando do extinto Complexo da Cantareira, do seco Rio São Francisco, do extinto Paraíba do Sul, de as cataratas do Iguaçu terem apenas 20% de água, os rios do Pantanal terem virado riachos. As crianças custam a acreditar, no ano de 2025, que um dia São Paulo foi chamada de terra da garoa. Das enchentes nas Avenidas 23 de Maio, Nove de Julho, na região do Aricanduva, Zona Leste, e até das Marginais do Tietê e Pinheiros, que transformavam suas pistas em piscinas quando chegava o Verão.


 Tudo ficou para trás. Hoje as pessoas tomam banho de perfume para espantar o mau cheiro. São raros imóveis com chuveiro ou caixa de água de 500 litros. Por medida de segurança nacional, só é comercializada caixas de 50 litros. Qualquer desperdício é punido com a morte. Pode parecer besteira, mas num futuro não muito distante é bem provável que tenhamos cenário parecido com este texto de ficção. Onde a água será disputada por meio de guerras e a preço de ouro. Até o ato de tomar banho será privilégio de milionários....

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