Existe algo mais radical do que a morte? |
Luís
Alberto Alves
Existe algo mais radical do que a vida. Na
época do politicamente correto, onde se prega que é preciso ficar em cima de
muro para não agredir a sensibilidade do próximo, o ato de viver rompe com esse
paradigma. O é oito ou 80, não há meio termo, política de colocar panos
quentes.
Nos vários exemplos que irei citar, ficará
visível o radicalismo existente em nossas vidas: não há meio doente ou sadio;
ou é alguém com saúde ou atormentado pela doença. Você é bom da cabeça ou
maluco, excluído da convivência da sociedade, internado num hospício.
Em termos sentimentais o ser humano encaixa em
dois perfis: feliz ou infeliz. Novamente a vida joga para escanteio os
políticos do coração, que vivendo um fracasso, tenta passar a imagem de que a
felicidade é moradora e parceria de todas as horas. As crianças detectam essa
postura. Elas percebem rapidamente quando os pais não se bicam mais, mesmo
quando o casal tenta fingir durante o almoço do final de semana que tudo está a
mil maravilhas.
A situação financeira é outro exemplo duro do
radicalismo da vida: ou você tem dinheiro, mesmo pouco, ou não tem nada. São os
extremos, onde o ser humano pode pender para miséria ou para conta de saldo
verde no banco.
Ou você mora, mesmo de aluguel, ou é militante
do bloco dos sem tetos. Desconheço alguém que tenha moradia e goste de viver na
rua, por achar bacana sentir frio, passar fome, sede e acordar de manhã com os
jatos de água desferidos pelas mangueiras dos caminhões da prefeitura limpando
as calçadas.
Outra mostra mais cruel do radicalismo da vida
é quanto à idade: é impossível, depois de velho, tentar esconder a idade. Alguém
com 60 anos simular que tenha a metade dessa caminhada na estrada da vida. Os
cirurgiões plásticos esticam a pele do rosto, mas se esquecem de fazer o mesmo
nas mãos. As rugas delas mostram que o tempo já passou e muito.
A resistência física mostra o quanto o
radicalismo de nossa vida é cruel. Com 15 anos de idade, o vigor físico impera.
O corpo do adolescente desconhece o frio, mesmo quando a temperatura está baixa.
É possível ficar acordado a noite toda sem qualquer ameaça da sonolência. Não
se tem medo de nada. Pelo contrário, o melhor negócio é entrar de cabeça em
qualquer tipo de aventura. Aliás, o Serviço Militar é prestado aos 18 anos,
para aproveitar o fogo dessa energia.
Salvo raras exceções, os ossos estão fortes,
principalmente os dentes, e restante do organismo respiram saúde perfeita. É
quando a vida deixa bem clara sua postura nada política: ou você é jovem ou
velho. Sem espaço para o politicamente correto, tipo: as pessoas idosas que são
jovens e vice-versa.
O tempo também joga no time dos radicais: ou
você aproveita os bons momentos ou perde. Não há meio termo. Ou se acompanha o
ritmo dele ou fica para trás, perdido pela estrada. Ele recusa lamentações: “Ah
se eu tivesse feito aquilo ou agido de forma diferente”. Caro leitor, você
perdeu o fio de miada. O cavalo da sorte passou arreado na tua porta e lhe
esperou. Porém a preguiça impediu de montá-lo. Ele foi embora.
Por exemplo: 2014 está chegando ao fim. É o
mesmo mês de dezembro, porém em outro contexto. Você está mais velho, mais
tarimbado pela vida e até com experiência maior. É outra situação. Talvez
esteja num bom emprego ou mesmo sem trabalho algum. Mas percebeu que o tempo
não lhe esperou. Continuou andando para frente. Ou você fica esperto e ágil
para acompanhá-lo ou ficará para trás.
A postura radical da vida é tão cruel que o
ser humano fica diante de duas situações: ou está vivo ou morto! Mais duro
ainda: caso seja defunto, logo o seu enterro, mesmo como indigente, o poder
público vai realizar. A vida não admite, sequer, que os mortos continuem junto
dos vivos. Ou você fica em pé ou deitado, ou é deficiente visual ou enxerga, ou
é falante ou mudo, ou tem ouvido bom ou está no time dos deficientes auditivos,
ou é bom ou mau, bonito ou feio, frio ou quente. Aliás, até Jesus Cristo disse
que é melhor sermos quentes ou frios, porque o morno Ele vai vomitar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário