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quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Sindicalismo de mãos dadas com corporativismo

Sindicalistas de qualquer categoria usa passeatas como instrumento de pressão


Luís Alberto Caju

 Quando as pessoas assistem ao noticiário dos telejornais e aparece determinada reportagem a respeito de acordo fechado entre trabalhadores e patrões, poucos conseguem compreender como ocorreu aquele pacto. Simplesmente porque sindicatos surgiram para defender os direitos dos empregados, muitas vezes desrespeitados, colocando em risco até a vida deles.

 Essa postura vigorou na primeira metade do século XX, quando a postura no interior das fábricas mais lembravam campos de concentração com jornadas passando de 15 horas diárias, sem quaisquer mecanismos de proteção para serviços insalubres que colocava em risco a integridade do funcionário, além de péssimas condições de higiene e falta de respeito ao ser humano, visto que as crianças, também, cumpriam essa pesada carga horária.

 O tempo, responsável pela maioria de boas e más respostas, avançou e chegamos à década de 1990, final do século XX. Movimentos sindicais obtiveram inúmeras conquistas, a jornada de trabalho diária chegou às 8h, em outras categorias baixou para 6h e até 5h. Os finais de semana, para muitos, transformaram-se em descanso, sem qualquer desconto no salário.

                                                  Dividendo político
 Neste início de terceiro milênio, o sindicalismo brasileiro, principalmente, passou por diversas mudanças. Presidentes e membros de diretorias apostaram na disputa por cargos políticos como vereadores, deputados e até presidente da República, como ocorreu com Luiz Inácio Lula da Silva, eleito duas vezes para administrar o Brasil.

 Chegou ao fim o ideal de exercer relações sindicais visando o bem-estar do trabalhador. O enfoque é utilizar a entidade como estilingue na busca por visibilidade que se transforme em grande dividendo político. Na busca por essa meta os sindicalistas, a maioria, colocou em prática relações corporativistas com as empresas, onde seus filiados trabalham, numa estranha relação, pois capital e trabalho estão em campos opostos.

 Para o aumento da sede ou mesmo construção de quadras esportivas ou moderno parque aquático, o corporativismo entra em campo, com as empresas contribuindo financeiramente naquela obra. Tudo sob a égide do discurso de que o funcionário descansado e revigorado no lazer desfrutado no clube daquela entidade sindical, vai produzir mais quando voltar à fábrica ou escritório na segunda-feira.

                                                  Aberração de corporativismo
 A moeda de troca se dá quando o governo toma medidas que possa prejudicar aquele seguimento industrial. Isto ocorreu no final de 2013 no Brasil, quando as empresas automobilísticas foram comunicadas que a partir de 2014 todos os veículos de passeio sairiam da linha de produção dotados de airbag e freios ABS. Estranhamente sindicatos metalúrgicos deram as mãos com montadoras para impedir a entrada em vigor dessa medida, já prevista há vários anos pelo Conselho Nacional de Trânsito, para garantir a segurança de motoristas e pedestres, reduzindo o número de acidentes de trânsito com vítimas fatais.

 Neste caso, o corporativismo adotou o discurso de que a instalação desses dois tipos de dispositivos iriam tornar mais caros os automóveis e reduzir postos de trabalho, visto que veículos sem possibilidade de colocar airbag, caso da perua Kombi e do Fiat Uno, sairiam de linha, deixando de ser fabricados.

 Outra aberração de corporativismo ocorreu com o aumento do rigor da Lei Seca, elevando para aproximadamente R$ 2 mil o valor da multa para o motorista flagrado dirigindo sob efeito de bebida alcóolica. Sindicatos dos trabalhadores do seguimento de bebidas procuraram o governo cobrando a redução do valor da multa, porque o consumo estava caindo e o setor passou a produzir menos, colocando em risco o emprego da categoria.

                                                  Leis de segregação
 O absurdo é que em nenhum momento os sindicalistas se preocuparam com a diminuição do número de acidentes, envolvendo motoristas bêbados ao volante. O foco deles era amenizar o impacto da punição para que crescesse a produção de bebida, e claro, o emprego ficasse garantido.

 É como ocorreu na África do Sul, durante o apartheid, quando os patrões mostravam mais interesse econômico na eliminação desse odioso regime do que os trabalhadores brancos, visto que empregando funcionários negros sem leis restritivas racialmente, os donos de empresas podiam pagar menores salários do que recebiam os empregados brancos, protegidos pelas leis de segregação.

 O resultado do fim do apartheid levou a classe média branca disputar o mercado com a população negra. Em vez de lutar por direitos iguais para brancos e negros, os trabalhadores brancos na África do Sul defenderam os privilégios que tinham graças à mais-valia triangular sobre os funcionários negros.

                                                   Alianças estranhas
 Infelizmente no Brasil, muitos sindicatos não se preocupam com a população. Apenas puxam sardinha para os seus representados. Não importando que determinados acordos com os patrões possa resultar na elevação da taxa de juros, como acontece no setor bancário. No setor farmacêutico a mesma regra é aplicada. As supostas regalias conquistadas por aquela categoria de trabalhador vão impactar no aumento do preço de medicamentos, dificultando o acesso a eles pela população de baixa renda, principalmente aposentados.

 Com raras exceções, as entidades sindicais brasileiras só defendem os interesses de seus associados, transferindo o ônus aos pobres e excluídos. Curiosamente são formadas alianças estranhas do ponto de vista da ética, quando o sindicato do trabalhador passa apoiar o patrão, quando ele tem quem assuma essa função.

 Talvez seja essa a razão para o baixo número de empregados que se tornam sócios dos sindicatos. Pela cabeça desse trabalhador não é possível o sindicato unir forças com o patrão, que na maioria das vezes, o explora, além de não respeitar os direitos básicos no desempenho de sua função.


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