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quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Brasil: o país do apartheid silencioso

Jovens negros são sempre "suspeitos" em estabelecimentos comerciais


Luís Alberto Caju

 Todo governante brasileiro gosta de dizer nos discursos que existe igualdade neste país, principalmente em termos judiciais. Mas quando começamos a observar atentamente percebemos que na realidade temos um regime de apartação (do latim partire, significando dividir em partes, servindo de base no idioma africâner para se transformar na palavra apartheid na África do Sul).

 Apartação consiste em separar as pessoas por classe, como o odioso governo sul-africano fez durante décadas e contra o qual lutou muitos anos, inclusive na prisão, o líder pacifista Nelson Mandela. Poucos percebem a sutileza utilizada na apartação. O governo classifica a população, segundo ele por métodos econômicos, com base na remuneração salarial. Caso ganhe x salários mínimos é população de baixa renda, depois classe média baixa, classe média média, classe média alta até chegar ao topo da elite.

 O censo do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) elabora os questionários de pesquisa com base na apartação. Se o entrevistado tem determinado número de eletrodomésticos (geladeira, televisores, computadores, máquinas secadora e de lavar roupas), quantidade veículos, de banheiros no imóvel e total de cômodos, logo receberá uma classificação, acompanhado do nível de escolaridade.

 Por meio desse mecanismo o cidadão é separado do restante da população, “ganhando” o rótulo de classe média ou população de baixa renda. Para o leitor compreender melhor essa temática sugiro a compra do livro “O que é apartação – o apartheid social brasileiro”, publicado em 1993 pela editora Brasiliense, na série coleção Primeiro Passos.

 Esse conceito está em desenvolvimento no Brasil provocando a separação entre grupos sociais. Onde o valor do salário inclui ou exclui alguém de um determinado seguimento, não importando sua cor, sexo ou escolaridade. Em São Paulo há uma associação composta de pessoas de grande poder aquisitivo. Para entrar nesse clube, que funciona na riquíssima região dos Jardins, Zona Sul paulistana, não basta ter muito dinheiro no presente. É preciso que os antepassados (pais, avós e bisavós) já fossem milionários.

                                                  Sangue da tradição
 Privilegiam apenas futuros associados, cuja riqueza está presente na família há diversas décadas e tenham o sangue da tradição. Deixam bem claro, por meio dessas regras, que novos ricos ainda, segundo eles, mantém a pobreza na árvore genética. Por meio desse recurso vão procurar deixar de fora os pretendentes que desde o começo do século passado estavam fora do círculo da elite endinheirada. Seguindo esse raciocínio, o craque Neymar, parceiro de Messi no Barcelona, nunca será sócio dessa entidade, mesmo que ganhe milhões de dólares por ano. Porque seus antepassados eram pobres.

 O fenômeno da apartação marca presença na Justiça, onde a Constituição informa que todos são iguais perante a Lei, quando na realidade uma minoria é mais igual que os outros. Mesmo cometendo graves crimes, nunca sofrem qualquer tipo de condenação. Os políticos têm direito assegurado de foro privilegiado, enquanto o cidadão comum, caso furte um frasco de xampu num estabelecimento comercial, sofre todo o rigor dessa mesma Lei, o jogando no presídio.

 É como se inúmeras pessoas estivessem dentro do estádio de futebol para participar do almoço coletivo. Porém o acesso ao local é estipulado por determinadas regras: não entram descalços, esfarrapados, cidadãos sem tomar banho, menores de idade, bêbados ou alguém que esteja sob efeito de qualquer tipo de drogas, mulheres trajando roupas muito curtas etc. Neste evento todos podem ir, desde que obedeçam às regras impostas pelo promotor deste gigantesco almoço.

 Mesmo exemplo é aplicado à seleção para contratação de funcionários por uma empresa. O número de vagas será preenchido desde que os candidatos tenham determinado nível de escolaridade, falem dois idiomas, sejam pós-graduados, tenham até tantos anos de idade e dominem a ferramenta tal que mostra a experiência naquela função. Essas regras dizem claramente que candidatos fora do perfil serão ignorados. Neste caso, a opção é da empresa visando encontrar o melhor trabalhador para contratá-lo.

 Quando se trata de uma nação, o problema é mais sério, pois o governo utiliza esses mecanismos para não atender parcelas da população, que se encontram na esfera mais baixa da economia. Sem resolver a questão, centra fogo nos de quesitos elevados. Exemplo disso ocorre na divisão do policiamento.
                                                  Iguais perante a Lei
 Os bairros onde residem grandes empresários, artistas, atletas e políticos são bem atendidos pelas forças policiais a qualquer hora do dia. Nessas regiões alguém dentro de um carro popular, estacionado durante a noite numa rua ou avenida, logo é abordado e precisa justificar, por meio de documentos, que não é criminoso. Na periferia, essa tática é pouco utilizada.

 Este detalhe revela que nem todos são iguais perante a Lei; visto que o rico é privilegiado em detrimento do pobre. Os serviços públicos nos bairros ocupados pela elite funcionam perfeitamente, inclusive com suas ruas e avenidas dotadas de bom revestimento asfáltico, ao passo que nas regiões onde prolifera população de baixa renda ou pobres, os buracos são comuns, por causa do uso do asfalto de péssima qualidade.

 A apartação é aplicada, também, no transporte coletivo. As empresas utilizam veículos em bom estado de conservação nos locais onde é grande a presença de pessoas com elevada remuneração, mesmo que elas nunca usem esse tipo de transporte. Até motoristas e cobradores são de perfis adequados para essa região. A maioria dos ônibus tem motores na parte traseira, reduzindo sensivelmente o barulho no seu interior.

 Já na periferia, onde é grande a concentração de brasileiros que ganham baixos salários, e muitos não dispõem de condições financeiras para comprar um automóvel, mesmo a prazo, os ônibus apresentam péssimas condições de conservação, os motores ficam ao lado do motorista, colaborando para um ambiente barulhento, além de a empresa colocar nestes locais funcionários de “pavio curto”, que tratam os passageiros de forma brusca.


 Este detalhe deixa bem claro que perante o governo, a população não recebe tratamento igual. O dinheiro e a posição política são os grandes divisores de água, reforçando a tese que o apartheid silencioso está implantado há muito tempo no Brasil. Seus tentáculos atingem vários setores da nação, revelando que a minoria continua detendo o melhor produzido no País, deixando as migalhas para os sem dinheiro e influência política e social. Até no cemitério o rico não é igual ao pobre, pois ele é sepultado em locais ajardinados e bem cuidado. Enquanto na periferia, são comuns nestes locais de descanso eterno, túmulos depredados e sepulturas cobertas de ervas daninhas. 

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