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sábado, 26 de abril de 2014

Dois torturadores envolvidos no caso Rubens Paiva são assassinados: queima de arquivo?









Os dois torturadores, Molina e Malhães, estiveram envolvidos na morte e desaparecimento de Rubens Paiva


Luís Alberto Alves

Não se deixe enganar: de Deus não se zomba. Pois o que o homem semear isso também colherá..”. Livro de Gálatas, capítulo 6, versículo 7. Parece que esta palavra  se cumpriu em relação a dois torturadores da época da ditatura militar no Brasil. Em 2013, o coronel da reserva Júlio Miguel Molina Dias, 78 anos, levou 15 tiros quando chegava à casa onde morava em Porto Alegre (RS). Os autores do crime foram dois PMs. O objetivo da dupla era a coleção de armas de Molina.

 Na casa dele a polícia encontrou documentos comprovando a entrada do ex­deputado Rubens Paiva, preso político, no temível DOI/Codi (Departamento de Operações e Informações/Centro de Operações de Defesa Interna), no Rio de Janeiro. Molina foi chefe deste braço do regime militar usado para torturar e matar opositores. Paiva entrou vivo ali, em 20 de janeiro de 1971, e até hoje continua desaparecido.
Documento encontrado na casa do torturador Julio Molina em Porto Alegre (RS)

 Na quinta-feira (24) passada, outro envolvido com diversos crimes cometidos contra presos políticos foi executado, no sítio onde morava, em Nova Iguaçu, Baixada Fluminense, Rio de Janeiro. Três supostos bandidos entraram na residência e ali ficaram oito horas. Amarraram a viúva do coronel da reserva Paulo Malhães, 76 anos, e o caseiro.

 O militar confessou em depoimento à Comissão da Verdade, no mês passado, a morte de vários militantes durante a década de 1970, auge do terror da ditadura militar. Disse que para dificultar a identificação das vítimas, que eram levadas para Petropólis (RJ), no centro conhecido como casa da morte, quebrava todos os dentes e cortava os dedos dos torturados e desaparecia com os corpos. Ele teria sumido com o corpo de Rubens Paiva.
O coronel da reserva, Julio Molina, foi chefe do DOI/Codi no Rio de Janeiro


 Esses dois casos revelam que as Forças Armadas mentem ao afirmar não terem informações sobre o paradeiro de presos políticos durante regime que vigorou entre 1964 e 1985. Vários militares, a maioria oficiais, hoje na faixa dos 70 anos, sabem onde estão enterradas as vítimas que perderam as vidas nos centros de torturas abertos em várias regiões do Brasil.     Documentos encontrados na casa de Molina é outra prova do arquivo paralelo criado pelos oficiais, talvez com a concordância do próprio comando da época, visando dificultar o encontro de qualquer prova envolvendo a morte e sumiço de presos políticos naquela época.

 Infelizmente, mesmo em plena democracia, e passados 29 anos, o governo teme confrontar as Forças Armadas, exigindo dos atuais militares que estão na linha de frente, a entrega de todos os documentos revelando o paradeiro de inúmeras pessoas que entraram vivas no DOI/Codi e nunca mais foram vistas. Nesta teia de aranha sinistra estão envolvidos, também, médicos legistas que fizeram autópsia nos torturados, comprovando as causas da morte deles.
O torturador e coronel da reserva Paulo Malhães em depoimento à Comissão da Verdade em março


 O demagogo e criminoso Harry Shibata, acusado de colaborar com a ditadura, fazendo laudos médicos falsos, acabou cassado pelo Conselho Federal de Medicina, mas ele não foi o único. Terminou como boi de piranha, assim ocorreu com seu colega de profissão, Amilcar Lobo, médico que auxiliava os torturadores indicando se o preso tinha condições de suportar mais maus tratos, até trazer as informações que os militares exigiam.

 A lei da anistia infelizmente livrou policiais e oficiais das Forças Armadas de apodrecerem na cadeia, como ocorreu na Argentina e Chile. Não responderam pelos crimes cometidos, usando o Estado como escudo. Sequestraram, ocultaram cadáveres e tudo acabou esquecido. Mas passados tantos anos, a lei do retorno começa ser aplicada sobre vários deles. É a macabra colheita de quem plantou ódio e agora colhe a morte, até de forma trágica. O torturador Paulo Malhães, de acordo com a Polícia Civil, teria morrido asfixiado. Talvez nessa hora ele sentiu a mesma dor que adorava fazer aflorar em suas inúmeras vítimas quando era um dos cartões postais da Ditadura.


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