Redação do Estadão antes dos últimos grandes cortes |
Luís
Alberto Alves
Poucos anos atrás, final da década de 1990, o
jornalismo impresso ainda atendia às expectativas dos leitores. As pessoas
aguardavam a edição do dia seguinte para conferir o que aconteceu de importante
em determinado evento. Exemplo disso era o final de Copa do Mundo, ou mesmo do
Brasileirão ou outro tipo de campeonato.
Quando morria algum artista famoso saiam os
famosos cadernos especiais contando a vida do falecido. As redações tinham
vários profissionais. Estadão e Folha de S. Paulo pareciam um “mar” de gente.
Algumas editorias, como de Geral, Política e Esportes contavam com vários
repórteres, editores e até sucursais.
Mas o tempo provoca mudanças. Para bem ou mal.
Os barões da comunicação (Mesquita, Frias, Marinho, Saad, Civita etc..)
continuaram dormindo sobre os louros. Lembro de uma palestra proferida pelo
herdeiro e eterno diretor de redação da Folha de S.Paulo, Otávio Frias de
Oliveira, quando disse que jamais alguém substituiria o jornal. Ninguém levaria
o computador ao banheiro, as folhas do impresso sim.
A caminho da terceira década do século 21,
tudo mudou. Hoje é possível ler jornal em qualquer lugar, mesmo no banheiro,
usando celular ou tablet. Os fatos acontecem e logo estouram na internet.
Ninguém espera chegar o dia seguinte. A informação corre velozmente nas redes
sociais, principalmente pelas mãos de alguém que trabalha neste meio.
Aos poucos o jornalismo impresso agoniza. As
redações demitem de panelada. Nas duas últimas semanas Estadão e Folha
colocaram, juntos, na rua 90 profissionais. Vinte anos atrás só uma catástrofe
econômica provocaria tamanho corte. A verba publicitária caiu. Os anunciantes
optam pela propaganda virtual na internet.
A editora Abril, dona da revista Veja, se
parece com doente na UTI (Unidade de Terapia Intensiva). Já eliminou várias
publicações e demitiu grande número de jornalistas. A editora Três,
proprietária da Isto É, repetiu a dose. Hoje é mais fácil colocar time enxuto
para elaborar a edição digital, sem gastar bastante com impressão,
distribuição.
No virtual tudo é rápido. Igual esse artigo
que você lê agora, seja no seu tablet, celular, notebook ou computador de mesa.
Para traçar essas linhas não precisei de muito tempo, nem de diagramador, pois
o programa automaticamente escolhe o espaço onde entrará essa matéria,
definindo o tamanho da foto escolhida por mim.
Na época do impresso, ele
estaria somente amanhã na página do jornal, após passar por vários processos,
até ganhar corpo nas páginas. Não sei quanto tempo a agonia vai demorar, mas o
jornalismo escorado no papel, como matéria-prima, caminha rumo ao túmulo.
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