Escola de samba Beija Flor é acostumada a prestar homenagens a ditadores |
Luís
Alberto Alves
A escola de samba Beija-Flor,
campeã do Carnaval carioca deste ano, pisou na bola outra vez. Em 1974 levou
para a avenida o tema enredo “Salve o Decênio” homenageando os dez anos da
Ditadura Militar que derrubou o presidente eleito João Goulart em 1° de abril
de 1964. Aliás, na década de 70 ela foi escolhida pela família do ditador João
Batista Figueiredo para sua família desfilar. Portanto não é novidade resolver
dar benção ao sanguinário Teodoro Mbasogo da Guiné Equatorial, um dos
governantes mais corruptos da África, há 35 anos no poder. O patrono da Beija-Flor
é o contraventor Aniz Abraão David.
Infelizmente algumas escolas se rendem ao
dinheiro e status dos ditadores para bancar o carnaval. Em 2006 a Vila Isabel
levou o título para casa com o enredo “Soy Loco por Ti, América – A Vila canta
a latinidade”. O ditador de esquerda, dirigindo a Venezuela de onde só saiu
após a morte, Hugo Chávez patrocinou a escola da Zona Norte do Rio de Janeiro.
Na década de 70, a Peruche resolveu levar para
a Avenida Tiradentes o enredo que prestava homenagens à Polícia Civil. Isto
numa época em que vários delegados estavam envolvidos em torturas de militantes
políticos. Em 1972, a Vai-Vai fala do sesquicentenário da independência do
Brasil. O samba, composto pelo carioca Zé Di, numa dos versos diz: “Vai meu
Brasil segue avante/ ninguém segura esse gigante/independência ou morte Dom
Pedro I bradou/ e o povo brasileiro se libertou...”
A letra tocou no coração do ditador de
plantão, Emílio Garrastazu Médici, que condecorou Zé Di com uma medalha, que
ele recebeu no Palácio do Planalto em Brasília. O país vivia o milagre
econômico, atraindo grandes investimentos, porque nenhum trabalhador podia
reclamar das péssimas condições nas empresas. Se fizesse isto era preso ou desaparecia.
Esse caso foi exceção na alvinegra do Bixiga, que na década de 1980 cantou
samba enredo pedindo democracia, após a morte de Tancredo Neves em 1985.
A regra no carnaval, após a era de temas enredos
históricos predominante nas décadas de 1950 e 1960, é obter muito dinheiro para
colocar os passistas na passarela. Não importa de onde ele venha. No Rio de
Janeiro, cuja maioria das escolas está nas mãos de milicianos (Portela), ex-torturador
e contraventor (Imperatriz Leopoldinense), contraventor (Vila Isabel), contraventor
(Salgueiro), ideologia é conversa de “bicho grilo”. Para garantir a verba do
Estado, até o Rio de Janeiro é cantado em verso e prosa.
Em 2002, a Leandro de Itaquera, levou para o
Sambódromo do Anhembi o enredo: Mário Covas, São Paulo, Brasil meu orgulho meu
amor. Naquela noite nunca se viu tanto tucano numa escola de samba. Claro que
muitos jamais sambaram na vida. Covas,
morto em 2001, não era ditador, mas o governo paulista contribuiu
financeiramente com o carnaval da escola de samba da Zona Leste.
Os exemplos citados acima mostram o quanto as
agremiações de carnaval andam grudadas aos governantes. O ano de 2012 foi a vez
da Gaviões da Fiel apresentar enredo político: Verás que o filho fiel não foge
à luta homenageou o ex-presidente Lula. Seja da esquerda ou direita, muitos
dirigentes sambistas “pensam” na saúde financeira da sua entidade e claro, de
usar a puxa-saquice como moeda de troca na hora de reivindicar algo. Talvez um
emprego em alguma estatal para familiares ou amigos próximos...
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