No Judaísmo, o candelabro significa os sete Espíritos de Deus |
Luís Alberto
Alves
Imagine o candelabro, que simboliza os sete
Espíritos de Deus no Judaísmo, virar alegoria numa escola de samba, num enredo
que elogia a prostituição como estilo de vida? Pior: chargistas fazerem
desenhos obscenos usando o candelabro, como se ele fosse algo desprezível na fé
dos judeus.
Outro contexto: uma ilustração mostrando a
Virgem Maria como se fosse garota de programa. Qual seria a reação dos
católicos? De calma ou partiriam para a fúria, como ocorre entre os muçulmanos
quando percebem que foi ofendido o profeta Maomé, colocado no mesmo patamar que
Jesus Cristo?
Se fosse na Índia, o deus Brahma também
ridicularizado por meio de desenhos, não ocorreriam reações?Entre os cristãos,
a Bíblia é considerada um livro sagrado, onde Deus orienta o que se deve fazer
para conquistar a salvação e ter vida reta. Caso alguém resolvesse desenhar a
Bíblia como rolo de papel higiênico, os cristãos iriam compreender ou partiriam
para o confronto?
A liberdade de expressão exige respeito. Você
mora num prédio, o apartamento está pago, porém as regras de convivência não
permitem que se ouçam músicas em alto volume, principalmente após as 22 horas.
O automóvel é seu, mas não lhe dá o direito de sair atropelando as pessoas nas
ruas e avenidas. O casamento no civil e religioso não é licença para transar
num banco de um shopping Center, em nome da liberdade sexual.
O nó da questão é conseguir resolver essa
equação: até onde posso avançar nas minhas críticas? Quando o assunto envolve
fé, o problema é maior. Ela é instrumento e roteiro para muitos conseguirem
enfrentar as lutas diárias. Serve de ânimo para continuar batalhando. Estão
errados ou certos? Pergunta difícil de responder. Até quem crê no diabo, usa
sua fé, pois aposta nas práticas malignas como resolução de problemas.
É nesta linha tênue que mora o perigo. O
fanatismo explode quando o objeto de sua fé é ironizado ou mesmo atacado. É
igual alguém no trabalho ou escola fazer piada de mau gosto com sua família.
Resolvem xingar teus pais, filhos, irmãos ou mesmo esposa ou esposo. Qual a
reação neste momento? De alegria ou tristeza? Ninguém é livre para sair
atacando em todas as frentes. É preciso bom senso.
Lembro de uma frase do humorista Bussunda,
cérebro do grupo de humor Casseta & Planeta, quando lhe perguntaram os
motivos de nunca o dono da Rede Globo, Roberto Marinho, ter sido alvo de piadas
no programa que exibiam naquela emissora. “Somos humoristas, não malucos”,
resumiu. Numa avaliação profunda, a revista Charlie Hebdo lembra o Casseta
& Planeta, cuja metralhadora giratória não perdoava novelas, minisséries e
programas de auditórios da empresa que lhe pagava o salário, e claro governo e
outros artistas.
A maior arte da vida é saber onde termina
nossa liberdade. Até onde posso pisar. O intelectual precisa entender em que
tipo de arte vai concentrar esforços: na panfletária ou aquela visando sacudir
a sociedade por meio de temas que provoquem debates. É parecido com filho: não
é porque saiu do seu esperma e se juntou ao óvulo da mulher amada, que lhe dá o
direito de agredir ou fazer dele escravo. Quando entendemos essa fina e quase invisível
divisão a convivência não vira conflito, resultando em mortes como ocorreu na
redação da Charlie Hebdo em Paris.
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