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quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

Fé pode ser alvo de insulto?



No Judaísmo, o candelabro significa os sete Espíritos de  Deus

Luís Alberto Alves

 Imagine o candelabro, que simboliza os sete Espíritos de Deus no Judaísmo, virar alegoria numa escola de samba, num enredo que elogia a prostituição como estilo de vida? Pior: chargistas fazerem desenhos obscenos usando o candelabro, como se ele fosse algo desprezível na fé dos judeus.

 Outro contexto: uma ilustração mostrando a Virgem Maria como se fosse garota de programa. Qual seria a reação dos católicos? De calma ou partiriam para a fúria, como ocorre entre os muçulmanos quando percebem que foi ofendido o profeta Maomé, colocado no mesmo patamar que Jesus Cristo?

 Se fosse na Índia, o deus Brahma também ridicularizado por meio de desenhos, não ocorreriam reações?Entre os cristãos, a Bíblia é considerada um livro sagrado, onde Deus orienta o que se deve fazer para conquistar a salvação e ter vida reta. Caso alguém resolvesse desenhar a Bíblia como rolo de papel higiênico, os cristãos iriam compreender ou partiriam para o confronto?

 A liberdade de expressão exige respeito. Você mora num prédio, o apartamento está pago, porém as regras de convivência não permitem que se ouçam músicas em alto volume, principalmente após as 22 horas. O automóvel é seu, mas não lhe dá o direito de sair atropelando as pessoas nas ruas e avenidas. O casamento no civil e religioso não é licença para transar num banco de um shopping Center, em nome da liberdade sexual.

 O nó da questão é conseguir resolver essa equação: até onde posso avançar nas minhas críticas? Quando o assunto envolve fé, o problema é maior. Ela é instrumento e roteiro para muitos conseguirem enfrentar as lutas diárias. Serve de ânimo para continuar batalhando. Estão errados ou certos? Pergunta difícil de responder. Até quem crê no diabo, usa sua fé, pois aposta nas práticas malignas como resolução de problemas.

 É nesta linha tênue que mora o perigo. O fanatismo explode quando o objeto de sua fé é ironizado ou mesmo atacado. É igual alguém no trabalho ou escola fazer piada de mau gosto com sua família. Resolvem xingar teus pais, filhos, irmãos ou mesmo esposa ou esposo. Qual a reação neste momento? De alegria ou tristeza? Ninguém é livre para sair atacando em todas as frentes. É preciso bom senso.

 Lembro de uma frase do humorista Bussunda, cérebro do grupo de humor Casseta & Planeta, quando lhe perguntaram os motivos de nunca o dono da Rede Globo, Roberto Marinho, ter sido alvo de piadas no programa que exibiam naquela emissora. “Somos humoristas, não malucos”, resumiu. Numa avaliação profunda, a revista Charlie Hebdo lembra o Casseta & Planeta, cuja metralhadora giratória não perdoava novelas, minisséries e programas de auditórios da empresa que lhe pagava o salário, e claro governo e outros artistas.


 A maior arte da vida é saber onde termina nossa liberdade. Até onde posso pisar. O intelectual precisa entender em que tipo de arte vai concentrar esforços: na panfletária ou aquela visando sacudir a sociedade por meio de temas que provoquem debates. É parecido com filho: não é porque saiu do seu esperma e se juntou ao óvulo da mulher amada, que lhe dá o direito de agredir ou fazer dele escravo. Quando entendemos essa fina e quase invisível divisão a convivência não vira conflito, resultando em mortes como ocorreu na redação da Charlie Hebdo em Paris. 

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