Excesso de segurança poderá tirar o brilho da Copa do Mundo |
Luís Alberto Alves
O ônibus trazendo os jogadores da Seleção
Brasileira entrou na Avenida 23 de Maio, uma das mais importantes de São Paulo,
após as 23 horas de ontem (10). Garoava, e logo chegou ao hotel, próximo ao
Obelisco do Ibirapuera. Alguns corajosos torcedores tentaram recepcionar Neymar
e Cia., mas o aparato policial os assustaram: PMs, Polícia Federal, soldados do
Exército e segurança particulares. O cordão de isolamento manteve o público
longe dos atletas.
Mais parecia um hotel em Bagdá, Iraque, onde
são grandes os riscos de atentados. Por causa de ameaça de greve dos
metroviários no dia 12, data de abertura da Copa do Mundo no estádio Itaquerão,
Zona Leste, todas as estações da Linha Vermelha, receberam policiamento
reforçado da PM e auxílio da Polícia do Exército. Ou seja, de homens preparados
para matar, nunca para reprimir.
A meta é proibir qualquer tipo de manifestação
no trajeto ou mesmo próximo do Itaquerão. Em nome de um evento esportivo,
realizado por uma entidade particular, no caso a Fifa, as 12 sedes onde
ocorrerão os jogos do Mundial, até a final no dia 13 de julho, a segurança
pública estará em todos os locais. Nem os altos dos edifícios, que possam
colocar em risco a vida de atletas e autoridades, estarão livres da presença de
atiradores de elite das Forças Armadas.
Com tantos policiais nas ruas, corre-se o
risco da Copa do Mundo perder sua beleza, de algo espontâneo, onde a alegria
dos torcedores é o tempero das partidas. Em caso de derrota, se um grupo
começar a xingar os jogadores, eles poderão ser presos? E caso alguém jogue o
copo cheio de bebida na direção do juiz suspeito de ignorar pênalti legítimo,
também pode cair na vala de suposto terrorista?
Segurança é preciso, mas calculo que o governo
brasileiro exagerou na dose. Mobilizar 180 mil homens, envolvendo Forças
Armadas, Polícia Federal, PMs, Polícia Civil, Polícia Rodoviária Federal,
agentes da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) infiltrados entre os torcedores,
além de 40 mil soldados do Exército é algo absurdo, quando se trata apenas de
uma Copa do Mundo.
A regra é impedir qualquer tipo de protesto
perto dos estádios, porque falar em atentados terroristas no Brasil é viajar na
maionese. Só na época da Ditadura Militar que eles ocorreram, muitas vezes praticados
por agentes do próprio regime, como foi na explosão de bomba no estacionamento
do Rio Centro, no começo da década de 1980, cuja missão ficou a cargo de um
tenente e um sargento do Exército.
Por que a soma astronômica de cerca de R$ 2
bilhões investida nesta operação de guerra contra manifestantes não foi
aplicada para reforçar o policiamento nas fronteiras, impedindo a entrada de
drogas e armas que abastecem o crime organizado? Não é interessante ao governo.
Não vira vitrine para o mundo. Por que inexiste a preocupação de oferecer
Segurança Pública à população, cada vez mais reféns dos criminosos.
Não é novidade na periferia, onde quem manda
são as facções criminosas. Inclusive ordenando o fechamento do comércio em
determinados horários ou mesmo autorizando quem pode circular ou não em
determinados locais.
Por outro lado
a Polícia Militar é educada para reprimir pobre, preto e favelado, tratando
todos como se fossem bandidos. Quando na verdade os mafiosos residem nas
mansões luxuosas dos bairros grã-finos.
Infelizmente vejo este investimento feito para
algo que não merece tamanha preocupação, pois após o dia 13 de julho, os cofres
da Fifa ficarão mais cheios de dinheiro e o cidadão comum continuará sofrendo
nas filas dos hospitais públicos, onde nunca tem seu problema de saúde
resolvido, as escolas prosseguirão com péssimo ensino e as favelas ainda
permanecerão como última opção de moradia, para quem deu a sorte de jogar num
time de futebol de elite. Ou seja, estão usando tiro de canhão para matar
formiga...
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