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segunda-feira, 5 de maio de 2014

Mundo cria sistema soft de discriminação


No festival de Woodstock, o sistema sutilmente começou o controle sobre os jovens

Luís Alberto Alves

 O sistema criado pela elite global continua inteligente. Quando percebeu que a discriminação racial, social, religiosa e sexual provocava escândalo, acirrando o confronto nas ruas, optou por algo mais refinado, porém mantendo a essência da maldade. Curioso que vários intelectuais discutem os problemas causados pelo apartheid do passado e esquecem que a sociedade entrou em outro modelo, pior.

 Antigamente, precisamente na década de 1950, as pessoas eram classificadas pela cor, idade, posição econômica e onde moravam. Esses dados ajudavam identificar rapidamente quem estava se candidatando a um emprego. O mecanismo facilitava a exclusão ou inclusão.

 Mas chegaram os explosivos anos 1960. Época de inúmeras passeatas por todo o mundo. O rastilho de pólvora era acesso tanto na América quanto na Europa. O sinal negativo contra a guerra nos Estados Unidos consistia no uso de cabelos compridos, afinal de contas não existem cabeludos ou barbudos nas Forças Armadas. Estávamos no auge do movimento hippie, da paz e amor.
Na década de 1950, poucos negros tinham acesso à rede de ensino nos Estados Unidos


                                                          Ditadura Militar
 No Brasil, parte da população, inclusive jovens, lutava contra a Ditadura Militar instalada no país pelo golpe de 1964. Em Cuba, antes de terminar a década de 1950, Fidel Castro e Ernesto Che Guevara foram as figuras importantes na derrubada do ditador Fulgêncio Batista, fantoche político bancado pelos Estados Unidos há décadas, transformando a ilha numa republiqueta das bananas iguais a muitas existentes na América Central. Na França, o ano de 1968 se transformou num pesadelo para o governo, com milhares de pessoas nas ruas exigindo mudanças.

 Mas o sistema é semelhante ao lutador de boxe experiente. Que assimila rapidamente os golpes, mesmo os desferidos violentamente em pontos sensíveis do corpo. Ao perceber a queda iminente, abraça o adversário para dificultar o desfecho final. O mesmo ocorreu em relação aos gritos ecoados pelos opositores. Sutilmente começou trabalhar nos bastidores, com o argumento de melhora na segurança e educação. Lentamente implantou sementes danosas para provocar alterações no modo de pensar a situação.

Che Guevara e Fidel Castro, peças importantes na revolução cubana, no final dos anos de 1950

 A droga, tão combatida e alvo de tabus no passado, começou lentamente a aparecer em novelas, filmes e até nas músicas, não com aparência ruim, mas como objeto de contestação, de liberação da grande energia existente na adolescência e juventude. Rapidamente a maconha, cocaína e outros entorpecentes sintéticos ganharam a periferia das cidades.

                                                          Woodstock
 O primeiro laboratório foi o inesquecível festival de Woodstock, realizado, em 1969, numa fazenda nos arredores de Nova York. Ali, com o aval do FBI e CIA, grande quantidade de todo tipo de droga esteve facilmente às mãos da multidão que se esqueceu da lama e falta de banheiro, para curtir poucos dias, segundo eles, de liberdade. Até fazer amor com o corpo cheio de barro virou charme, principalmente ao som de solos de guitarra de Jimi Hendrix, com a cabeça cheia de heroína.
Jimi Hendrix, um dos destaques no festival de Woodstock, morreu de overdose de drogas


 A proposta do sistema consistia no desarmamento dos ânimos dos jovens do final da década de 1960. Eles colocavam em xeque a política dos velhos coronéis, tanto na Europa quanto nos Estados Unidos, preocupados apenas em encher os bolsos de dinheiro, obtido em estranhas e famosas licitações envolvendo empreiteiras e indústria de armamentos e laboratórios.

 Vieram os anos 1970 e depois 1990. O excesso de drogas tirou dos jovens o desejo por mudanças. A preocupação era assegurar a próxima dose, deixando em segundo plano o futuro do país. Nada se igualava ao êxtase provocado pela cheirada profunda numa carreira de cocaína, cujo grau de pureza beirava apenas 30% misturada a pó de vidro, pois o restante era composto de solução de bateria, pó de mármore, talco e outras sujeiras. Ou sensação de colocar na boca um cigarro de maconha ou até mesmo viajar nas asas da heroína, que em qualquer vacilo transporta o viciado ao além, sem passagem de volta.
Passeata contra a Ditadura Militar no Brasil, na década de 1960


                                                          Crachás
 No final dos anos de 1990 o sistema lançou a discriminação soft. Empresas de vários setores implantaram sistema de identificação por meio de crachás. Pela cor deles, a portaria e a segurança sabia de qual setor aquele funcionário pertencia, e até o seu grau de importância administrativa. Naquele pedaço de papel plastificado, alguém recebia a classificação de alguém que merecia bom ou simples tratamento. É igual hospital, onde o estilo de roupa, mesmo branca, define quem é médico ou enfermeiro.

 Os bancos lançaram os cartões eletrônicos de clientes VIPs. Pela cor, o caixa e o gerente sabem onde devem pisar fundo no acelerador ou segurar a velocidade apertando o freio. Até no comércio, esse tipo de cartão faz a diferença. Revela a saúde financeira do seu portador. Alguém que merece receber bom tratamento ou o frio escanteio, de uma pessoa dura, que virou escrava do crédito rotativo, por falta de muito dinheiro na conta corrente. É igual viajar de primeira classe nos aviões, que sinaliza o potencial econômico do passageiro, revelando que a tripulação deve tratá-lo bem.
Sistema sobreviveu à queda do Muro de Berlin em 1988


 Mas as mudanças criaram outra forma de o comércio vender para um público refinado, na visão do sistema. Da década de 1980 para frente, ocorreu violenta explosão no surgimento de shopping centers. As lojas de ruas foram asfixiadas lentamente, principalmente os cinemas. Num curto espaço de tempo, a região central de São Paulo perdeu várias salas, algumas até tradicionais como a existente na Galeria Metrópole, na Avenida São Luiz com Praça Dom José Gaspar, Top Cine na Paulista, Metro na Avenida São João, Marrocos na Rua Conselheiro Crispiniano entre outros.
                                                        Clean
 Os shoppings concentraram inúmeros segmentos comerciais num só lugar, inclusive cinemas e praça de alimentação. O visual clean é a senha de que não pode existir qualquer tipo de poluição naquele templo de consumo. Em várias cidades do Interior do Brasil, eles viraram ponto de passeio aos finais de semana para parte de população que só vê a cor do dinheiro uma vez ao mês. Em São Paulo ganhou a importância que a praia tem no Rio de Janeiro e Bahia.

 Pelo estilo de roupa, o sistema identifica consumidores que estão como peixes fora da água naquele local. É a senha para a segurança dobrar a atenção e evitar qualquer tipo de problema. Nos shoppings existentes em points da burguesia como o Iguatemi, área dos Jardins, Zona Sul paulistana, o estacionamento revela o potencial econômico do freqüentador.

 É a proteção usada pelos ricos, mantenedores do sistema discriminatório existentes em todo o mundo, contra os pobres. Por exemplo: num prédio ou condomínio fechado, ninguém entra sem passar pelo crivo da portaria, onde precisa dizer o nome e deixar o número de documentos, além de ser fotografado. Mesmo morando na mesma cidade, precisa de autorização para entrar naquele local, como ocorria com os negros na África do Sul, no auge do apartheid. É algo soft, usando a desculpa da segurança, mas carregando na sua essência, o mesmo peso da discriminação.
Caso tenha dinheiro, a sepultura recebe nome, do contrário será ignorado pelo sistema



                                                           Adesivo
A pessoa só consegue descobrir o peso das mãos deste terrível apartheid quando esquece em casa o crachá da empresa onde trabalha, sendo barrado na portaria, principalmente se for de um departamento importante. Em determinadas cerimônias realizadas pelo governo federal, tanto no Congresso Nacional ou ministérios, o grau de relevância do convidado é conhecido pela cor do adesivo colado na lapela do paletó.

 O aval para andar livremente pela maioria das cidades brasileiras é o número da cédula de identidade ou RG aparecer com a sigla nada consta nos computadores da polícia. Do contrário, já será conduzido à delegacia, dependendo da gravidade do crime, ficar preso. A saúde financeira é conhecida pelo CPF (Cadastro de Pessoas Físicas). Caso apresente pendência no SPC (Serviço de Proteção ao Crédito), se transforma em alguém perigoso ao comércio, semelhante ao doente que traz no organismo moléstia contagiosa.


 Mesmo na hora da morte, quando todos são iguais, pois seus corpos estão sem vida dentro do caixão, o sistema é implacável. O desconhecido, cujo cadáver não foi reconhecido ou não tenha dinheiro para custear o sepultamento é classificado de indigente. Na cova, em vez de nome, aparecerá um número, escrito numa estaca de madeira, sem direito à cruz, no sinal de respeito a sua memória. 

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