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quinta-feira, 22 de maio de 2014

A dificuldade de ser negro no Brasil




Nas blitz policiais, motorista negro é suspeito sempre

Luís Alberto Alves

 Imagine você vestido de camiseta pólo, bermuda, tênis, cabelos cortados no estilo de jogador de basquete norte­americano, cheio de riscos, Iphone nas mãos, passeando tranquilamente pelas ruas arborizadas do Jardim Europa. Dentro de segundos aparecerá o carro da polícia que lhe pedirá documentos e você vai precisar explicar o que está fazendo naquele bairro, mesmo com a Constituição Federal garantindo o direito de ir e vir a qualquer cidadão.  Caso o rapaz fosse branco, de olhos azuis, trajando o mesmo tipo de roupa, não aconteceria isto.

  Em outra cena, o negro resolveu ir almoçar no restaurante elegante com a noiva. Ambos bem vestidos. Entram no saguão e logo percebem o olhar de reprovação de parte das pessoas que ali se encontram, a começar do funcionário que os recebe na recepção. O sorriso amarelo de boas vindas não esconde o brilho de reprovação dos olhos. Se falassem, eles diriam: “aqui não é lugar de preto”!

 Em outra situação, o executivo negro (são poucos, mas existem no Brasil) embarca no avião e se dirige à primeira classe. Ao acomodar a valise e sentar no seu lugar, não percebe o ar de reprovação de estar naquele espaço, destinado aos bem-nascidos, de pele clara, olhos verdes ou azuis, de nariz afinado e cabelos lisos. Alguém vai sussurrar dizendo que ele está ali por ser empregado de alguma grande empresa, do contrário ficaria na classe econômica, reservada aos sem dinheiro.
Engenheiro Arnaldo Rebouças

 Tarde da noite, início da madrugada, o Audi A4 prateado chama atenção da blitz polícia montada numa grande avenida de São Paulo. Logo o motorista recebe o sinal de parar e encostar. Atrás dele vem outro veículo top de linha, um Lexus avaliado em R$ 250 mil com dois jovens brancos, trajando blazers e camisa social. Reduzem a velocidade, porém recebem sinal verde para seguir adiante. O primeiro motorista, negro, do Audi A4, exibe a documentação solicitada, é aconselhado a descer do veículo que passa por revista. O sargento comenta baixinho com o tenente se o carro não é dublê. Após alguns minutos é liberado.

 No hospital top de linha, a família é apresentada ao cirurgião que fez a operação delicada responsável pela preservação da vida do adolescente que corria sério risco de morrer. Mas a cor negra da pele do médico, de forma subliminar deixa um ar de desconfiança naquelas pessoas. Talvez se ele fosse “clarinho” não iria melhorar a situação. Um deles até faz estranha comparação: “preto é bom jogando bola ou tocando samba no carnaval, mas trabalhando como médico fico em dúvida”!

 Essas situações fictícias narradas neste texto infelizmente são realidades no Brasil, todos os dias. O racismo, mesmo velado, é praticado em nosso país, onde mais de 50% da população é negra. O cidadão de pele escura enfrenta barreiras nos restaurantes de elite, primeira classe dos aviões, truculência policial nas blitz e até sua capacidade profissional é colocada em dúvida, quando consegue romper o cerco e exercer ofícios onde o negro é minoria.

 Existe uma famosa avenida em São Paulo, que raramente se fala no nome de quem a batiza; engenheiro Arnaldo Rebouças, negro de grande destaque na época do Brasil Império, o primeiro a usar concreto armado na construção civil no país. O que dizer do geólogo Milton Santos, elogiado no Exterior pela seriedade do seu trabalho, mas relegado ao ostracismo na USP (Universidade de São Paulo), local que serviu de palco para suas ricas e informativas aulas. Muitos filhos da burguesia quando via aquele homem entrar na sala no primeiro dia letivo, imaginava que fosse o faxineiro que iria limpar a mesa para professor sentar.
Professor Milton Santos

 O grande drama do negro brasileiro é ser obrigado a provar a todo instante que é competente. Não deve nada à Justiça, pois crime independe de cor, sexo, idade ou credo religioso. Por mais que faça o melhor, sempre vai pairar a incerteza. Precisa acertar a todo o momento. Caso fracasse ouvirá a triste e célebre frase: “só podia ser coisa de preto, não faz na entrada, mas faz na saída”! Se uma mulher branca sinta amor por um homem negro e resolva casar com ele, vai comprar briga com o restante da família, ouvindo conselhos do tipo: “você é menina de classe, case com alguém do seu nível”!

 Infelizmente esta é a realidade do brasileiro que teve a (in) felicidade de nascer com a pele escura e os cabelos não lisos e ter nariz parecido com batata. Vai precisar matar um leão todos os dias, lutar sempre contra a sombria comparação de ter sua cor associada ao mal. De provar que todos são iguais, principalmente quando descem à sepultura e serão consumidos pela terra. O único refúgio nessas horas de tormenta é apelar para Jesus Cristo, que nos ama independente do jeito que somos.


 Quanto aos homens, estes continuarão na cega e ignorante máxima de que as pessoas devem ser julgadas pela sua cor. Como se este quesito fosse a garantia de honestidade e competência, separando os bons dos maus. Nunca concordarei com isto, pois ninguém nunca pode sofrer qualquer tipo de julgamento pela sua cor, sexo, idade ou posição social. Somos uma única raça: a humana!

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