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segunda-feira, 12 de maio de 2014

Linchamento é sinal de uma sociedade doente





A dona de casa Fabiane de Jesus, vítima da truculência de uma sociedade doente

Luís Alberto Alves

 O amor perde espaço a cada dia com o crescimento da intolerância. O linchamento da dona de casa Fabiane Maria de Jesus, 33 anos, na segunda­feira (5) revela o ódio crescente em nossa sociedade, refém do consumismo. No trânsito muitos passam a buzinar e até a xingar o motorista que é lento ao sair após o semáforo abrir. Dentro dos bancos, a demora no atendimento dos caixas leva alguns consumidores à loucura.

 Mas qual a razão para cem pessoas resolver tirar a vida de alguém suspeito de seqüestrar crianças para sacrifícios em cultos de magia negra? Concordo que a Justiça brasileira é morosa e privilegia sempre os endinheirados e amigos dos poderosos em cargos governamentais. Porém, não é aconselhável ninguém tirar a vida do próximo, mesmo que pese sobre o suspeito a acusação de cometer vários tipos de crime. Para isso existe polícia e ela deve ser acionada para resolver o problema.

 Infelizmente a barbárie toma conta de todo o Brasil. A pior delas é a mentira usada pelos candidatos a governador e presidente da República. Brincam com o eleitor. Não sentem vergonha de prometer projetos que nunca irão sair do papel. Fazem jogo de cena, mas nos bastidores estão unidos no mesmo ideal de dilapidar a nação. Essa regra vale para situação e oposição. O importante é ficar bem financeiramente.

 É triste ver uma pessoa sofrer espancamento de multidão mais parecida com animais em fúria provocada pela fome ou fugindo de incêndio na floresta ou inundação do seu habitat. Pior é entrar no corredor dos hospitais públicos, de qualquer região do Brasil, é ver dezenas de pacientes amontoados pelo chão, por falta de vagas nos quartos, alguns aguardando a chegada do anjo da morte. Esses doentes sofrem o linchamento do descaso com a saúde pública, onde funcionários ganham salário de miséria.

 Outra situação igual ao linchamento é constatar a falta de educação e cuidado com os nossos idosos, tanto no transporte público ou mesmo quando vão o banco sacar a miséria conhecida pelo nome de aposentadoria. São pessoas que trabalharam mais de 35 anos, alguns sob péssimas condições, e recebem como retorno palavras ríspidas saídas dos lábios de motoristas de ônibus que falam mal deles e não param no ponto, ao perceber velhos aguardando a condução.

 Não podemos nos esquecer da barbárie cometida há séculos contra a população indígena brasileira. De legítimos donos das terras deste país, foram escravizados e expulsos de locais onde seus ancestrais moraram durante muitos anos. Empurrados para guetos administrados pela Funai (Fundação Nacional do Índio), a cada dia são dizimados por doenças e maus tratos recebidos pelas autoridades. Existem tribos que viraram reféns de grileiros de terras e saíram de suas tabas sob tiros, engrossando a fila de marginais na periferia das cidades brasileiras.

 Existe linchamento pior do que o realizado pela polícia no patrulhamento de rotina? Nesse trabalho, a PM em nível de Brasil trata negros e qualquer pessoa que não morem nos bairros de elite como criminosos. O cidadão morrer ou sofrer tortura por causa da cor da pele ou por residir numa favela tem efeito pior do que ser espancado pela multidão. Ele é carimbado como bandido por causa do estilo de roupa, corte de cabelo ou andar à noite.

 O espancamento da dona de casa Fabiane Maria de Jesus, no Guarujá (SP) revela que nossa sociedade está doente. Perdeu o bom senso. Pretende tomar o lugar de Deus e até do Poder Judiciário. Mostra um tecido social podre, sem lugar para compaixão e amor. Ou seja, o que vale é o individualismo, levar vantagem em tudo, nunca ter nenhum tipo de preocupação com o próximo. É passar por cima do outro na busca pela realização do sonho. Desde furar fila no caixa do supermercado, Metrô, banco até mentir para matricular a filha na creche.

 Mais triste é ver a multidão eleger heróis para salvar seus projetos de vida. Não é saudável deixarmos nas mãos do próximo a solução de problemas que pertencem a nós. Em nossa caminhada por este mundo, existem tarefas que cabe a cada um realizar, mas tomando o cuidado de respeitar o direito do semelhante que é o teu vizinho, colega de trabalho ou faculdade. É ruim constatar que a população começa a gostar de personagens violentos e até esportes onde pancadaria entre lutadores viram espetáculo, com direito a sangue jorrando do nariz e boca.

 Na verdade o linchamento de alguém mostra a falência dos bons modos, das relações amorosas e respeito. Essa prática é adotada quando as instituições democráticas perdem a credibilidade. Pior: barbárie e espancamento são filhos de mães conhecidas pelo nome de Ditadura. Ninguém merece perder a vida de forma tão trágica, com cidadãos que se dizem do bem, tomando o lugar de polícia, promotor e juiz. Há muito tempo que alguns setores da sociedade fomentam o ódio como recurso para resolver problemas sociais e até econômicos. Essa receita nunca deu certo, desde o início da civilização. Na briga do olho por olho, dente por dente, o brasileiro corre risco de ficar cego e banguela.





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