Luís
Alberto Alves
O clima no inferno não está nada bem.
Políticos de carteirinha estão furiosos com o que ocorre na Terra. “As pessoas perderam
o medo de vir para cá. Acham que o clima não é tão tenebroso e passaram a
atacar o diabo”, explicou o ex-governador Leonel Brizola. O dono da Bahia na
época da passagem por esse mundo, o ex-senador Antonio Carlos Magalhães,
defendeu a política do terror logo na porta do inferno. “O chefão está muito
mole. Precisa queimar forte os desobedientes. Eu fazia isso na Bahia e o
pessoal me respeitava. Nem o Maluf ousou me enfrentar, quando tinha todos os
militares ao seu lado”, esbravejou.
Num canto bem escuro o asqueroso delegado
Sérgio Paranhos Fleury, responsável pela morte de vários opositores do regime
militar de 1964, desfere forte soco na parede. “Nada melhor do que usar o pau
de arara para conhecer quem é macho. Político é mestre em falar, mas quando a
pimentinha (máquina usada para dar choque elétrico) começa a cantar a valentia
acaba. Fico desconfortado de ter tanto político corrupto aqui do meu lado”,
vociferou.
O ex-deputado Carlos Lacerda, feroz crítico de
Getúlio Vargas e apoiador do golpe que retirou o presidente João Goulart do
poder em 1964, tentou usar do seu argumento e ameaças contra satanás, mas
percebeu que no inferno existe dono. “Tentei minhas articulações, mas o chefe
não quis mudar a imagem deste lugar. Na Terra todo mundo fala mal do inferno.
Não é assim, pois existe muita gente boa morando neste outro lado do universo.
Até roqueiro nos faz companhia”, discursou.
Assim como agiam no planeta, os políticos
armaram gigantesca panela no inferno, incluindo nomes de peso: os imperadores
Nero, Júlio César, Pôncio Pilatos, Barrabas que escapou da crucificação na
cruz, mas não do fogo eterno, Mussolini, Hitler, John Edgar Hoover, chefão do
FBI durante 48 anos, Al Capone, o sindicalista sujo Jimmy Hoffa, Kadafi,
Anastasio Somoza, Ernesto Geisel, Emílio Garrastazu Médici, João Batista
Figueiredo, Margareth Thatcher, Ronald Reagan, Lyndon Johnson, Adhemar de
Barros, Felinto Müller, o narcotraficante Pablo Escobar.
A proposta principal era tentar mudar o modo
de agir de satanás. O objetivo é aumentar o maior número de pessoas neste
imenso caldeirão onde o é muito forte o odor de enxofre. “Eu prometi que os
britânicos teriam um ótimo governo. Acreditaram e fiquei como primeira-ministra.
Após assumir o poder fiz o inferno próximo da realidade no Reino Unido. Não
deixei transparecer que minha política de governo deixaria milhões sem emprego”,
lembrou a ex-dama de ferro Margareth Thatcher.
O ex-ditador Kadafi concordou. “Na Líbia vendi
a ideia do socialismo utópico. Menti tão bem que só sai do poder perto da
morte. O nosso chefe precisa mudar, com urgência, a fama de que o inferno é
ruim. O marketing é a chave do sucesso”, explicou. Antonio Carlos Magalhães
lembrou que atual o Congresso Nacional tem vários parlamentares evangélicos. “Agora
que o inferno vai aumentar a fama de ruim. Em nome de Deus recusam entrar nos
esquemas de corrupção existentes ali desde a década de 1950”, disse.
O diabo não é bobo. Logo foi avisado da
articulação e resolveu colocar os pingos nos is. “Vocês são espertos. Mas
coloco todos no bolso de minha capa. Aqui não aceito rebelião. Nem muito menos
essa conversa de democracia. Aqui é terror e chicote. Dinheiro, fama e poder
não têm valor neste lugar”, gritou. Vários políticos tentaram articular, porém
não conseguiram mudar a opinião do príncipe das trevas, nem usando o general
Napoleão, experiente em vencer batalhas. A escuridão aumentou assim como o
forte cheiro de enxofre. De um canto dava para ouvir o ex-presidente Figueiredo
cochichar: “cheiro de bosta de cavalo era melhor”!
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