Durante a Ditadura Militar a tortura era a resposta para qualquer tipo de reivindicação |
Luís
Alberto Alves
Vejo com preocupação a Marcha com a Família
marcada para o dia 28 em diversas capitais do País. Os idealizadores deste
triste evento dizem que exigem a volta das Forças Armadas ao poder para retirar
sujeira do Congresso Nacional e do Palácio do Planalto. Em 1964 ocorreu o
mesmo, e os militares mergulharam o Brasil num regime sangrento, onde tortura e
morte viraram rotina.
O mesmo filme se repete agora. Naquela época
milhares de pessoas foram às ruas pedindo a queda do então presidente João
Goulart (PTB), eleito diretamente. O mote é que o Brasil poderia virar uma
nação comunista como tinha ocorrido com Cuba no final da década de 1950. Era
explícita a raiva contra os seguidores de Goulart. Todos, sem exceção eram
chamados de corruptos.
As Organizações Globo, por meio do seu jornal
O Globo, colocavam fogo nessas manifestações. No início da década de 1960 ainda
não existia a Rede Globo de Televisão, mas por meio da Rádio Globo o incentivo
ao golpe era passado através de reportagens tendenciosas, no mesmo estilo usado
hoje pelo Jornal Nacional.
Para a elite brasileira, a salvação da lavoura
passaria pela tomada do poder pelas Forças Armadas, fazendo eleições diretas em
1965 e colocando o Brasil novamente no eixo do capitalismo, visto que as
reformas de base propostas pelo governo eram consideradas comunistas,
principalmente a anexação de terras de grandes latifúndios para reforma
agrária, e freios na remessa de lucros ao Exterior.
Os falsos discursos deram certo. No dia 1° de
abril o presidente João Goulart foi deposto, seguindo para o exílio no Uruguai.
Uma ala das Forças Armadas acenou com resistência aos golpistas, mas ele
temeroso de uma guerra civil, preferiu não reagir. O Brasil mergulhou em 21
anos de trevas.
Os militares não aceitaram fazer eleições em 1965.
Pelo contrário começaram a endurecer o regime. Não demorou em cassar a maioria
dos partidos políticos e deixar apenas dois: Arena (governista) e MDB (suposta
oposição). Os apoiadores do golpe, como o deputado Carlos Lacerda entre outros
passaram a ser perseguidos. Manifestações públicas eram reprimidas pela
polícia, às vezes até com tiros.
Quatro anos depois o Congresso Nacional foi
fechado e direitos políticos de vários parlamentares suspensos. Por causa do
surgimento de grupos defendendo a luta armada como meio de combater a Ditadura,
a tortura entrou na ordem do dia. Virou rotina preso político desaparecer ou
morrer tomando choque elétrico. pendurado no pau de arara.
Até 1972 o Brasil viveu a era do milagre
econômico, com crescimento de até 12% ao ano. Mas a crise do petróleo no ano
seguinte mostrou o quanto eram falsas as promessas do regime militar. A
inflação começou a subir de mãos dadas com o desemprego. A morte do jornalista
Vladimir Herzog sob tortura, em 1975, no DOI/Codi em São Paulo revelou que o
terror havia tomado conta do País.
O mago da ditadura, o general Golbery do Couto
e Silva, percebeu que não dava mais para segurar o descontentamento da
população. Optou em abrir a política lentamente. A derrota da Arena para o MDB
em 1974 mostrou que o brasileiro não aceitava mais os militares no poder. Em
1979 veio anistia para os exilados.
Mas o filme de terror só chegou ao fim em 1985
com a eleição de Tancredo Neves derrotando Paulo Maluf, o candidato da
ditadura. Naquela época o País tinha 40% de inflação ao mês. O desemprego
passava dos 20%. Os militares perceberam que não dava mais para segurar o
rojão. Foram embora, deixando para trás um rastro de mortes e desaparecimentos
e casos de corrupção nas estatais, sem investigação, pois naquela época ninguém
poderia investir contra a autoridade deles, sob risco de morte.
Infelizmente os herdeiros da mesma elite podre,
que incentivaram a população a ir às ruas em 1964, agora exigem o retorno dos
militares como se eles fossem a solução dos graves problemas econômicos e
políticos que vivemos hoje. Pensamento errado. O Brasil precisa é de profunda
reforma política. Para que eleição não seja sinônimo de negociata ou troca de favores
entre candidatos e grupos econômicos. Do contrário iremos mergulhar numa guerra
civil, onde os inocentes pagarão o preço, como ocorreu nos 21 anos de 1964 a
1985.
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