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sexta-feira, 20 de março de 2015

Fãs do horror marcam Marcha da Família para final de março




Durante a Ditadura Militar a tortura era a resposta para qualquer tipo de reivindicação

Luís Alberto Alves

 Vejo com preocupação a Marcha com a Família marcada para o dia 28 em diversas capitais do País. Os idealizadores deste triste evento dizem que exigem a volta das Forças Armadas ao poder para retirar sujeira do Congresso Nacional e do Palácio do Planalto. Em 1964 ocorreu o mesmo, e os militares mergulharam o Brasil num regime sangrento, onde tortura e morte viraram rotina.

 O mesmo filme se repete agora. Naquela época milhares de pessoas foram às ruas pedindo a queda do então presidente João Goulart (PTB), eleito diretamente. O mote é que o Brasil poderia virar uma nação comunista como tinha ocorrido com Cuba no final da década de 1950. Era explícita a raiva contra os seguidores de Goulart. Todos, sem exceção eram chamados de corruptos.

 As Organizações Globo, por meio do seu jornal O Globo, colocavam fogo nessas manifestações. No início da década de 1960 ainda não existia a Rede Globo de Televisão, mas por meio da Rádio Globo o incentivo ao golpe era passado através de reportagens tendenciosas, no mesmo estilo usado hoje pelo Jornal Nacional.

 Para a elite brasileira, a salvação da lavoura passaria pela tomada do poder pelas Forças Armadas, fazendo eleições diretas em 1965 e colocando o Brasil novamente no eixo do capitalismo, visto que as reformas de base propostas pelo governo eram consideradas comunistas, principalmente a anexação de terras de grandes latifúndios para reforma agrária, e freios na remessa de lucros ao Exterior.

 Os falsos discursos deram certo. No dia 1° de abril o presidente João Goulart foi deposto, seguindo para o exílio no Uruguai. Uma ala das Forças Armadas acenou com resistência aos golpistas, mas ele temeroso de uma guerra civil, preferiu não reagir. O Brasil mergulhou em 21 anos de trevas.

 Os militares não aceitaram fazer eleições em 1965. Pelo contrário começaram a endurecer o regime. Não demorou em cassar a maioria dos partidos políticos e deixar apenas dois: Arena (governista) e MDB (suposta oposição). Os apoiadores do golpe, como o deputado Carlos Lacerda entre outros passaram a ser perseguidos. Manifestações públicas eram reprimidas pela polícia, às vezes até com tiros.

 Quatro anos depois o Congresso Nacional foi fechado e direitos políticos de vários parlamentares suspensos. Por causa do surgimento de grupos defendendo a luta armada como meio de combater a Ditadura, a tortura entrou na ordem do dia. Virou rotina preso político desaparecer ou morrer tomando choque elétrico. pendurado no pau de arara.

 Até 1972 o Brasil viveu a era do milagre econômico, com crescimento de até 12% ao ano. Mas a crise do petróleo no ano seguinte mostrou o quanto eram falsas as promessas do regime militar. A inflação começou a subir de mãos dadas com o desemprego. A morte do jornalista Vladimir Herzog sob tortura, em 1975, no DOI/Codi em São Paulo revelou que o terror havia tomado conta do País.

 O mago da ditadura, o general Golbery do Couto e Silva, percebeu que não dava mais para segurar o descontentamento da população. Optou em abrir a política lentamente. A derrota da Arena para o MDB em 1974 mostrou que o brasileiro não aceitava mais os militares no poder. Em 1979 veio anistia para os exilados.

 Mas o filme de terror só chegou ao fim em 1985 com a eleição de Tancredo Neves derrotando Paulo Maluf, o candidato da ditadura. Naquela época o País tinha 40% de inflação ao mês. O desemprego passava dos 20%. Os militares perceberam que não dava mais para segurar o rojão. Foram embora, deixando para trás um rastro de mortes e desaparecimentos e casos de corrupção nas estatais, sem investigação, pois naquela época ninguém poderia investir contra a autoridade deles, sob risco de morte.

 Infelizmente os herdeiros da mesma elite podre, que incentivaram a população a ir às ruas em 1964, agora exigem o retorno dos militares como se eles fossem a solução dos graves problemas econômicos e políticos que vivemos hoje. Pensamento errado. O Brasil precisa é de profunda reforma política. Para que eleição não seja sinônimo de negociata ou troca de favores entre candidatos e grupos econômicos. Do contrário iremos mergulhar numa guerra civil, onde os inocentes pagarão o preço, como ocorreu nos 21 anos de 1964 a 1985.


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