Postagem em destaque

Governo cria malha aérea emergencial para atender o Rio Grande do Sul

EBC   Radiografia da Notícia *  Canoas receberá 5 voos diários. Aeroportos regionais ampliam oferta *  Antes do fechamento, o aeroporto da c...

quarta-feira, 10 de setembro de 2014

Pancadão Ostentação reflete pobreza de espírito




MC Boy do Charmes na gravação de um clipe...

E Wilson Simonal no auge da fama cantando no ginásio do Maracanãzinho, no Rio de Janeiro

Luís Alberto Alves
 “E se o dinheiro não cobrir nossa farra desse dia/ meu cordão de ouro vai ficar de garantia/ depois da balada vou pra Love Story arrastar mais top pra minha mansão/ com a fiel dou um role no shopping, depois almoço na fogo de chão/boa fragrância, boa impressão/ ostentação é questão de poder/ a correria traz a condição/ a condição proporciona o lazer..” Esse trecho da música do MC Boy do Charmes, “Você vale aquilo que tu tem” revela a carência de espírito de boa parte destes pseudo artistas.
 Não sabem a diferença entre riqueza e ostentação. Quem é classe média alta, tem muito dinheiro no banco e vive nas mansões das áreas nobres do Brasil, deixa em segundo plano a sedução de se exibir. Geralmente pessoas que apelam para este tipo de postura são carentes espiritualmente. Para ganhar status na sociedade necessitam comprar carros caros, de grife, roupas de costureiros famosos, jóias de elevado valor e virar arroz de festa em diversos eventos.
 Aliás, existe um famoso clube na capital paulista que recusa no quadro de sócios milionários sem tradição. Precisam ter família com mais de 90 anos de riqueza. Bom nome na cidade. Alguém que ganhou dinheiro e não corre o risco de ficar pobre da noite para o dia, como já acontece com investidor Eike Batista. Ele mesmo não conseguiria entrar neste clube, por que seus antepassados passavam longe do acúmulo de fortuna.
 Ao analisar algumas letras destes artistas cometas (logo aparecem e rápido desaparecem) percebo nas entrelinhas o elogio ao crime organizado. Isto é visível em uma das letras de MC Guime quando deixa bem claro como resolve as divergências:”.. Mas geral fica em choque quando ele entra em ação/só fuzil 2010, estampado no peito o vulgo de ladrão/ a vacilação tá aí, mas só vacila quem quer vacilar/se correu pelo errado é rátátátátátá..”
 Como vivemos numa sociedade onde pessoas são julgadas pelos bens de consumo que estão em suas mãos, logo se acredita que o “pobre” é alguém azarado, porque carrega apenas o conhecimento como riqueza da vida. O problema é que inúmeras adolescentes, fascinadas pelo dinheiro fácil transformado em telefones celulares, roupas, calçados, perfumes, grande freqüência nos salões de beleza, imaginam que estão do lado certo da história. Engano.
 Por falta de bons valores familiares, esses artistas cometas agem iguais aos famintos ao visitar a mesa farta das churrascarias. Comem em excesso, por medo de não poder repetir aquela experiência. Os representantes do Pancadão (porque Funk original só é tocado e cantado nos Estados Unidos) partem para a gastança comprando o maior número possível de objeto de consumo para mostrar à sociedade que entraram no clube dos ricos. Infelizmente fizeram isso pela porta dos fundos e logo vão desaparecer.
 Este tipo de postura não é novidade no mundo artístico. Na década de 1960 o cantor Wilson Simonal ganhou muito dinheiro e fama. Tinha um programa na extinta TV Tupi e dois na Record. Suas músicas faziam sucesso e vendia discos igual pipoca na porta de cinema ou escola. Conseguiu fazer show no ginásio do Maracanãzinho para mais de 30 mil pessoas. Era considerado no Exterior também, principalmente nos Estados Unidos, onde Stevie Wonder fez a versão em inglês de um dos seus grandes sucessos “Menina que desce a ladeira”.
 Como ocorre hoje com cantores do Pancadão Ostentação, Simonal tinha o rabo preso com autoridades policiais da Ditadura Militar que ficou no governo de 1964 a 1985. Eram criminosos, mas usando distintivos das Forças Armadas. Ao suspeitar que seu contador estivesse lhe roubando, Simonal o entregou para sofrer tortura nas mãos dos carrascos daquele governo podre. O rapaz apanhou muito e quase morreu.
 Numa época em que qualquer atitude era considerada subversiva, os pés de barro de Simonal acabaram descobertos quando Caetano Veloso prestava depoimento no temível Deops (delegacia responsável pela investigação de crimes políticos, atualmente extinta). De repente Simonal entra numa sala, exclusiva para autoridades. Um policial o repreende e recebe como resposta: “não se preocupe, sou da casa”.
 A casa caiu para o menino de ouro da MPB da década de 1960 e 1970. Aos poucos os artistas combativos descobriram quem era o dedo duro no show bizz. Logo Simonal passou a fazer poucos shows, perdeu o posto de garoto propaganda de várias cadeias de lojas e passou a vender poucos discos. Caiu no anonimato. Morreu no ano 2000 na pobreza e doente. Nunca mais se reergueu.
 Ele cometeu o mesmo erro que hoje é repetido por vários jovens do Pancadão Ostentação: ligação com criminosos e abusar de gastos excessivos. Imaginam que a fama é eterna e o sucesso nunca terá fim. Na vida tudo passa. Dinheiro nas mãos de pessoas sem noção de gastos e valor é igual vendaval. Provoca forte barulho no começo e depois passa. Por causa das letras de mau gosto e péssimos arranjos, o Pancadão Ostentação não terá vida longa.

  

Nenhum comentário:

Postar um comentário