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quinta-feira, 20 de março de 2014

Quais motivos levam alguém à mendicância?



Vários motivos levam alguém a morar nas ruas

Luís Alberto Alves

 Ao andarmos pelas ruas nos deparamos com mendigos, alguns até jovens. Qual a razão para alguém ir fazer das ruas um lar? De forma consciente é difícil entender por que homem ou mulher abandona a casa para enfrentar os perigos externos, dormir ao relento, fazer do lixo alimentação e matar a sede com a água que escorre pelas calçadas ou espirra nas fontes das praças.

 Várias teses são levantadas, entre elas a violência doméstica, que colabora para que crianças fujam da presença da família que as maltratam e de mulheres que optam pelas ruas a ficar sob jugo do marido agressor. A questão é que nas ruas o problema vai aumentar, pois é um território de ninguém, onde a proteção inexiste, principalmente por parte da polícia.

 Muito tempo atrás, no final da década de 1990 entrevistei um mendigo e lhe perguntei qual o motivo para ele estar naquela situação, fazendo do banco da praça o seu colchão e jardim o sofá. De imediato seus olhos ficaram cheios de lágrimas. Logo começou descrever sua história. Era engenheiro eletrônico, havia participado do desenvolvimento de programação da primeira linha do Metrô de São Paulo em 1974. Ganhava bom salário e mantinha bom padrão de vida.

  Casado, com três filhos, tinha a felicidade no lar. Viajava constantemente ao lado da família. Num final de semana sofreu um grave acidente, só restando ele vivo, após dias de internação. Não aguentou a perda. Mergulhou no álcool até perder o emprego. Passado anos, foi morar na rua para tentar esquecer a tragédia que lhe abateu. Elogiou o Metrô, que fez todo esforço para lhe retirar do alcoolismo, mas a dor da solidão prevaleceu e saiu do trabalho.

 Em outro caso conversei com um menino, talvez com sete anos de idade, na região da Praça da Sé, na década de 1980. De calção, sem camisa e descalço, lhe questionei o porquê de escolher a rua como casa. A resposta veio fulminante: “Em casa apanho todos os dias. Prefiro aqui fora onde ninguém me bate. Tenho paz”.


 Os problemas são inúmeros, mas sempre têm ligação com traumas. Essas pessoas tentam esquecer o passado de dor longe do seu lar. Como se as ruas funcionassem como calmante. Longe das imagens domésticas, tentam sobreviver apagando da mente cenas que lhes trouxeram sofrimento. 

Depois que chegam neste estágio, aprendem suportar as durezas impostas pela vida a quem escolhe a rua como casa. O coração e a mente dificilmente aceitam mais a sua rotina existente dentro de um lar. Só Deus para mudá-los de ideia.

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