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quarta-feira, 5 de março de 2014

O sonho do Carnaval acabou



Luís Alberto Alves

 Quarta-Feira de Cinzas nublada e provavelmente com muita chuva durante o transcorrer do dia. Este é o final do sonho da folia de Carnaval iniciada na sexta-feira (28). A maioria das pessoas que mergulhou nesta “piscina” de suposta alegria procurou sufocar as dores diárias e até foram em busca dos inebriantes minutos de fama. A chance de aparecer na televisão sem pagar e chegar às casas de milhões de brasileiros e até estrangeiros que ainda encontram paciência para assistir algo que não traz qualquer tipo de conhecimento.
A modelo Dani Sperle trocando de roupa no Sambódromo do RJ


 É a busca pela fama que faz uma mulher, como a modelo Dani Sperle, ex-namorada do problemático jogador de futebol Adriano, atualmente no Atlético/PR, e do ator Alexandre Frota, aparecer nua na concentração do Sambódromo, Rio de Janeiro, na segunda feira (3), para vestir a fantasia e desfilar. Outras se jogam nos braços de jogadores, atores e empresários visando encontrar o porto seguro financeiro, talvez numa suposta gravidez, garantindo durante 18 ou 21 anos pensão para o filho gerado por interesse.

 O Carnaval tem a imensa capacidade de iludir. Nos cinco dias de folia (Na Bahia a festança dura mais) meninas tímidas revelam a personalidade oculta da perversão e até da prostituição. Algumas, daqui a nove meses, se tornarão mães de filhos que o pai nunca conhecerá. É como se essa festa adormecesse a mente e as distâncias sociais e econômicas virassem fumaça. A patricinha, que no dia a dia sente nojo de empregados domésticos e até do porteiro da faculdade onde vai comprar o diploma e saciar o ego dos pais, sentirá prazer ao lado do ritmista musculoso, que fora da escola de samba ganha a vida como trabalhador braçal ou mesmo no transporte de carga.

                                                        Suspeita da discriminação
 As loiras sejam nos blocos de ruas ou dentro dos Sambódromos espalhados pelo Brasil, vão se atirar nos braços dos negros e até saciar a vontade, que na maioria dos meses do ano não ocorre, de estar ao lado deles sem a suspeita da discriminação. Fora do Carnaval é muito raro uma mulher loira, bonita, de braços dados com um homem da pele escura; exceção se ele for pagodeiro, jogador de futebol ou vôlei. Mas durante a festança que invade o Brasil nesta época do ano tudo é liberado. Até sentir prazer por alguém, que diariamente a pessoa tem nojo.

 Numa democracia de fachada, o grã-fino aceita sem crítica desfilar ao lado do pobre, usando o mesmo tipo de fantasia. A patroa, que nos 11 meses e meio do ano pisa na empregada em jornadas que ultrapassa às 18 horas diárias, ficará alegre junto com ela, tentando cantar o samba enredo da escola e requebrar, em busca dos seus segundos ou minutos de fama.

 Os políticos, como sempre acontece, marcarão presença nos camarotes regados a bebidas alcóolicas, algumas importadas, e quitutes que nunca aparecerão na mesa do pobre. Não sentirão vergonha de sair do aconchegante posto e beijar a bandeira da escola que estiver passando por ali. Nessa hora parece que as diferenças ideológicas desapareceram. Todos estão no mesmo barco. O corrupto ao lado de quem adora fazer discurso moralista. O importante é esquecer o Brasil real e desfrutar das ilusões despejadas pelo Carnaval.

                                                          Mudança de postura
 Até a polícia muda de postura. O negro perseguido durante a maior parte do ano não é incomodado. Perde a aura de suspeito que carrega, seja trabalhador ou honesto. Mesmo na concentração ou perto do banheiro dos bailes fechados, como ocorre no Rio de Janeiro, nada leva os policiais a agir de forma brusca. O criolo de trança rastafári, sempre parado nas temíveis blitz da madrugada, tem a liberdade de dançar e cantar nesses cinco dias de festa. Só os excessos são coibidos, para não passar a imagem de falta de lei.

 A televisão, que só exibe brancos e loiras no comando de novelas, programas de auditórios, reality shows e filmes, abre espaço para comentaristas negros falarem sobre as qualidades positivas ou negativas das escolas de samba. É quando o Brasil real aparece nos milhões de televisores. O País que vemos todos os dias nas ruas, emprego, escola (principalmente as públicas), filas de hospitais e feiras livres. A nação onde é gigantesca a miscigenação, mostrando a riqueza de cores do encontro dos negros livres, entre aspas da escravidão senzala e presos na miséria da favela, imigrantes, invasores (já existiam pessoas no Brasil, quando os portugueses aqui chegaram) e índios.

 Nesta época do ano o samba não é visto como música de periferia ou de bagunceiros (como pensam alguns veículos de comunicação). Apesar de que as atuais letras das músicas que embalam as escolas no Carnaval ficaram muito pobres. O batuque é liberado. Poucos torcem o nariz. Até os roqueiros de plantão entram na folia. Porém, tudo tem um porém, o sonho permanece enquanto existe sono. Chega a hora de acordar e voltar à realidade. Do Brasil real, das grandes diferenças sociais e econômicas.

                                                           Burro de carga
 É preciso retornar ao país que trata a população como se fosse burro de carga, principalmente com a cobrança de mais de cem impostos, entre diretos e indiretos. Arrecada bilhões de reais e devolve ninharia no investimento em Segurança Pública, Saúde, Educação e Transporte. Da triste realidade de um Judiciário doutrinado apenas na punição de pobres, pretos e prostitutas. Que livra os filhos de milionário ou bilionário da cadeia, mesmo quando atropelam pessoas no acostamento de rodovias, ignora políticos e empresários da prostituição com menores no Amazonas.

 A Quarta-Feira de Cinzas traz a dura realidade do hospital público abarrotado de pacientes em busca de atendimento por funcionários que ganham baixos salários e sofrem com a falta de equipamentos e boas condições de trabalho. O retrato cruel de um transporte público onde o povo é espremido igual sardinha dentro de ônibus, trens ou metrôs. Cobram tarifas caras e oferecem serviço de péssima categoria. Empresas dominadas por carteis e devedoras de milhões aos cofres da Previdência Social, mas inexplicavelmente tratadas como copos de cristal pelo governo.



 A volta dos dias chuvosos, pois as águas de março representam o final do Verão, provocando enchentes em diversas cidades e deixando no prejuízo inúmeras famílias. Dos velhos problemas da falta de segurança, obrigando a população a fechar a boca para os simpatizantes do mal, que a cada dia tomam conta das nossas ruas. De não saber qual o preço do feijão, arroz, carne, verdura, tomate ou fruta quando voltar ao supermercado para fazer compra. Da realidade que o Carnaval nunca mudará: a pobreza de espírito existente no corpo de quem procura sossego onde só há tormento e falsa sensação de bem-estar. Bem-vindo ao Brasil que você saiu no dia 28 de fevereiro. 

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