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terça-feira, 12 de agosto de 2014

Você conhece todos os problemas do seu próximo?

Robin Williams no inesquecível filme "Bom Dia Vietnã"



Luís Alberto Alves

 A sabedoria popular diz que cada pessoa tem uma cruz para carregar durante a vida, e o seu peso é proporcional. A minha não serve para você nem a tua para mim. Às vezes imaginamos que artistas e personalidades famosas não tenham problemas. Vivem num mundo cor de rosa, bonito, sem nenhum tipo de aflição. Mentira. Eles enfrentam barreiras, talvez intransponíveis para o cidadão comum, acostumado a dirigir automóveis populares ou andar igual sardinha em lata no transporte coletivo.

 O suicídio do ator Robin Williams é a ponta do iceberg dessa polêmica questão. Quais motivos levariam alguém, teoricamente bem de vida, a se matar? Profissional badalado em Hollywood e longe do ostracismo, onde muitos de seus colegas estão jogados, ele teria se enforcado, por motivos até agora desconhecidos.

 Infelizmente nunca temos condições de saber o que se passa na cabeça de uma pessoa depressiva. Ali, trancada nesse tenebroso mundo, o futuro suicida sofre no silêncio. Não consegue colocar para fora a amargura guardada no fundo da alma. Por razões desconhecidas perde as forças para vencer os fantasmas responsáveis pela perda de vontade de continuar sobrevivendo.

 As cobranças existem nos diversos seguimentos onde trabalhamos. O técnico de futebol ganhará elogios da torcida enquanto o time ganhar títulos. Quando começar a descer a ladeira da derrota, logo ganhará o bilhete azul, engrossando o time dos desempregados. O Barcelona fez isto quando voltou ao patamar das equipes comuns, levando tremenda goleada do Atlético de Madrid. O mesmo ocorreu com Felipão após os inesquecíveis 7 a 1 da Alemanha nesta Copa do Mundo de 2014.

                                                                Festivas
 Por causa do nosso ritmo frenético de vida deixamos de prestar atenção ao nosso próximo. Às vezes falamos pouco até com filhos, esposa ou esposo. Primos e tios são lembrados nas datas festivas de final de ano. O vizinho do lado deixa de ser alguém interessante, até ouvirmos a notícia de que colocou fim à própria vida.

 Quantas vezes esquecemos de conversar com nossos filhos. Sentarmos ao lado deles na sala ou cama para sabermos o que fazem na escola ou faculdade. Questionar ou até mesmo perguntar a respeito de algum problema ou desabafo. Optamos pela tática do presente, de preferência eletrônicos. Esquecemos que presente não compra amor, porém amor adquire presentes.

 Hoje a solidão marca forte presença nos condomínios de apartamentos luxuosos. Da rua olhamos para o imenso prédio e imaginamos que ali só moram pessoas felizes, sem qualquer tipo de problema. Conheci um empresário residente num desses imóveis, decorado com mobília de bom gosto. A crise familiar envolvendo filhos e esposa quase o levou a pular pela janela na busca do alívio que a morte não iria lhe proporcionar.

 Outros, principalmente artistas e esportistas, após deixarem de interessar às colunas sociais, iludem a solidão com doses elevadas de drogas, principalmente álcool. Lembro de famoso cantor, que morreu fazendo sucesso, dono de voz linda e admirado por jovens nas décadas de 1970 e 1980. Num desabafo confessou que contratava prostitutas para dormir ao seu lado, quando estava sozinho em casa. Não fazia sexo com elas, deseja apenas companhia.

                                                                  Solitário
 Nem a fama e o dinheiro serviram para aplacar a dor de viver solitário. Nos shows era perseguido pelas meninas de 18 anos. Não era bonito, mas por causa da suas lindas canções, a maioria sucesso até hoje, precisava ceder aos abraços e beijos das fãs. As garotas desconheciam que o ídolo delas estava carente de carinho.

 O sucesso é algo solitário. O profissional vive esta experiência sozinho. Mesmo cercado de inúmeras pessoas. Cai no círculo vicioso de manter longe o fracasso. Passa a concentrar forças apenas no seu desempenho. Alguns nem dormem mais direito. Levam o trabalho para casa e dividem as tarefas com a família.

 Quantas pessoas não continuam discutindo com esposa e filhos o acontecido dentro da empresa. Falam do funcionário língua solta, do invejoso, da inveja e do puxa tapete. Em vez de falarem de assuntos relacionados ao casal, persistem nos assuntos de emprego. Quanto mais tempo de empresa tiver, essa postura vai perdurar. É a forma de mostrar sua importância naquele local.

 Nenhum empresário pratica caridade com trabalhador. Ele é pago para gerar lucro, manter a máquina funcionando em bom estado. Após deixar de render o necessário e passar a enfrentar problemas de saúde, logo sentirá o gosto amargo da demissão. Independente de quantos anos tenha naquele local. É regra básica do mercado.

                                                                 Filmes
 Porém o que leva um profissional cortejado pelo mercado, apesar de estar com 63 anos, resolver se matar? Como ocorreu com Robin Williams? A indústria do cinema dos Estados Unidos sabia que ele poderia continuar proporcionando muito lucro através de bons filmes. Não era alguém desprezível, igual carta de baralho, nem muito menos jogador de futebol já enfraquecido pelo peso da idade. Estava no ápice.

 Os seus familiares eram próximos dele ou vivia isolado dentro de casa? Tinham ouvidos abertos sempre para os desabafos dele ou apenas gostavam dos personagens inesquecíveis interpretados nos inúmeros filmes em que trabalhou? Talvez nunca iremos conhecer as respostas. Quem poderia falar a respeito disso levou esse segredo para o além: o próprio Williams.

 Que a morte desse grande ator sirva de alerta para todos nós. Precisamos abrir nossos olhos e passar a prestar atenção aos nossos familiares. Investir tempo visitando amigos e parentes que não vimos há muito tempo. Jogar um pouco de conversa fora. Deixar de lado, por algumas horas, a massacrante rotina profissional. Sentarmos à mesa, sem qualquer etiqueta, comermos pão com as mãos, enfiarmos o dedo no copo de requeijão cremoso e colocarmos a conversa em dia.

 Ficar em silêncio ouvindo o nosso amigo ou parente falar de suas lutas e vitórias. Prestar atenção aos projetos que ainda sonha concretizar, mesmo que para nós pareçam utopias. Tudo de forma bacana, deixando smartphone desligado, longe das infalíveis redes sociais, para sermos instrumentos que possa impedir aquela pessoa de achar que o problema da solidão é resolvido pelo suicídio. Como animais sociais, o individualismo não deve continuar prevalecendo em nossas vidas.


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