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São Paulo
Elaine
Patricia Cruz - Repórter da Agência Brasil
O Cemitério Municipal de Campo
Grande, na zona sul da capital paulista, recebeu hoje (18) uma placa em memória
de três vítimas da ditadura militar, mortas por agentes do Estado, e que ali
foram sepultadas. A instalação da placa atende uma recomendação das comissões
da Verdade Nacional e Municipal de São Paulo, que recomendaram a criação de
marcos de memória relacionados às violações de direitos na época da ditadura.
A placa homenageou Emmanuel Bezerra
dos Santos e Manoel Lisboa de Moura, militantes do Partido Comunista
Revolucionário (PCR), que morreram no dia 4 de setembro de 1973, após serem
torturados no DOI-Codi em São Paulo. Além deles, a placa também traz o nome de
Santo Dias da Silva, um operário metalúrgico que foi assassinado por um agente
do Estado quando tinha 37 anos, durante um piquete na frente da fábrica onde
trabalhava.
Ana Maria do Carmo Silva, viúva de
Santo Dias, como ele é mais conhecido, acompanhou a cerimônia de inauguração da
placa. "Fui casada durante 14 anos e fui separada brutalmente dele pela
ditadura. Foi uma morte estúpida, mas que não acabou. Hoje, se tem uma árvore e
se tem uma placa, é a luta do Santo Dias e de tantos trabalhadores" ,
disse.
Ana Maria disse que Santo Dias foi
morto em frente a uma empresa metalúrgica onde trabalhava. "Ele estava em
greve. Veio a repressão. Reprimiram todos os trabalhadores e, neste momento, o
Santo, que era uma das lideranças, recebeu um tiro à queima-roupa. E queriam
desaparecer com o corpo".
Além da placa, também foram plantados
três ipês no local em memória das três vítimas. "A árvore é a vida. A
placa é uma memória que a gente acredita e que vai continuar para mostrar que
houve ditadura e que ela nunca pode voltar".
A procuradora Eugênia Augusta
Gonzaga, presidente da Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos
Políticos, disse que a instalação da placa é uma medida de memória. "Muito
mais do que uma homenagem, é você ter um marco histórico demonstrando o que
aconteceu naquele local, que determinados cemitérios como este foram palco de
ocultações de cadáveres. É muito importante que a população de hoje saiba a
maneira como essas pessoas morreram", disse.
Para a secretária municipal de
Direitos Humanos, Eloisa Arruda, a placa é uma marca de memória que ajuda a
demonstrar que o "Estado brasileiro não compactua com os desaparecimentos
forçados, com o justiçamento com as próprias mãos. Ninguém tem o direito de
matar pessoas e fazer com que os corpos desapareçam, e depois não prestar
satisfações. Isto é um retrocesso e o que queremos é que prevaleça o Estado de
Direito. As pessoas, mesmo que tenham cometido infrações penais, devem ser
julgadas e processadas. Se temos o próprio Estado como autor de atos desumanos,
cruéis e de tortura, aí a situação se torna muito mais grave", disse.
Segundo a procuradora, além dos três
corpos enterrados, outros corpos de vítimas da ditadura podem ter sido
sepultados no Cemitério de Campo Grande, sem conhecimento da família.
"Existem desaparecidos políticos, dezenas deles em São Paulo, que foram mortos
no período e não consta para onde foram. Então é possível que outras pessoas
tenham vindo para cá. É preciso aprofundar as investigações".
Placas
Essa é a segunda placa de memória
instalada em um cemitério em São Paulo. A primeira foi colocada no Cemitério de
Perus, no início do mês. Na próxima semana, uma placa será instalada no
Cemitério de Vila Formosa, na Zona Leste da Capital.
Segundo documentos obtidos pela
Comissão da Memória e Verdade, 79 vítimas da repressão foram sepultadas em São
Paulo. Desse total, 53 tiveram como destino os cemitérios de Lajeado, Campo
Grande, Vila Formosa, Dom Bosco e Perus. Desses, 48 foram enterrados sem o
conhecimento da família, como indigentes ou com nomes falsos. Pelo menos 17 não
foram localizados até hoje, embora o Estado tenha documentos que comprovem que
eles foram enterrados nesses locais.
Por causa de três incêndios ocorridos
em Lajeado, apenas um caso foi comprovado até o momento: o de Raimundo Eduardo
da Silva. Mas a suspeita é que vários militantes tenham sido enterrados em
Lajeado.
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