Sindicalistas de qualquer categoria usa passeatas como instrumento de pressão |
Luís
Alberto Caju
Quando as pessoas assistem ao noticiário dos
telejornais e aparece determinada reportagem a respeito de acordo fechado entre
trabalhadores e patrões, poucos conseguem compreender como ocorreu aquele
pacto. Simplesmente porque sindicatos surgiram para defender os direitos dos
empregados, muitas vezes desrespeitados, colocando em risco até a vida deles.
Essa postura vigorou na primeira metade do
século XX, quando a postura no interior das fábricas mais lembravam campos de
concentração com jornadas passando de 15 horas diárias, sem quaisquer
mecanismos de proteção para serviços insalubres que colocava em risco a
integridade do funcionário, além de péssimas condições de higiene e falta de
respeito ao ser humano, visto que as crianças, também, cumpriam essa pesada
carga horária.
O tempo, responsável pela maioria de boas e
más respostas, avançou e chegamos à década de 1990, final do século XX.
Movimentos sindicais obtiveram inúmeras conquistas, a jornada de trabalho
diária chegou às 8h, em outras categorias baixou para 6h e até 5h. Os finais de
semana, para muitos, transformaram-se em descanso, sem qualquer desconto no
salário.
Dividendo
político
Neste início de terceiro milênio, o
sindicalismo brasileiro, principalmente, passou por diversas mudanças. Presidentes
e membros de diretorias apostaram na disputa por cargos políticos como
vereadores, deputados e até presidente da República, como ocorreu com Luiz
Inácio Lula da Silva, eleito duas vezes para administrar o Brasil.
Chegou ao fim o ideal de exercer relações
sindicais visando o bem-estar do trabalhador. O enfoque é utilizar a entidade
como estilingue na busca por visibilidade que se transforme em grande dividendo
político. Na busca por essa meta os sindicalistas, a maioria, colocou em
prática relações corporativistas com as empresas, onde seus filiados trabalham,
numa estranha relação, pois capital e trabalho estão em campos opostos.
Para o aumento da sede ou mesmo construção de
quadras esportivas ou moderno parque aquático, o corporativismo entra em campo,
com as empresas contribuindo financeiramente naquela obra. Tudo sob a égide do
discurso de que o funcionário descansado e revigorado no lazer desfrutado no
clube daquela entidade sindical, vai produzir mais quando voltar à fábrica ou
escritório na segunda-feira.
Aberração
de corporativismo
A moeda de troca se dá quando o governo toma
medidas que possa prejudicar aquele seguimento industrial. Isto ocorreu no
final de 2013 no Brasil, quando as empresas automobilísticas foram comunicadas
que a partir de 2014 todos os veículos de passeio sairiam da linha de produção
dotados de airbag e freios ABS. Estranhamente sindicatos metalúrgicos deram as
mãos com montadoras para impedir a entrada em vigor dessa medida, já prevista
há vários anos pelo Conselho Nacional de Trânsito, para garantir a segurança de
motoristas e pedestres, reduzindo o número de acidentes de trânsito com vítimas
fatais.
Neste caso, o corporativismo adotou o discurso
de que a instalação desses dois tipos de dispositivos iriam tornar mais caros os
automóveis e reduzir postos de trabalho, visto que veículos sem possibilidade
de colocar airbag, caso da perua Kombi e do Fiat Uno, sairiam de linha,
deixando de ser fabricados.
Outra aberração de corporativismo ocorreu com
o aumento do rigor da Lei Seca, elevando para aproximadamente R$ 2 mil o valor
da multa para o motorista flagrado dirigindo sob efeito de bebida alcóolica.
Sindicatos dos trabalhadores do seguimento de bebidas procuraram o governo
cobrando a redução do valor da multa, porque o consumo estava caindo e o setor
passou a produzir menos, colocando em risco o emprego da categoria.
Leis
de segregação
O absurdo é que em nenhum momento os
sindicalistas se preocuparam com a diminuição do número de acidentes,
envolvendo motoristas bêbados ao volante. O foco deles era amenizar o impacto
da punição para que crescesse a produção de bebida, e claro, o emprego ficasse
garantido.
É como ocorreu na África do Sul, durante o
apartheid, quando os patrões mostravam mais interesse econômico na eliminação
desse odioso regime do que os trabalhadores brancos, visto que empregando funcionários
negros sem leis restritivas racialmente, os donos de empresas podiam pagar
menores salários do que recebiam os empregados brancos, protegidos pelas leis
de segregação.
O resultado do fim do apartheid levou a classe
média branca disputar o mercado com a população negra. Em vez de lutar por
direitos iguais para brancos e negros, os trabalhadores brancos na África do
Sul defenderam os privilégios que tinham graças à mais-valia triangular sobre
os funcionários negros.
Alianças
estranhas
Infelizmente no Brasil, muitos sindicatos não
se preocupam com a população. Apenas puxam sardinha para os seus representados.
Não importando que determinados acordos com os patrões possa resultar na
elevação da taxa de juros, como acontece no setor bancário. No setor
farmacêutico a mesma regra é aplicada. As supostas regalias conquistadas por
aquela categoria de trabalhador vão impactar no aumento do preço de
medicamentos, dificultando o acesso a eles pela população de baixa renda,
principalmente aposentados.
Com raras exceções, as entidades sindicais
brasileiras só defendem os interesses de seus associados, transferindo o ônus
aos pobres e excluídos. Curiosamente são formadas alianças estranhas do ponto
de vista da ética, quando o sindicato do trabalhador passa apoiar o patrão,
quando ele tem quem assuma essa função.
Talvez seja essa a razão para o baixo número
de empregados que se tornam sócios dos sindicatos. Pela cabeça desse
trabalhador não é possível o sindicato unir forças com o patrão, que na maioria
das vezes, o explora, além de não respeitar os direitos básicos no desempenho
de sua função.
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