Na rede pública de saúde, a maioria dos funcionários não está capacitada para atender pacientes estrangeiros |
Luís Alberto Caju
Admiro o otimismo da presidente Dilma Rouseff
em relação à Copa do Mundo de 2014 aqui no Brasil. Ela reforçou na volta ao
trabalho nesta segunda-feira (6), pelo Twitter, que o País fará a “Copa das
Copas” por causa do caráter acolhedor da população e pelo futebol, apesar de
nascido na Grã-Bretanha no século XIX e exportado por Charles Miller para essa
região, que se desenvolveu bastante em solo brasileiro. Disso não tenho dúvida.
Os maiores jogadores do mundo saíram de nossas
equipes: Pelé, Garrincha e Nilton Santos, sem dizer de Rivelino, Ademir da
Guia, Tostão, Coutinho, Didi folha seca, Djalma Santos, Zico, Falcão,
Ronaldinho Gaúcho, Ronaldinho Fenômeno, Rivaldo, Kaká e recentemente Neymar.
Atletas que fariam bonito em qualquer time da Europa ou mesmo do Japão e
Estados Unidos.
Falcão, jogador da seleção de 1982, que brilhou no Roma da Itália na década de 80 |
Mas nosso grande problema é a falta de
profissionalismo quando se trata de grandes projetos. Confiam muito na
improvisação, o famoso “jeitinho brasileiro” de resolver as pendências. Não deu
para construir a avenida para circulação de ônibus especiais ou mesmo a linha
férrea do Metrô, apela-se para o transporte coletivo normal articulado,
transitando em vias públicas sem qualquer condição, carregando torcedores como
se fosse sardinha em lata. O importante é deixá-los no estádio.
Deixam em segundo plano investimento na Saúde,
como se ninguém num campeonato tão importante e rápido como é uma Copa do Mundo
não tivesse problema de saúde, principalmente envolvendo alcoolismo. Ou
inexiste torcedor que não comemore a vitória do time sem beber? Pegando São
Paulo como base, uma das maiores cidades do mundo, os hospitais públicos estão
horríveis. Não conseguem atender os pacientes normais, de rotina, imagino como
será prestar socorro para milhares de torcedores, falando em outro idioma.
A situação deve piorar nas outras sedes, como
Natal (Rio Grande do Norte), Cuiabá (Mato Grosso), Manaus (Amazonas), Salvador
(Bahia), Recife (Pernambuco), para não citar as restantes. Atualmente o
Hospital das Clínicas, de São Paulo, é referência de saúde em termos de América
Latina e atende pacientes de todas as regiões do Brasil, por falta de
condições. As pessoas enfrentam 2.500 km de estrada para passar por um médico
em São Paulo, saindo da região Nordeste, onde estão as sedes de Natal, Recife e
Salvador, em busca de solução para seus problemas de saúde.
Muitos pacientes saem do Norte e Nordeste do Brasil em busca de melhores hospitais no Sudeste do País |
Imagino os torcedores da Inglaterra que fiquem
doentes em busca de socorro em Manaus. Como será? Naquela região são comuns
crianças contaminadas por germes por que ingerem água de rios contaminada por
esgotos domésticos e os médicos sofrem para atendê-las, pois é minoria diante
de tantas pessoas com problemas. E com os torcedores, muitos falando inglês e
italiano, por que a seleção azurra vai mandar seus jogos iniciais em Manaus, a
dificuldade aumentará.
Quantos enfermeiros nestas cidades, onde serão
sedes neste Mundial 2014, dominam de forma razoável o inglês? Não digo apenas
dois, mas a maioria dos funcionários que está na linha de frente dentro de um
hospital ou pronto-socorro, incluindo também motoristas de ambulâncias.
E o policiamento? Qual a quantidade de Pms,
guardas civis, investigadores, escrivães e delegados que dominam outros
idiomas, para atender uma ocorrência envolvendo torcedores ou turistas
estrangeiros? Nunca podemos desprezar que os criminosos atacarão as pessoas que
virão ao Brasil assistir aos jogos da Copa do Mundo. Por quê? Por que têm
dinheiro, inclusive euro e dólar e equipamentos eletrônicos como máquinas
fotográficas sofisticadas, tablets, Ipads e mesmo celulares de última geração.
Numa avenida igual a Paulista, em São Paulo,
corredor financeiro e hospitalar dessa grande cidade, são raros os Pms que
falam inglês, para não dizer espanhol ou mesmo francês. Como atender alguém que
foi assaltado e fala em outro idioma, para explicar as características dos
criminosos que o abordaram. Esses casos serão muitos. O País está preparado?
Torcedor de futebol tem fome, principalmente
após o jogo. Quantos bares e restaurantes têm funcionários que falam outras
línguas, para fazer o básico, como explicar o cardápio e qual o valor daquela
refeição? Ou será que a mímica precisará entrar em campo para ajudar a traduzir
o que aquela pessoa pretende comer?
Quantos funcionários de bares e restaurantes sabem o básico de outro idioma para atender turistas do Exterior? |
Nos pontos de ônibus, quais informações
existem em relação ao itinerário rumo aos estádios onde ocorrerão as partidas.
Quais coletivos passam ou levam as pessoas até o local? Como identificar esses
veículos? Terão cores específicas para ajudar a tirar dúvidas? Os motoristas e
cobradores foram qualificados em outro idioma para atender os passageiros
torcedores e turistas?
Como os torcedores de outros países vão identificar nos pontos os ônibus que os levarão até o estádio? |
A Copa do Mundo dentro do campo é algo
diferente do relacionado nas arquibancadas, de como as pessoas chegaram até
aquele local e onde dormirão após as partidas. A rede hoteleira tem quartos
disponíveis para mais de 1 milhão de turistas neste Mundial? O espetáculo
dentro do estádio é lindo, mas pode ficar feio quando a infraestrutura começa
apresentar falhas, igual telhado cheio de goteiras. Mesmo sendo brasileiro e
amante do futebol tenho minhas dúvidas de que o nosso país vai realizar a Copa
das Copas. Talvez a Copa das Copas do vexame da falta de estrutura.
Nenhum comentário:
Postar um comentário