A essência do supérfluo é fazer o consumidor gastar cada vez mais com algo desnecessário |
Luís
Alberto Caju
Na época de final de ano, o consumidor é
bombardeado a comprar produtos supérfluos. Mesmo quando não existe necessidade
para adquirir determinado objeto. O televisor que ainda continua funcionando
bem passa a parecer velho diante do novo modelo, repleto de dispositivos que na
maioria das vezes não serão utilizados, como ocorre nos telefones celulares.
A geladeira, de bom estado e conservando bem
os alimentos há vários anos, vai perder espaço para o aparelho apresentado pela
propaganda. O guarda-roupa ganhará ares de peça de museu virando candidato ao
lixo, para ceder lugar ao outro que, apareceu no anúncio publicitário e ocupará
o espaço naquele quarto.
O forno micro-ondas, mesmo cumprindo as
funções perfeitamente, dificilmente resistirá aos ataques desferidos pela
televisão, internet, rádio ou páginas de jornal cheias de cadernos trazendo as
últimas novidades para o próximo ano.
Modelo
antigo
Nem computadores escapam da guerra comandada
pelo supérfluo. Os lançamentos incorporarão dispositivos que facilitarão a
navegação na internet, o aumento da capacidade para armazenar arquivos de
fotos, vídeos e textos. O modelo antigo acaba ganhando inúmeros defeitos para
abrir caminho ao ocupante do cargo ocupado por ele naquela casa.
O supérfluo ataca em todos os setores. As
mulheres serão alvejadas no item calçado. O design e a textura do material,
aliado a cores da estação, vão impactar a mente de esposas e filhas. Logo a
sapateira será esvaziada e diversos pares ocuparão espaço. Alguns poucas vezes
estarão nos pés. O que vale é atender aos desejos do mercado.
Nesta mesma trilha entram as roupas. Elas
precisam estar em sintonia com determinada estação. É caretice não renovar o
guarda-roupa todo ano, mostrando falta de dinheiro ou sintonia com o mundo. No
caso de adolescentes, ausência de novas peças de roupas pode passar a imagem de
alguém pobre ou relaxado, sem conexão com o mundo.
Forte
de opinião
O homem é acertado com forte direto no
estômago para trocar o modelo do carro, mesmo que ele ainda esteja em boas
condições uso. Para o mercado não é bom alguém ficar com um automóvel mais de
cinco anos. As montadoras, semelhantes aos cabeleireiros, sempre está mudando o
visual do veículo, principalmente nas lanternas e faróis, assim como na grade
da frente.
Caso a pessoa não seja forte de opinião, todo
final de ano cairá na armadilha proposta pelo comércio de trocar algo bom por
outro novo. O enfoque não recai sobre o essencial, mas visa o supérfluo, que
não precisa ser comprado. Nessa corrida maluca, o endividamento aumenta, porque
nem sempre aquela mercadoria mantém a eficiência da antiga. Visto que entramos
na era do descartável. De produtos que durem pouco ou apresente defeitos
rapidamente, para acelerar sua troca.
Numa sociedade amplamente consumista, onde as
pessoas são avaliadas pelos objetos que têm dentro de casa, o automóvel que
coloca na garagem e roupas que usa; fica difícil resistir ao assédio do
supérfluo. Quem não tiver forte estrutura emocional, acabará caindo neste jogo
para aumentar os lucros da indústria, na maioria das vezes oferecendo produtos
de qualidade duvidosa.
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