Para fugir da poluição que atingiu as águas de várias represas, a elite optou por água engarrafada |
Luís
Alberto Caju
Ficou para trás a época em que todas as
pessoas tomavam água de boa qualidade no Brasil. Tempo que dava gosto retirar o
balde do poço é beber um líquido delicioso, livre de qualquer tipo de poluição,
pois os mananciais ainda estavam intactos da presença de empreendimento
mobiliários que contaminou o lençol freático, retirando a pureza deste rico
alimento, sem o qual ninguém consegue sobreviver.
Mas os endinheirados e poderosos não perderam tempo.
Ao perceber o aumento da degradação e a sujeira se tornarem comuns na água
consumida, adotaram a estratégia de usá-la em vasilhames. Gastaram fortunas na
implantação do sistema de produção e transporte de água engarrafada,
distribuída em todo o Brasil, mesmo nas cidades mais distantes.
Em 40 anos o País sofreu grande transformação
neste segmento. Na década de 1970 muitas famílias tinham poço no quintal das
casas e o famoso filtro de barro na cozinha. Qualquer cidadão gozava do acesso
à agua, mesmo que fosse pobre. Aos poucos o governo implantou o serviço de
saneamento, forçando o fechamento dos poços e a população passando a pagar
determinada quantia para receber água encanada em casa.
O argumento da higiene convenceu que o serviço
era melhor opção, em vez de retirar água do poço. Poucos prestaram atenção que
as empresas de saneamento recolhem água de rios e represas. Elas passam por
grande tratamento para retirada de todo tipo de impureza, além de receber
cloro, visando matar as bactérias que tenham resistindo ao pente fino da
limpeza rigorosa.
Começou a época das caixas d´agua em cima das
residências e depois dos edifícios. Nestes reservatórios ficava a água que
abasteceria aquele imóvel. A ideia durou até a década de 1990, quando
sutilmente as indústrias do setor de bebidas passaram a comercializar garrafas
e copos de água mineral. Lentamente o negócio prosperou. Logo as pessoas se
adaptaram a comprar garrafas e depois garrafões de água para abastecer suas
casas.
O governo, como sempre alega, passou a
reclamar da escassez de dinheiro para construir sistemas de saneamento. A
elite, para não ficar refém da sede, colocou em campo o forte lobby para a
industrialização e transporte de água engarrafada. Calcula-se que esse negócio
renda cerca de R$ 9 bilhões por ano na compra de água potável. O assédio foi
tão grande que uma grande multinacional europeia adquiriu fontes de água
mineral numa cidade do sul de Minas Gerais.
Passou a retirar tanta água do local, que em
alguns pontos daquela região, o solo começou a ceder, provocando rachaduras em
diversos imóveis. Logo em outras cidades brasileiras, de grande potencial
hídrico, diversas empresas passaram a investir neste rico filão de vender água
em garrafões, copos e garrafas pequenas.
Em menos de 30 anos, o brasileiro sem
condições financeiras de comprar água engarrafada começa perceber que a água
fornecida pelas autarquias não é de tão boa qualidade. No trajeto dos
reservatórios até as residências, muitos canos se rompem entrando em contato
com o solo, até de regiões com alto índice de poluição, chegando suja até as
caixas d´agua dos imóveis. Rios e represas, antes limpos, se transformaram em
depósitos de lixos, principalmente de produtos químicos.
De forma antecipada, a elite se resguardou ao
investir na compra de água engarrafada. Alguns endinheirados cederam ao
capricho de encher piscinas de champanhe. Para manter o ciclo de exploração,
desde a explosão da Revolução Industrial na Europa, ela optou em ficar distante
da água fornecida pelo saneamento básico. Deixou nas mãos da população de baixa
renda ou pobre, o risco de consumir água suja por falta de dinheiro para obter
o luxo de adquirir água engarrafada diariamente.
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