Adolescente sofreu tentativa de linchamento na praia de Copacabana, Zona Sul do Rio de Janeiro |
Luís
Alberto Caju
É preocupante constatar nas redes sociais o
grande apoio que parte da população deu, recentemente, ao linchamento de um
adolescente acusado de roubo e furtos nas praias da Zona Sul do Rio de Janeiro.
Muitos defenderam sua morte até com requintes de perversidade, visto que um
pedaço de sua orelha tinha sido cortado.
O discurso raivoso de matar os criminosos,
impondo a eles o mesmo sofrimento infligido às vítimas indefesas que eles pegam
nos assaltos, quando de posse de armas de fogo agem iguais aos ditadores,
decidindo se aquele alguém continua vivo ou morre, além de estuprar as
mulheres, na maioria das vezes diante de maridos, noivos ou irmãos.
Percebo nessa onda de ataques à vida
(criminosos também são dotados dela) a volta da lei de Talião (Olho por Olho,
Dente por Dente), que teve seu auge antes de chegada de Jesus Cristo a este
mundo. Essa postura é perigosa, pois revela a falência da Justiça no Brasil.
Corrupção
Não é novidade a corrupção na Polícia
(Federal, Civil, Militar). Muitas vezes motivada por um Código Penal repleto de
brechas, semelhante queijo suíço, oferecendo ao advogado do bandido as
ferramentas para retirá-lo da delegacia ou cadeia num rápido intervalo de
tempo. Neste caso (são muitos), o policial imagina que esteja fazendo trabalho
de bobo: prende e logo o fora da lei sai e ainda sorri ao conquistar a
liberdade.
No caso de menores de idade a situação é pior.
O ECA (Estatuto da Criança e Adolescente) impõe várias regras ao delinquente,
como a de permanecer preso durante três anos, mesmo que seja responsável por
inúmeras mortes, até com requinte de perversidade. Pior: ao completar 18 anos,
tudo é apagado do prontuário, como se nunca tivesse retirado a vida de ninguém.
A nós da imprensa é proibido divulgar seu
nome, fotografá-lo e dizer onde mora. O ECA os trata como se fossem copos de
cristais. A proposta de proteger o adolescente é boa. Porém, os tempos mudaram.
Não estamos mais na época em que filhos obedeciam aos pais fielmente, as
meninas só começavam a namorar após os 18 anos e traziam o namorado em casa
para pedir permissão aos seus pais, que a palavra da família tinha peso de lei
e todos obedeciam.
Situação
financeira
Hoje, adolescentes (maioria sintonizados com o
mundo virtual) impõe suas regras dentro de casa, acorda e dorme na hora
considerada melhor para eles. Por causa do rápido crescimento corporal, meninos
de 12 anos têm estatura e peso de alguém de 20, o mesmo ocorre com as meninas.
Enfrentam os pais, até com violência caso não sejam atendidos seus gostos,
mesmo sabendo da situação financeira da família.
Não é mais novidade meninas grávida antes dos
13 anos e garotos assassinos com essa mesma idade. Muitos não estudam. Vão à
escola apenas para marcar o encontro da próxima balada. Quando tiram notas
baixas, não hesitam em agredir professores ou mesmo danificar seus automóveis,
quando não tentam contra suas vidas.
Impulsionados por uma sociedade de consumo
voraz, sem a chance de trabalhar antes dos 18 anos, e por outro lado sofrendo
com a falta de dinheiro para suprir o sonho de consumo de ter roupas e calçados
de grife, muitos partem para criminalidade.
Cachimbo
Em diversos bairros da periferia brasileira,
adolescentes são recrutados por traficantes para ganhar R$ 600,00 na semana,
com o prêmio de usar diariamente motonetas para entregar drogas e depois
passear, como se fossem deles. No mês ele tem nas mãos, sem qualquer desconto,
R$ 2.400,00, que seria o salário mínimo ideal no Brasil, de acordo com cálculos
do Dieese (Departamento Intersindical de Estudos Estatísticos e Socioeconômicos).
Como se diz que o vício do cachimbo entorta a
boca, esse criminoso mirim passa a crer que o mundo deve se curvar aos seus pés
satisfazendo todos os seus desejos, inclusive o de roubar ou matar sem provocar
retaliação da população. É nesse cenário que as pessoas passam a adotar a
barbárie como meio de vingança. De por em prática o que o Estado de Direito
ensaia há décadas e nunca retira do papel: Justiça igualitária.
Quando alguém sente prazer de linchar o
bandido, inconscientemente está dizendo que não acredita mais nas instituições
do seu país. Elas faliram. Não servem para mais nada, apenas para sustentar
multidões de bajuladores de políticos que as colocaram ali visando ganhar
dinheiro sem fazer nada.
Maldade
Por outro lado essa
prática é perigosa. Visto que ninguém consegue sobreviver sem ser atingido numa
sociedade onde impera a lei do mais forte. De quem não sente dó de matar o
próximo, mesmo sem conhecer o seu passado. E se fosse o contrário? O bandido
estivesse no lugar do filho, irmão, marido ou esposa? Eles teriam coragem de
linchar, matar com requintes de maldade? Bem, pimenta nos olhos do outro é
doce.
Num país, onde políticos acumulam patrimônio
calculado em milhões de dólares, segundo recente estatística da revista Forbes,
a população precisa ter os pés no chão. Não pode se colocar no lugar de Deus, o
único que tem autoridade e poder para retirar a vida de alguém, obra de suas
mãos. É chegado o momento das pessoas de bem (são maioria em qualquer lugar)
assumir o leme dessa situação e exigir mudanças urgentes neste Brasil para que
o mal não prevaleça sobre o bem.
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