Geralmente o idoso permanece sozinho, na maioria das vezes, com sua sabedoria acumulada |
Luís
Alberto Caju
“Lembra-te
do teu Criador nos dias da tua mocidade, antes que cheguem os dias difíceis e a
se aproximem os dias da velhice em que dirás: “Não tenho mais satisfação em
meus dias!”, Livro de Eclesiastes, capítulo 12,
versículo 1. Tudo que é novo, um dia conhecerá a velhice, a época da rejeição,
de ser jogado de lado, desprezado e até humilhado, como algo sem qualquer valor
ou importância.
No Brasil, ao contrário de países orientais,
principalmente Japão e China, pessoas com mais de 60 anos não despertam
sentimentos de respeito. Discriminados acabam nos cantos das empresas, que os
consideram peso morto sem quaisquer meios de influenciar em possíveis decisões,
algumas até capitais.
A família, com raras exceções, trata o avô ou
mesmo o pai, acima desta idade, de forma pejorativa. Diz que velho só pega no
pé, ficou crítico demais e reclama de tudo. São humilhados. Em grandes eventos
raramente recebem convites. Afinal de contas, na visão dos mais jovens, velho
não dança, pula ou agita uma festa. Pelo contrário vai ficar nervoso com as
roupas curtas das meninas e de rapazes sem educação.
Os adolescentes e jovens desprezam os
conselhos dos velhos ou “tiozinho” na linguagem deles. Mesmo quando têm razão.
Acreditam que idosos são neuróticos, enxergam o mal em qualquer coisa.
Desconfiam muito dos outros. Além de parar no tempo. Qualquer conversa, gostam
de comparar com a época de sua juventude, na década de 50, 60 ou para os atuais
meninos, 70 e 80. Época que não existia rede social nem telefone celular.
Prazer
sexual
Para complicar a situação, o idoso perde suas
energias durante o passar dos anos. Não consegue subir mais uma escada
correndo. Ou mesmo pegar a sacola de feira pesada que a neta esteja trazendo ao
lado da mãe. A visão escurece, a audição reduz e os ossos começam a ficar
semelhantes a pipocas, se quebrando facilmente. O prazer sexual perde a força
da juventude. Tudo diminui.
Porém a inteligência permanece. A sagacidade,
o olhar crítico para detectar o mal mesmo em assuntos cheirando inocência, mas
recheado de ruindade. Nada retira do idoso a sabedoria aprendida com tempo. De
comparar o discurso do atual político candidato a cargo de governador ou
presidente da República, com o mesmo que fez gesto semelhante 30 ou 40 anos
atrás.
A experiência da vida, e ela só chega depois
de muita pancada dolorida na mente e nas costas, ensina a compreender as
pessoas. Mostra quem é bom e ruim, até pela forma de conversar. Como agem os
traiçoeiros, os interessados apenas nos bons momentos, para nos ruins se
afastar. A experiência revela que não é bom gastar todo o dinheiro que se
ganha. É aconselhável guardar um pouco para os tempos de crise, que geralmente
chegam para ricos e pobres, como ocorreu no Egito na época do governador José,
filho de Jacó.
A experiência do idoso mostra que rapaz muito
galante, cheio de planos audaciosos, amante de bebidas, drogas e festas, nunca
será bom marido, mas sério candidato a mendigo. Mostra também que a jovem
namoradeira, amante dos prazeres, será mãe de vários filhos sem pai e aumentará
o plantel de funcionárias nas casas de prostituição, pois vai querer ganhar
dinheiro rápido.
Nada
de conteúdo
O velho percebe quando o governante não
entende de administração de uma cidade, ao perceber que fica despreocupado com
problemas relacionados à saúde, segurança pública e educação. Três pilares que
levanta ou joga uma nação ao lixo, caso sejam desprezados. Fica atento aos
discursos vazios, onde se diz muito sem falar nada de conteúdo.
O idoso detecta no ar o domínio do crime
organizado quando a polícia não consegue, por causa de vários interesses
políticos e econômicos, mandar à cadeia os mafiosos comandantes de facções
criminosas que reinam de forma absoluta sem qualquer preocupação.
Ele percebe também que tudo está caminhando ao
fracasso quando a família, o sustentáculo de qualquer nação, começa ser
desprezada e vira alvo de piadas nas mesas de bares. Família onde pai e mãe
procuram educar seus filhos mostrando o errado e certo e os efeitos de suas
decisões em suas vidas adultas. Família onde se mostra que a obediência é o bem
maior, principalmente às autoridades e claro a pai e mãe.
O idoso consegue captar rapidamente as
armadilhas jogadas pelos maus, quando em nome de um regime democrático, a nação
passa a admitir que a violência e a depredação do patrimônio público são formas
de contestações que devem ser permitidas pelas forças de segurança. Como disse
o profeta Isaías, há 2.500 anos antes do nascimento de Jesus Cristo, “Ai
daquele que fazer do bem mal e do mal bem”.
Quem é velho, principalmente as pessoas que
enfrentaram as dores do Regime Militar, de 1964 a 1985 no Brasil, sabe quando algo
não é bom. Muitos sentiram na pele a
dor da tortura, da perda de filhos e parentes jogados na vala do desconhecido,
sem qualquer direito a sepultura com nome, enterrado de madrugada e sobre os
caixões jogado massa de cimento. A maioria dos velhos sabe que nunca se pode
confundir liberdade com libertinagem. Que a falsa união ecumênica é engodo,
pois nunca é possível aglutinar óleo e água.
Infelizmente o saber dos velhos continua sendo
ignorado. Visto que os jovens acreditam que serão imortais. Nunca perderão suas
forças. As meninas creem na beleza eterna. Coitados: não percebem que o tempo
age em silêncio, mas de forma constante, retirando cada gota de força nos
segundos da vida que ficam para trás todos os dias. Quem for inteligente
conseguirá acordar rápido, do contrário talvez não conheça a delícia de admirar
e ver os frutos de uma grande caminhada na estrada da vida.
Nenhum comentário:
Postar um comentário