Opala 1978, sonho de consumo dos jovens da década de 1970 |
Luís
Alberto Caju
Brasil começo da década de 1980: para maioria
da população, telefone fixo em casa era algo difícil, por causa do elevado
preço das linhas, comercializadas por empresas estatais. No Estado de São Paulo
a detentora do monopólio era a extinta Telesp (Telecomunicações de São Paulo) e
no Rio de Janeiro a Telerj (Telecomunicações do Rio de Janeiro). Os aparelhos não eram de teclas, mas de
discos onde estavam os números, maioria preto.
Família de dinheiro se conhecia pelo número de
linhas telefônicas em casa. As empregadas domésticas marcavam os encontros
amorosos com namorados e futuros maridos no aparelho da patroa. Aliás, era
comum empresas receberem ligações de parentes e pessoas que tinham envolvimento
amoroso com alguém.
Muitas fichas telefônica era garantia de falar com a namorada várias vezes |
Geralmente quando se conquistava alguém, o
número do telefone do serviço era repassado com o lembrete de ligar no horário
do almoço ou final do expediente, quando o chefe pegava leve; afinal de contas
vários funcionários utilizavam o mesmo expediente. Outra estratégia consistia
em comprar várias fichas para usar no telefone público, o famoso orelhão.
Com elas no bolso, e numa rua silenciosa, se
conseguia falar com a amada ou amado sem qualquer atropelo. Às vezes ele
funcionava como telefone comunitário, atendendo os moradores daquele local.
Quando tocava alguém saia da sala ou cozinha para ouvir o recado ou mesmo
conversar com quem estava do outro lado da linha.
O leite era vendido em saquinhos plásticos |
Não existiam celulares. Ou se usava o aparelho
da empresa ou de casa, dependendo da condição financeira. O Google ainda não
estava presente, porque a internet era algo existente apenas nas Forças Armadas
dos Estados Unidos. Todo estudante visitava regularmente às bibliotecas para
pesquisar livros e concluir os trabalhos escolares exigidos pelos professores.
Time
de elite
Computador havia nas empresas, mas para
digitar documentos, um deles era o famoso IBM. Na década de 1980 quem
trabalhava como funcionário escrevendo diariamente em computadores era incluído
no time da elite. Os departamentos de contabilidade usavam os computadores para
anotar os dados financeiros do dia, semana e mês, quando ocorria o famoso
balanço.
Disco de vinil, com duas músicas, que usava as vitrolas para tocar, conforme foto mais abaixo |
Os famosos CPDs (Centro de Processamento de
Dados) exigiam dos digitadores que escrevessem rápido, no mínimo 10 mil toques
por minuto. Trabalhavam seis horas e ganhavam relativamente bem. Mas velocidade
se transformava em doença, conhecida como LER (Lesão por Esforço Repetitivo),
que mais tarde atingiu os caixas de bancos e do comércio em geral.
Terminal IBM 3278 estava presente na maioria dos Centros de Processamentos de Dados |
Dentro dos carros não havia toca-cd, mas toca-fitas.
Os artistas gravavam disco de vinil, geralmente com 12 faixas. Eles tocavam em
vitrolas por meio de agulhas que percorria o sulco do disco de vinil, captando
o som que saía em caixas acústicas.
Toca fitas de carro, onde o som era garantido na ida aos bailes ou jogo de futebol aos domingos |
Antes de 1990, o brasileiro era refém de
quatro marcas de automóveis: GM, Fiat, Volkswagen ou Ford. Os modelos em nada
lembram os luxuosos de hoje. A lataria bem dura precisava ser cortada a machado
ou maçarico nas funilarias. Com exceção de importados, não havia câmbio
automático. Na GM, o Opala era sonho de consumo de quem gostava de velocidade e
impressionar as garotas.
Famoso Fusca garantiu o namoro de várias gerações |
A Volkswagen tinha o famoso Fusquinha, cujo porta-malas
na frente não cabia quase nada e para namorar o espaço prejudicava quem
ultrapassava mais de 1m80. A Ford brilhava com o famoso Corcel, que fez parte
da letra de uma canção de Raul Seixas, “Ouro de Tolo”. A Fiat, recém-chegada ao
Brasil, tentava impressionar com o minúsculo Fiat 147, ideal para os baixinhos.
Bilhete
de papel
Pagar contas em caixas eletrônicos como ocorre
hoje, parecia filme de ficção científica. As filas nos bancos tinham muita gente
e vários caixas no atendimento. Uma agência no Centro de SP, dependendo do
tamanho, tinha 30 funcionários só para essa função. Tudo funcionava no papel.
Conta de luz, água, telefone ou gás se pagava ali na agência.
Fiat 147, o primeiro modelo introduzido no Brasil |
Para andar de ônibus tinha de pagar a
dinheiro, e entrava pela porta de trás para descer na dianteira. Foi na gestão
da prefeita Luiz Erundina, na época do PT, no final da década de 1980, que
implantou a mudança de entrar pela frente e descer na traseira. Bilhete do
Metrô, na Linha Azul, era de papel. Naquela época os trens não andavam muito
cheios.
O saco de leite era de plástico, não de
caixinha como é atualmente. Antes na década de 1960 e 1970 vinham em garrafas
de vidro, com tampinha de alumínio. O arroz vendido a granel no armazém ou
supermercado. Bebidas, inclusive refrigerante, ficavam embaladas em garrafas de
vidro. A pessoa levava o vasilhame vazio e trocava pelo cheio.
Ford Corcel, durante anos seduziu muitos motoristas |
Cartão de crédito não tinha a grande aceitação
como ocorre hoje. Os bancos não trabalhavam com cartão de débito automático.
Quando as pessoas saiam para passear ou levavam talões de cheque ou dinheiro. A
maioria dos funcionários levava marmita de alumínio para almoçar na empresa. As
embalagens de plásticos inexistiam na década de 1980 no Brasil. Assim como os
restaurantes de comida a quilo.
Elogio
à preguiça
Hoje é difícil imaginar a vida sem os luxos
oferecidos pela tecnologia, inclusive a internet, capaz de interligar várias
pessoas ao mesmo tempo em diferentes lugares do Brasil e mundo. Assim como
fazer pesquisa nos Google, lhe dando em poucos segundos respostas que antes
demoravam horas nos livros de bibliotecas. Até o telefone celular, dotado de
várias ferramentas, inclusive de localização de endereço, é algo que alguém não
pode ficar.
Toca discos Gradiente, a top de linha da época |
Mas com todo esse avanço, diversas pessoas
regrediram em suas relações profissionais e familiares. A solidão tomou corpo.
Grande parte virou escravas de computadores, deixando em segundo plano as
amizades que não são virtuais. A tecnologia trouxe conforto, mas ao mesmo tempo
afastou familiares.
A facilidade de obter vantagens reduziu a
inteligência, facilitando o elogio à preguiça, pois tudo está ao alcance das
mãos, até mesmo para escrever essa crônica e colocá-la no blog que você irá ler
em qualquer região do planeta, até na estação espacial internacional, se houver
interesse em saber o que ocorre aqui embaixo na terra. Como será daqui a 50
anos, caso nenhum maluco não acabe com tudo numa guerra nuclear?
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