Aos poucos o tempo vai apagando as lembranças e as visitas ao cemitério |
Luís
Alberto Alves
“Pois os vivos sabem que morrerão, mas os mortos nada sabem; para eles
não haverá mais recompensa, e já não se tem lembrança deles, para eles o amor,
o ódio e a inveja há muito desapareceram; nunca mais terão parte em nada do que
acontece debaixo do sol”. Eclesiastes, capítulo 9, versículos 8/9.
Quando alguém de nossa família ou algum amigo próximo
morre, nos primeiros momentos ficamos tristes, angustiados e preocupados.
Choramos bastante. Durante o velório poucos se ausentam do local onde está o
caixão. Ali são relembrados vários momentos do falecido. Até os defeitos
desaparecem.
Após o enterro ocorre a tradicional troca de
telefones, e-mail e promessa de que os encontros voltarão a ocorrer, num
cenário mais alegre. Os distantes acenam que se reaproximarão. Dentro de nossa
casa, fica difícil se desfazer dos objetos pessoais do morto. Principalmente roupas,
calçados, livros e fotos. Persiste a vontade de guardar tudo. Na esperança de
manter viva sua memória.
Nos primeiros meses e anos, vira rotina as
visitas ao cemitério, para ficar durante alguns minutos diante do túmulo e
recordar o período em que ele esteve presente. Dentro de nós brota a promessa
de jamais abandonar aquele ritual. Principalmente quando se trata de pais ou
filhos falecidos.
Mas o tempo vai passando. Sua borracha eficiente,
lentamente, apaga as lembranças, estanca o choro, a tristeza e até as idas ao
cemitério vão rareando. Aparece a coragem de pegar os objetos pessoais do ente
querido e passar para frente. Ficam as fotos, porém já não apresentam mais o
chamativo de olhar para matar saudade.
Após mais de oito anos, continuamos a lembrar
do parente ou amigo que foi para o além. Sem, contudo ficar presos a lembranças
tristes. Persistem na memória os momentos felizes, porém de forma serena.
Algumas pessoas mudam de país, de cidade, Estado ou mesmo bairro. Vendem o
imóvel onde o falecido residiu e partem para nova fase.
O tempo no seu caminhar lento e constante vai
germinando no coração outras experiências agradáveis, como outro casamento, por
exemplo. A influência exercida pelo falecido deixa de existir. É natural que os
filhos esqueçam os pais. Sentem saudade, mas tudo de forma sadia. Percebem a
importância de continuar andando na estrada desta vida, sem a perda de tempo de
olhar para trás.
Pode parecer ingratidão, mas o passar dos anos
colocam os nossos mortos na galeria do esquecimento. Ficam raras as visitas ao
cemitério. Até nas conversas cotidianas eles deixam de freqüentar. Os assuntos e
projetos importantes envolvem os vivos. Assim prossegue nossa caminhada, até
chegar a nossa vez de entrar neste túnel e chegar ao mundo das luzes eternas
iluminadas por Deus. Por mais que sejamos peças de impacto, logo também nossos
parentes vão nos esquecer. É a lei da vida.
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