Inversão de valores: cidadãos honestos são obrigados a enxergar a luz do sol atrás das grades...de sua casa |
Luís Alberto Caju
Vivemos
numa completa inversão de valores: os cidadãos honestos, pagadores fieis de
impostos e obedientes à Lei são obrigados a viver como detentos em suas casas. Precisam
colocar grades nas janelas, reforçar as portas com várias fechaduras, erguer os
muros e sobre eles pôr ferro pontiagudos ou até fios eletrificados.
As pessoas de maior condição financeira
recorrem às empresas de segurança, instalando alarmes sofisticados e até homens
armados visando oferecer antídoto contra roubos e assaltos, principalmente no
momento em que se colocam os carros na garagem.
Mesmo os outrora seguros condomínios fechados
se transformaram em alvos de bandidos, às vezes com os temíveis arrastões,
provocando pânico nos moradores. Hoje não existe bairro ou cidade segura. Todos
são alvos de criminosos. Nas de pequeno porte, afastadas dos grandes centros é
rotina invasão de quadrilhas para explodir caixas eletrônicos em assaltos que
duram poucos minutos.
Enquanto a polícia usa pistola .40 na
repressão, os criminosos atacam com fuzis sofisticados, cujas balas furam
blindagem de carros fortes e até derrubam helicópteros. Às vezes utilizam
explosivos, mostrando que têm poder de fogo para enfrentar qualquer situação. É
romantismo recordar da época em que carro da polícia amedrontava bandidos. Hoje
eles partem para cima, matam os soldados e se possível colocam fogo no veículo.
Por causa de um Código Penal arcaico,
elaborado na década de 1940, o crime organizado contrata advogados
especialistas no encontro de brechas para soltar os assaltantes ou traficantes
o mais rápido possível. Em muitos casos, os policiais deixam os bandidos na
delegacia de manhã. No período da tarde já estão de volta às ruas.
Dentro dos presídios o Estado não tem nenhum
poder. Ali é território comandado por facções que “administram” a rotina dos
detentos. Em muitos estabelecimentos os artigos de higiene pessoal são
fornecidos por essas máfias, assim como roupa de cama. O custo das viagens para
visitas, quando o local fica no Interior, é bancado pelas entidades criminosas,
assim como o fornecimento de cestas básicas e até o aluguel do imóvel onde mora
a família do detento.
Como o governo não tem pulso para mudar a
situação, a grande parcela da sociedade, honesta e trabalhadora, perdeu sua
liberdade. Por outro lado, os bandidos reinam absolutos nas ruas. Para
conseguir se manter vivo, entra em ação a famosa política da boa vizinhança.
Onde cada pessoa cuida de sua vida sem interferência na do outro. Quanto ao
Estado, ele continua andando devagar, como fazem os elefantes. Até quando vai
durar essa situação, ninguém é capaz de dizer.
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