A farta comida faz muito hipócrita aparecer ao almoço ou jantar com fisionomia de anjo |
Luís
Alberto Caju
Nas festas de final de ano é quando a hipocrisia bate o recorde. De
repente todos ficam bons. Mesmo o mais canalha da família ou do emprego. O
mesmo discurso aparece em vários lábios: “Feliz Natal, que o menino Jesus lhe
dê tudo o que precisa. Tenha um ótimo Ano Novo”.
No horário do almoço ou jantar,
muito político velho de carreira ficaria envergonhado ao se deparar com o
desempenho de algumas pessoas. Sentam-se com aquela cara de anjo e fazem
discurso para tudo. Elogiam a comida: “Há quanto tempo não saboreio um peru tão
bem assado, acompanhado de arroz à grega, só com este bom gosto nos
restaurantes de grã-finos”!
As diferenças com os parentes, em
nome do Natal e Ano Novo, são esquecidas. Os comentários maldosos saem de cena
para entrar a puxação de saco. O sobrinho (a) problemático (a), a esposa
ranzinza, a sogra “mala sem alça”, o tio sacana, o cunhado pilantra, a nora sem
vergonha, os primos (a) interesseiros; todos são revestidos de bondade. Os
defeitos deles desaparecem.
O brinde ao Natal e votos de
próspero Ano Novo são repletos de sofisticada engenharia política. Os
cafajestes conseguem sorrir com o coração fervendo de ódio e vingança. Até o
suor desaparece da palma da mão em nome dessas poucas horas de paz.
Caso fossem todos fossem filmados
na mesa do almoço ou jantar e depois o conteúdo daquela reunião gastronômica
fosse exibido para um psicólogo, a fisionomia de cada pessoa revelaria quais
eram suas intenções. Os olhares mostrariam a raiva contida, a vontade de
avançar no parente que é sacana o ano todo e durante o Natal posa de santo.
Não passaria despercebido a ira
da nora em relação à sogra que não aceitou sua entrada na família. O sorriso
irônico do tio mostraria o desprezo nutrido pelos sobrinhos, interessados
apenas em fazer uma “boquinha”. Os gestos do cunhado sinalizaria a falta de
sintonia dele com o marido de sua irmã.
Porém, em nome da paz, o Natal e
a chegada do Ano Novo provocam tréguas nos corações de grandes canalhas e hipócritas.
Gente ordinária, que nunca teve o verdadeiro amor de Jesus Cristo dentro de si.
Apenas ficam felizes com o mal do próximo, principalmente quando se trata de
familiares. É a época em que a hipocrisia revela todo o arsenal de como fingir
que se ama, quando na verdade é o ódio reinante naquela vida. No outro ano a
mesma cena volta a repetir. Infelizmente.
Nenhum comentário:
Postar um comentário