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Mesmo após a redemocratização do Brasil, militares escondem informações da época da Ditadura Militar |
Luís
Alberto Alves
O colega de profissão, jornalista
e escritor Lucas Figueiredo vai lançar o livro Lugar “Nenhum - Militares e Civis
na Ocultação dos Documentos da Ditadura", livro que inaugura a coleção
"Arquivos da Repressão no Brasil", da Companhia das Letras.
Nesta obra ele relata o que já desconfiava há muito tempo: militares
brasileiros sabem o paradeiro de presos políticos desaparecidos.
Neste ofício nunca é bom aceitar de imediato
resposta do entrevistado, como verdade eterna. É necessário checar. Verificar
se realmente os dados conferem com a pauta traçada na redação. Nunca aceitei o
argumento de que as Forças Armadas desconhecem os locais, por exemplo, onde
estão enterrados os guerrilheiros do Araguaia, no Pará.
É igual diretor de empresa: mesmo aposentado
consegue recordar de fatos importantes onde trabalhou, principalmente de
histórias que podem ter provocado grandes mudanças. Será que os coronéis, tenentes
ou mesmo generais destacados para acompanhar aquela operação no Araguaia foram
acometidos de amnésia e não conseguem recordar de nada? Sabem e muito.
Em São Paulo, os agentes da
repressão, tanto no Exército quanto na polícia civil também têm na mente os locais
onde foram enterrados como indigentes os supostos inimigos do governo na fase
brava da Ditadura Militar, 1969 a 1976.
Agora, segundo Lucas Figueiredo, faltou sangue
nos olhos para os governantes após a abertura política, enquadrar os militares
e exigir deles divulgação dessas
informações, como ocorreu no Chile, Argentina e Uruguai. Aqui optou-se pelo
conchavo. Qualquer discurso nervoso da caserna, os civis do Palácio do Planalto
se borram. Típico de republiqueta de banana.
Existe o presidente da República, considerado
o comandante maior das Forças Armadas, na teoria, porém na prática nenhum
general, brigadeiro ou almirante lhe obedece. Apenas faz o de praxe. É triste
ver tantos pais e mães, de corações partidos, à espera da informação que os
leve ao lugar onde possam encontrar e sepultar, de forma digna, os restos
mortais dos seus entes queridos.
Até os Vietcongues, que venceram a poderosa
máquina de guerra dos Estados Unidos na década de 1970, devolveram os cadáveres de militares norte-americanos
mortos durante a Guerra do Vietnã. Eles tinham motivos para esconder essas
informações. Afinal de contas perderam 1 milhão de compatriotas, dizimados
pelas bombas, inclusive de Napalm, despejadas pelos aviões do tio Sam.
A impressão que fica é a do país que finge ser
democrático, mas ainda sobrevive diante da sombra dos militares. A qualquer
vacilo eles podem sair dos quarteis e perseguir políticos e civis e restaurar o
passado de trevas e dor que existiu no final da década de 1960 e parte dos anos
de 1970. Enquanto todas essas informações a respeito de desaparecidos políticos
estiverem nas mãos de militares, o Brasil vive a ilusão de uma democracia.
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