MC Boy do Charmes na gravação de um clipe... |
E Wilson Simonal no auge da fama cantando no ginásio do Maracanãzinho, no Rio de Janeiro |
Luís
Alberto Alves
“E se o dinheiro não cobrir nossa farra desse
dia/ meu cordão de ouro vai ficar de garantia/ depois da balada vou pra Love
Story arrastar mais top pra minha mansão/ com a fiel dou um role no shopping,
depois almoço na fogo de chão/boa fragrância, boa impressão/ ostentação é
questão de poder/ a correria traz a condição/ a condição proporciona o lazer..”
Esse trecho da música do MC Boy do Charmes, “Você vale aquilo que tu tem”
revela a carência de espírito de boa parte destes pseudo artistas.
Não sabem a diferença entre riqueza e
ostentação. Quem é classe média alta, tem muito dinheiro no banco e vive nas
mansões das áreas nobres do Brasil, deixa em segundo plano a sedução de se
exibir. Geralmente pessoas que apelam para este tipo de postura são carentes
espiritualmente. Para ganhar status na sociedade necessitam comprar carros
caros, de grife, roupas de costureiros famosos, jóias de elevado valor e virar
arroz de festa em diversos eventos.
Aliás, existe um famoso clube na capital
paulista que recusa no quadro de sócios milionários sem tradição. Precisam ter
família com mais de 90 anos de riqueza. Bom nome na cidade. Alguém que ganhou
dinheiro e não corre o risco de ficar pobre da noite para o dia, como já
acontece com investidor Eike Batista. Ele mesmo não conseguiria entrar neste
clube, por que seus antepassados passavam longe do acúmulo de fortuna.
Ao analisar algumas letras destes artistas
cometas (logo aparecem e rápido desaparecem) percebo nas entrelinhas o elogio
ao crime organizado. Isto é visível em uma das letras de MC Guime quando deixa
bem claro como resolve as divergências:”.. Mas geral fica em choque quando ele
entra em ação/só fuzil 2010, estampado no peito o vulgo de ladrão/ a vacilação
tá aí, mas só vacila quem quer vacilar/se correu pelo errado é rátátátátátá..”
Como vivemos numa sociedade onde pessoas são
julgadas pelos bens de consumo que estão em suas mãos, logo se acredita que o “pobre”
é alguém azarado, porque carrega apenas o conhecimento como riqueza da vida. O
problema é que inúmeras adolescentes, fascinadas pelo dinheiro fácil
transformado em telefones celulares, roupas, calçados, perfumes, grande freqüência
nos salões de beleza, imaginam que estão do lado certo da história. Engano.
Por falta de bons valores familiares, esses
artistas cometas agem iguais aos famintos ao visitar a mesa farta das
churrascarias. Comem em excesso, por medo de não poder repetir aquela
experiência. Os representantes do Pancadão (porque Funk original só é tocado e
cantado nos Estados Unidos) partem para a gastança comprando o maior número
possível de objeto de consumo para mostrar à sociedade que entraram no clube
dos ricos. Infelizmente fizeram isso pela porta dos fundos e logo vão
desaparecer.
Este tipo de postura não é novidade no mundo
artístico. Na década de 1960 o cantor Wilson Simonal ganhou muito dinheiro e
fama. Tinha um programa na extinta TV Tupi e dois na Record. Suas músicas
faziam sucesso e vendia discos igual pipoca na porta de cinema ou escola.
Conseguiu fazer show no ginásio do Maracanãzinho para mais de 30 mil pessoas.
Era considerado no Exterior também, principalmente nos Estados Unidos, onde
Stevie Wonder fez a versão em inglês de um dos seus grandes sucessos “Menina
que desce a ladeira”.
Como ocorre hoje com cantores do Pancadão Ostentação,
Simonal tinha o rabo preso com autoridades policiais da Ditadura Militar que
ficou no governo de 1964 a 1985. Eram criminosos, mas usando distintivos das
Forças Armadas. Ao suspeitar que seu contador estivesse lhe roubando, Simonal o
entregou para sofrer tortura nas mãos dos carrascos daquele governo podre. O
rapaz apanhou muito e quase morreu.
Numa época em que qualquer atitude era
considerada subversiva, os pés de barro de Simonal acabaram descobertos quando
Caetano Veloso prestava depoimento no temível Deops (delegacia responsável pela
investigação de crimes políticos, atualmente extinta). De repente Simonal entra
numa sala, exclusiva para autoridades. Um policial o repreende e recebe como
resposta: “não se preocupe, sou da casa”.
A casa caiu para o menino de ouro da MPB da
década de 1960 e 1970. Aos poucos os artistas combativos descobriram quem era o
dedo duro no show bizz. Logo Simonal passou a fazer poucos shows, perdeu o
posto de garoto propaganda de várias cadeias de lojas e passou a vender poucos
discos. Caiu no anonimato. Morreu no ano 2000 na pobreza e doente. Nunca mais
se reergueu.
Ele cometeu o mesmo erro que hoje é repetido
por vários jovens do Pancadão Ostentação: ligação com criminosos e abusar de
gastos excessivos. Imaginam que a fama é eterna e o sucesso nunca terá fim. Na
vida tudo passa. Dinheiro nas mãos de pessoas sem noção de gastos e valor é
igual vendaval. Provoca forte barulho no começo e depois passa. Por causa das
letras de mau gosto e péssimos arranjos, o Pancadão Ostentação não terá vida
longa.
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