O genocídio de Ruanda deixou 800 mil mortos em 1994 |
Luís Alberto Alves
Qual o valor de uma vida? Na Europa e América
do Norte ela nunca é esquecida. Basta surgir alguma epidemia e as manchetes de
jornais exploram o assunto profundamente. Mesmo que morram apenas dez pessoas,
o mundo se mobiliza para conter o avanço da moléstia. Casos de atentados
merecem muito destaque.
Se milhares percam suas vidas na África ou
mesmo na América do Sul e Central, o assunto fica sem importância. Exemplo
disso ocorre agora com o Ebola dizimando na África Ocidental, onde até início
de setembro 1.900 vidas se perderam, no pior surto mundial, de acordo com
balando divulgado pela OMS (Organização Mundial da Saúde). No final de agosto,
o continente negro esquecido pelas grandes potências registrava 1.552 mortes.
Em 1994 o mundo fechou os olhos para o
genocídio ocorrido em Ruanda com 800 mil vítimas. Extremistas hutus numa luta
sangrenta contra tutsis, minoria no país, começaram a matança entre 6 de abril
e 4 julho daquele ano. Briga política foi a culpada desta gigantesca chacina,
visto que os exilados tutsis tinham sido expulsos de Ruanda pelos hutus.
O genocídio teve como base o dinheiro
apropriado de programas internacionais de ajuda, financiados pelo Banco Mundial
e FMI (Fundo Monetário Internacional). Calcula-se que US$ 134 milhões foram
gastos para preparar essa matança, numa das nações mais pobres da terra. As
grandes potências, por meio de seus serviços de espionagem, sabiam que essa
enorme chacina iria ocorrer. Mas fecharam os olhos. Oitocentas mil pessoas
acabaram massacradas, quase todas as mulheres estupradas. Muitos dos 5 mil
meninos nascidos dessas violações também foram mortos.
O mesmo ocorreu na África do Sul. Durante
décadas os negros acabaram vítimas do odioso regime do apartheid. Novamente as
grandes potências mantiveram os olhos fechados. O foco era a briga entre
protestantes e católicos na Irlanda do Norte, com o Exército Republicano
Irlandês, o Ira explodindo bombas pelas ruas de Belfast. Às vezes noticiavam
atritos provocados pelos terroristas bascos na Espanha.
Como acontece atualmente, nos países ricos,
onde estão as principais empresas de comunicação do mundo, deixam em segundo
plano as tragédias que explodem rotineiramente em nações pobres. Na visão deles
não é bom investimento se preocupar com chacinas envolvendo miseráveis.
O quadro só muda de figura se três filhos de
pais ricos na Europa, Estados Unidos ou Japão perder a vida nas ruas. Neste
caso, o mundo vai levantar bandeira de luta para punir culpados e exigir o
retorno da paz. Caso sejam pobres, na visão míope dos governantes ricos, a
morte deles não provocará nenhum dano à economia. Pelo contrário, será uma boca
a menos a consumir os já escassos recursos alimentares.
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