Patricia, torcedora do Grêmio, xingando o goleiro do Santos |
Luís Alberto Alves
A vida não é fácil para negros no Sul dos
Estados Unidos, onde é forte a discriminação racial. O mesmo ocorre na mesma região do Brasil, apesar dos desmentidos de
que em nosso país os negros nunca sofrem ofensas por causa de sua cor de pele.
Os xingamentos contra o goleiro Aranha, na partida entre Santos e Grêmio
mostram que não é mais possível esconder o sol com a peneira.
Aranha disse à polícia que as ofensas começaram na segunda etapa do jogo, vencido pelo Santos |
As atitudes da auxiliar de odontologia Patrícia
Moreira e de outros torcedores gremistas mostram a intolerância de parcela da
população contra negros. Aranha contou à polícia, quando foi registrar boletim
de ocorrência numa delegacia de Porto Alegre, que os xingamentos começaram no
segundo tempo do jogo vencido pelos Santos. Ele disse que ouviu vários
torcedores lhe taxando de preto fedido, bando de preto e se conteve, até
começarem a chamá-lo de macaco.
Para azar de Patrícia, as câmeras de uma
emissora de televisão a flagrou com a mão na boca ofendendo o arqueiro
do time paulista. Ela trabalha numa empresa que presta serviços à PM gaúcha e
acabou suspensa. O juiz Wilton Pereira, alertado por Robinho e Gabriel, e de
posse das imagens das emissoras que captaram os xingamentos, poderá ajudar o
Grêmio sofrer multa de até R$ 100 mil, perder pontos e eliminação da equipe do
Brasileirão, segundo regras do Código Brasileiro de Justiça Desportivo.
Violência
Infelizmente algumas pessoas consideram o
assunto tempestade num copo de água. Que não há mal nenhum chamar o negro de
nomes pejorativos. Guardam a herança da época da escravidão, quando sofriam
todos os tipos de violência e não podiam fazer nada. Qualquer tipo de
discriminação é horrível, porque ofende a pessoa, causando sérios danos a sua
personalidade.
No início de minha carreira no jornalismo, na
década de 1980, senti na pele a dor de perder um emprego porque a minha chefe
não gostava de jornalista negro. Depois sofri a mesma experiência quando tentei
trabalho numa emissora de rádio famosa de São Paulo. Por alguns dias me senti o
pior dos seres humanos.
Em outra ocasião fui fazer a entrevista para o
jornal com um político e passei o mesmo vexame: o repórter fotográfico era
branco e estávamos sentados na sala de recepção com outro rapaz que não era
negro. Ele sai da sala e o cumprimenta me ignorando. Seu rosto mudou de cor ao
ouvir a frase: “o jornalista é ele”. Apertou minha mão, meio sem graça. Tentou
se desculpar, mais não conseguiu esconder sua discriminação contra mim.
Infelizmente esse é o Brasil que muitos tentam esconder, com o falso discurso
de democracia racial.
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