Robin Williams no inesquecível filme "Bom Dia Vietnã" |
Luís
Alberto Alves
A sabedoria popular diz que cada pessoa tem
uma cruz para carregar durante a vida, e o seu peso é proporcional. A minha não
serve para você nem a tua para mim. Às vezes imaginamos que artistas e
personalidades famosas não tenham problemas. Vivem num mundo cor de rosa,
bonito, sem nenhum tipo de aflição. Mentira. Eles enfrentam barreiras, talvez
intransponíveis para o cidadão comum, acostumado a dirigir automóveis populares
ou andar igual sardinha em lata no transporte coletivo.
O suicídio do ator Robin Williams é a ponta do
iceberg dessa polêmica questão. Quais motivos levariam alguém, teoricamente bem
de vida, a se matar? Profissional badalado em Hollywood e longe do ostracismo,
onde muitos de seus colegas estão jogados, ele teria se enforcado, por motivos
até agora desconhecidos.
Infelizmente nunca temos condições de saber o
que se passa na cabeça de uma pessoa depressiva. Ali, trancada nesse tenebroso
mundo, o futuro suicida sofre no silêncio. Não consegue colocar para fora a
amargura guardada no fundo da alma. Por razões desconhecidas perde as forças
para vencer os fantasmas responsáveis pela perda de vontade de continuar
sobrevivendo.
As cobranças existem nos diversos seguimentos
onde trabalhamos. O técnico de futebol ganhará elogios da torcida enquanto o
time ganhar títulos. Quando começar a descer a ladeira da derrota, logo ganhará
o bilhete azul, engrossando o time dos desempregados. O Barcelona fez isto
quando voltou ao patamar das equipes comuns, levando tremenda goleada do
Atlético de Madrid. O mesmo ocorreu com Felipão após os inesquecíveis 7 a 1 da
Alemanha nesta Copa do Mundo de 2014.
Festivas
Por causa do nosso ritmo frenético de vida
deixamos de prestar atenção ao nosso próximo. Às vezes falamos pouco até com
filhos, esposa ou esposo. Primos e tios são lembrados nas datas festivas de
final de ano. O vizinho do lado deixa de ser alguém interessante, até ouvirmos
a notícia de que colocou fim à própria vida.
Quantas vezes esquecemos de conversar com
nossos filhos. Sentarmos ao lado deles na sala ou cama para sabermos o que
fazem na escola ou faculdade. Questionar ou até mesmo perguntar a respeito de
algum problema ou desabafo. Optamos pela tática do presente, de preferência
eletrônicos. Esquecemos que presente não compra amor, porém amor adquire
presentes.
Hoje a solidão marca forte presença nos
condomínios de apartamentos luxuosos. Da rua olhamos para o imenso prédio e
imaginamos que ali só moram pessoas felizes, sem qualquer tipo de problema. Conheci
um empresário residente num desses imóveis, decorado com mobília de bom gosto. A
crise familiar envolvendo filhos e esposa quase o levou a pular pela janela na
busca do alívio que a morte não iria lhe proporcionar.
Outros, principalmente artistas e esportistas,
após deixarem de interessar às colunas sociais, iludem a solidão com doses
elevadas de drogas, principalmente álcool. Lembro de famoso cantor, que morreu
fazendo sucesso, dono de voz linda e admirado por jovens nas décadas de 1970 e
1980. Num desabafo confessou que contratava prostitutas para dormir ao seu
lado, quando estava sozinho em casa. Não fazia sexo com elas, deseja apenas
companhia.
Solitário
Nem a fama e o dinheiro serviram para aplacar
a dor de viver solitário. Nos shows era perseguido pelas meninas de 18 anos.
Não era bonito, mas por causa da suas lindas canções, a maioria sucesso até
hoje, precisava ceder aos abraços e beijos das fãs. As garotas desconheciam que
o ídolo delas estava carente de carinho.
O sucesso é algo solitário. O profissional
vive esta experiência sozinho. Mesmo cercado de inúmeras pessoas. Cai no
círculo vicioso de manter longe o fracasso. Passa a concentrar forças apenas no
seu desempenho. Alguns nem dormem mais direito. Levam o trabalho para casa e
dividem as tarefas com a família.
Quantas pessoas não continuam discutindo com
esposa e filhos o acontecido dentro da empresa. Falam do funcionário língua
solta, do invejoso, da inveja e do puxa tapete. Em vez de falarem de assuntos
relacionados ao casal, persistem nos assuntos de emprego. Quanto mais tempo de
empresa tiver, essa postura vai perdurar. É a forma de mostrar sua importância
naquele local.
Nenhum empresário pratica caridade com
trabalhador. Ele é pago para gerar lucro, manter a máquina funcionando em bom
estado. Após deixar de render o necessário e passar a enfrentar problemas de
saúde, logo sentirá o gosto amargo da demissão. Independente de quantos anos
tenha naquele local. É regra básica do mercado.
Filmes
Porém o que leva um profissional cortejado
pelo mercado, apesar de estar com 63 anos, resolver se matar? Como ocorreu com
Robin Williams? A indústria do cinema dos Estados Unidos sabia que ele poderia
continuar proporcionando muito lucro através de bons filmes. Não era alguém
desprezível, igual carta de baralho, nem muito menos jogador de futebol já
enfraquecido pelo peso da idade. Estava no ápice.
Os seus familiares eram próximos dele ou vivia
isolado dentro de casa? Tinham ouvidos abertos sempre para os desabafos dele ou
apenas gostavam dos personagens inesquecíveis interpretados nos inúmeros filmes
em que trabalhou? Talvez nunca iremos conhecer as respostas. Quem poderia falar
a respeito disso levou esse segredo para o além: o próprio Williams.
Que a morte desse grande ator sirva de alerta
para todos nós. Precisamos abrir nossos olhos e passar a prestar atenção aos
nossos familiares. Investir tempo visitando amigos e parentes que não vimos há
muito tempo. Jogar um pouco de conversa fora. Deixar de lado, por algumas
horas, a massacrante rotina profissional. Sentarmos à mesa, sem qualquer
etiqueta, comermos pão com as mãos, enfiarmos o dedo no copo de requeijão cremoso
e colocarmos a conversa em dia.
Ficar em silêncio ouvindo o nosso amigo ou
parente falar de suas lutas e vitórias. Prestar atenção aos projetos que ainda
sonha concretizar, mesmo que para nós pareçam utopias. Tudo de forma bacana,
deixando smartphone desligado, longe das infalíveis redes sociais, para sermos
instrumentos que possa impedir aquela pessoa de achar que o problema da solidão
é resolvido pelo suicídio. Como animais sociais, o individualismo não deve
continuar prevalecendo em nossas vidas.
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