Muitos filhos mais são parecidos com lobos em pele de cordeiro |
Luís
Alberto Alves
“Pai, você é um vacilão (bobo).
Não sabe nem escolher um tênis de marca. Não vou usar esse tênis de baciada (de
marca desconhecida). Enfia ele no teu c...”, esbravejou o adolescente de 14
anos ao receber de presente o calçado entregue pelo pai, que sustenta a família
de cinco pessoas, com o minguado salário
de R$ 2.500,00 de motorista de ônibus na periferia de São Paulo, ajudado pela
esposa que ganha R$ 60,00 diários para fazer faxina nas casas do Jardim Europa,
onde mora parte da elite brasileira.
Mas a discussão não ficou restrita ao menino.
Logo a irmã, de 16 anos, engrossou a voz com a mãe: “Será que preciso virar
vapor (pessoa que entrega drogas aos dependentes endinheirados) para conseguir
aquela bermuda que lhe pedi faz dois meses? Caramba, nesta casa só pensamos em
comer. Cadê minha sandália e o celular de dois chips da Sony?”
Atualmente a rebeldia é marca registrada na
maioria das famílias brasileiras. Filhos desobedecem aos pais, xingam e os
maltratam. Não têm educação. Exigem calçados e roupas de grife, mesmo sabendo
que nem todos gozam de ótima situação financeira. Amparados pelo ECA (Estatuto
da Criança e Adolescente) partem para o confronto e quando levam um tapa na
cara, correm às delegacias dizendo que são agredidos diariamente e a Justiça
enquadra os pais.
Eletrônicos
O consumismo em alta faz a cabeça dos
adolescentes. Colocam nas suas frágeis mentes que para merecer respeito precisam
usar determinada marca de roupa, calçado, aparelhos eletrônicos e cortes de
cabelo. Do contrário serão excluídos da turma. Sem trabalho, passam a
pressionar os pais para que comprem os objetos desejados por eles. Mas nem
sempre essa equação é solucionada e o conflito estoura.
Envenenados pela rebeldia não pensam duas
vezes para agredir com palavrões os pais. É o primeiro passo rumo ao crime
organizado, na busca por dinheiro fácil e satisfazer sua fome de comprar o que
a internet e televisão despejam incessantemente nas suas cabecinhas. Muitas
meninas usam o sexo para se aproximar de menores infratores. Aspiram ao
conforto, nem que para isso paguem alto preço no futuro.
Com uma sociedade onde os valores foram invertidos,
onde o certo é errado e este é certo, é difícil os pais conterem a rebeldia dos
filhos. Oposto de décadas passadas, os adolescentes de 14 anos hoje, em muitas
vezes, mais parecem adultos por causa da elevada estatura. As meninas dessa
mesma idade aparentam mulheres adultas, com o corpo bem desenvolvido, cheio de
sedução.
Responsabilidade
Geralmente o clima fica pesado na maioria dos
lares brasileiros. Em algumas casas, os pais não conseguem mais impor suas
vontades. Permanecem a reboque de adolescentes que se julgam sabedores da
verdade, sem qualquer noção da responsabilidade de colaborar, em vez de só
cobrar. Alguns partem para agressão, tornando a vida da família um inferno.
Solidariedade é palavra desconhecida nesta
geração adolescente. Muitos não lavam sequer o prato e copo onde tomam café.
Tratam os pais como empregados. Na classe média baixa, são poucos os filhos que
ajudam na faxina da casa. Para eles é descrédito alguém pegar a vassoura para
limpar o chão. As meninas são bem arredias. Quando percebem a intenção da mãe,
procuram sair rápido de casa e retornar mais tarde.
Neste ritmo de vida ninguém sabe qual a cor do
futuro dessa juventude. Imaginam que o mundo tem a obrigação de ceder aos seus
caprichos. Quando perceberem a dureza da realidade da vida, como irão encarar a
situação? É fácil viver sob a barra da saia da mãe e braço do pai, porém chega
o dia de andar com as próprias pernas. De tomar decisões sozinhos, algumas
delas de grande impacto mais adiante. O rebelde costuma sofrer bastante até
conhecer as duras regras da faculdade da vida.
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