O craque Neymar durante entrevista coletiva ontem (10) no Rio de Janeiro |
Luís
Alberto Alves
Você tem razão Neymar. Os atuais jogadores da
Seleção jamais devem ser atirados aos leões por causa da goleada diante da
Alemanha. Como fizeram com o goleiro Barbosa na Copa do Mundo de 1950, em que o
Brasil perdeu para o Uruguai no Maracanã. Infelizmente, ele carregou essa
pesada cruz até o fim da vida, de ter falhado e permitido que o adversário
ganhasse o título dentro de nossa casa.
O brasileiro é conhecido pelo extremismo
sentimental que mantém com o esporte. Na vitória é fervoroso amante, na derrota
se transforma em carrasco cheio de ódio. O técnico Tite, do Corinthians, é
exemplo disto. Diante da equipe alvinegra ganhou vários títulos, inclusive a
sonhada Libertadores da América, e depois, de forma convincente, o Mundial
Interclubes, no Japão. Bastaram algumas derrotas para virar vilão e perder
emprego em Parque São Jorge.
“Não podemos ser sacrificados por causa dessa
derrota para Alemanha”, disse Neymar ontem (10) durante entrevista coletiva na
Granja Comary, Rio de Janeiro, onde foi visitar os colegas de Seleção. O
problema é que o futebol no Brasil serve como massa de manobra, para desviar o
foco de assuntos importantes. É igual anestésico, usado para amenizar a dor, sem
atacar a causa do problema.
A queda diante do competente time da Alemanha
começou antes da escolha dos atletas que formariam a equipe para esta Copa do
Mundo. Teve início quando políticos desonestos assumiram a presidência dos
clubes e depois das federações e por fim da CBF (Confederação Brasileira de
Futebol), verdadeiro ninho de corruptos.
Outro indício deste tombo é a transformação
dos times em instrumento de ganhar dinheiro. Empresários gananciosos firmaram
parcerias com agiotas profissionais e passaram a tratar atletas como
mercadorias. Não bastava mais ganhar títulos. Em seguida deveriam ser
negociados, de preferência para o Exterior, por valores exorbitantes; caso da
venda de Neymar para o Barcelona.
Mesmo que o clube ofereça resistência, os agiotas
profissionais passam a criar factóides na imprensa esportiva e o clima fica
tenso, facilitando a saída do jogador. Isso ocorreu com Paulo Henrique Ganso,
até chegar ao São Paulo. Ficou sem nenhum ambiente no Santos. Os incentivadores
de sua saída do Santos ganharam muito dinheiro, mas agora têm um mico na mão: por
razões desconhecidas, a genialidade de Ganso no tricolor do Morumbi
desapareceu. Os ovos da galinha de ouro perderam o valor.
Investimento nas categorias de base virou
ficção nos times brasileiros. Alguns dirigentes alegam que não vão carregar
piano para os outros. Ou seja, descobrir alguém talentoso e depois empresários
desonestos fazer fortunas em cima daquele atleta numa dobradinha com agiotas
travestidos de investidores.
Por outro lado, a paixão cega da população
pelo futebol abriu as portas dos clubes para políticos desonestos. Em busca de
mais poder, assumem cargos na diretoria, até amarrar o conselho deliberativo
através de falsas promessas. Há casos de times que caíram nessa cilada e teve
nome inscrito nos serviços de proteção ao crédito e na lista de emissores de
cheques sem fundo do Banco Central. Tiveram penhoradas até a renda de partidas
para pagar débitos com a Previdência Social e FGTS de jogadores em ações
trabalhistas.
Exemplo desse descalabro é o Guarani de
Campinas. De campeão brasileiro de 1978, e vice do Paulistão de 2012, hoje está
na segunda divisão do campeonato Paulista e Série C do Brasileirão. Do passado
de glórias quando revelou craques como Neto (atual comentarista da Band TV),
Careca, Júlio César (zagueiro na Copa de 1986 no México), Evair, Amoroso,
Luisão e teve no elenco estrelas como Zenon, Jorge Mendonça e Djalminha, tenta
negociar a venda do estádio Brinco de Ouro da Princesa para pagar diversas
dívidas.
Enquanto persistir a estrutura amadora na
administração dos clubes e lobos em pele de cordeiro assumindo a presidência,
como ocorre atualmente, o futebol brasileiro vai continuar descendo cada vez
mais os degraus do profissionalismo. Para chegar ao nível de uma seleção da
Alemanha, são necessários planejamento e investimento, deixando de lado as
vaidades de pessoas como José Maria Marin, atual presidente da CBF, e
colaborador da Ditadura Militar que derrubou o presidente João Goulart em 1964.
Quando pessoas honestas e centradas estiverem
à frente dos clubes no Brasil e a categoria de base não servir de laboratório
para empresários desonestos e agiotas travestidos de investidores, poderemos
sentar na arquibancada de qualquer estádio do mundo e assistir ao belo
espetáculo da nossa Seleção Brasileira. Do contrário, não estão descartadas
futuras goleadas, aplicadas até por adversários sem qualquer tradição. Ou a
Argélia é melhor que o nosso time? Ela quase tirou a toda poderosa Alemanha das
oitavas.
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