O choro do pequeno torcedor traduz o sentimento de 200 milhões de brasileiros |
Luís
Alberto Alves
“Não
eu não consigo acreditar no que aconteceu, /É um sonho meu
Nada se acabou.../ Hoje mais um dia de tristeza
para mim passou Nem no meu olhar/ Nada se alegrou /Sinto-me perdido no vazio que
você deixou/ Nada quero
ser/ já nem sei quem sou...” Essa é a minha
impressão e talvez de milhões de brasileiros ao acordar hoje e perceber que o
sonho da conquista do hexacampeonato acabou.
Trecho da canção
acima, de Márcio Greick, gravada na década de 1970, conta a história de alguém
sentindo a dor da perda do grande amor, que estava com o coração esfacelado. É
inacreditável, mas aconteceu: a Seleção Brasileira tomou uma das maiores
goleadas da sua rica trajetória: 7 a 1 em pleno estádio do Mineirão.
Os jogadores após o
time levar o terceiro gol, pareciam o lutador de boxe golpeado várias vezes,
inerte no canto do ringue, sem forças de esboçar qualquer reação. Em minha
memória ficará marcada para sempre a imagem do zagueiro Dante colocando as duas
mãos na rede, no fundo do gol e balançando a cabeça sem crer no que estava
vendo.
Ontem (8) a equipe
brasileira parecia meninos do infantil enfrentando os adultos num treino. Sem padrão
técnico foram envolvidos facilmente pelos alemães, verdadeira máquina de fazer
gols, porém humildes. Poderiam ter feito mais de dez gols no Brasil. Mas tiveram
a sensatez da tamanha humilhação que seria este gesto na casa do adversário. Contentaram-se
com a goleada de sete.
Fred, um dos piores atacantes de nossa Seleção Brasileira |
É tão difícil
acreditar neste resultado, que alguém ausente do noticiário esportivo ao tomar
conhecimento deste tremendo “chocolate” iria achar graça: “Não estou falando do
Brasil de Pelotas, do Rio Grande do Sul, saco de pancadas no campeonato gaúcho.
Digo do Brasil, cinco vezes campeão. Impossível levar sete gols aqui em nossa
casa, de qualquer adversário”.
Parece notícia fúnebre,
quando sabemos que um amigo ou parente, com quem estivemos há pouco tempo
morreu de repente: “Impossível. Estive com ele ontem. Bebemos e conversamos
muito. Aliás, ouvi vários de seus projetos. Talvez seja outra pessoa, bem
parecida à vítima desta tragédia”.
Mas é verdade. A
Seleção Brasileira foi goleada pela Alemanha. Em 18 minutos tomou cinco gols.
Nossos zagueiros, atordoados, não ofereciam nenhuma reação. O sonho da
conquista do hexacampeonato no Maracanã, para redimir o drama de 64 anos atrás,
quando o Uruguai levou a taça para casa, não será mais realizado.
Não basta trocar o técnico Felipão, mas mudar a bagunçada estrutura do futebol do Brasil |
Para redimir do vexame
a cartolagem cortará a cabeça do técnico Felipão. Não resolve. É igual tomar
remédio para baixar a febre, sem descobrir a causa do aquecimento anormal do corpo.
Sim, ele teve culpa no resultado, ao escalar mal a equipe. Porém falta à
Seleção organização.
Infelizmente no Brasil,
o futebol é visto como porta de entrada para cargos políticos. Pessoas
despreparadas, mas ávidas por fama e dinheiro apostam na administração de
clubes esportivos. Não há planejamento. Reúnem um grupo de atletas, aumenta o
preparo físico, faz amistosos com equipes fracas e carimbam o passaporte para
outra Copa do Mundo. Ilusão.
Goleada de 7 a 1 foi o maior vexame da equipe canarinho numa Copa do Mundo |
Geralmente vários
jogadores talentosos ficam de fora. Empresários, ligados à cartolagem, impõem
seus pupilos para essa vitrine e colhemos resultados amargos. Tecnicamente o
atacante Fred, do Fluminense, não poderia estar neste time. O lateral direito Daniel
Alves, do Barcelona, é outro convocado sem qualidade técnica para a posição.
Talvez foram empurrados goela abaixo de Felipão.
David Luiz um dos jogadores da base que precisa ser mantido para a Copa de 2018, na Rússia |
Como ocorre após o
enterro de alguém muito querido, os primeiros meses são terríveis. Não
acreditamos naquela perda. Choramos bastante. A dor da saudade machuca o
coração. Às vezes chegamos a crer que a vida não vale mais nada. Porém o tempo
cicatriza as feridas e a volta por cima ocorre. Cabe à Seleção Brasileira
realizar autocrítica, sanar os erros e apostar no planejamento, manter a base
do time, retirar as peças ruins, levantar a cabeça e aprender com forte equipe
da Alemanha como se monta uma equipe campeã.
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