Atual presidente da CBF, José Maria Marin defendeu o Regime Militar na década de 1970 |
Luís
Alberto Alves
Para a Seleção Brasileira voltar a brilhar nos
gramados, é preciso mudança radical na CBF: higienizar a entidade de políticos
e empresários de futebol. Há muitos anos que ela virou cabide de emprego de
pessoas sem qualquer conexão com a rotina esportiva. Sem medo de errar, seus
dirigentes não sabem nem chutar uma bola ao gol. Nunca calçaram chuteiras,
apenas sapatos bem engraxados para circular nos corredores e gabinetes do
Congresso Nacional.
Não adianta trocar a comissão técnica e manter
os tristes hábitos de condução do futebol brasileiro, com vários times à beira
da falência por causa de péssima gestão e reféns de diretorias preocupadas
apenas em aparecer na vitrine para ganhar ou se manter em cargos nos governos
estaduais ou federais. Conscientes do amor da população pelo futebol aplicam
mensalmente a política do pão e circo, para desviar a atenção do povo para os
graves problemas enfrentados pela nação.
Infelizmente políticos agem de forma parecida
com as garotas de programas: gostam de pessoas endinheiradas e de quem possam
tirar proveito. Todo clube no auge da saúde financeira e colecionador de
títulos vai atrair interesseiros deste tipo. Quando mergulha no lodo das
dívidas e queda nas tabelas, e até rebaixamento, são abandonados, assim como os
ratos fazem com o navio afundando. Exemplo disso é o São Caetano, do ABC
paulista, que no começo dos anos 2000 chegou a disputar final da Libertadores
da América.
Fleury, delegado torturador, elogiado por Marin |
Não quero defender Felipão e sua comissão
técnica. Ele teve parcela de culpa na gestão da Seleção Brasileira, mas o
problema é mais profundo. É igual doente que só ingere anestésico sem avaliar a
causa das dores. Nosso time estava tomando esse medicamento há muito tempo. Os
torcedores ficaram iludidos com a conquista da Copa das Confederações. Caíram
na cilada de que a conquista do Mundial seria fácil. O resultado todos sabem.
Saiu o mafioso Ricardo Teixeira e entrou outro
pior: José Maria Marin, vice governador de São Paulo na década de 1970 e
cachorro de estimação do Regime Militar. Aliás, partiu dele o elogio público ao
delegado carniceiro Sérgio Fleury, autor de inúmeras mortes de presos políticos
através de suas mãos de terrível torturador. Uma vez lobo, lobo sempre.
A estrutura futebolística brasileira está
podre. Se cobra resultados, mas sem qualquer investimento nas categorias de
base. Da fortuna arrecadada pela CBF, pouco sobra para os clubes que fornecem
seus jogadores para a Seleção. Na outra ponta estão interesseiros empresários
de futebol, afinados com a nata podre da CBF. Fazem lobby constante para
colocar seus atletas nas seleções, visando o brilho da vitrine para futuras
vendas ou até negociação de caríssimos contratos.
Muitos deles tomaram de assaltos vários
clubes, enfiando goela abaixo dos técnicos a escalação de suas estrelas. Para
apimentar mais a parceria, juntaram forças com investidores, que só entendem de
dinheiro, e o que era ruim ficou pior. Atualmente existem jogadores que chegam
à Seleção sem qualquer condição técnica de vestir a camisa canarinho.
É muito raro encontrar atletas de outros
estados no time. Sempre estão ali jogadores atuantes em São Paulo, Rio de
Janeiro, Minas Gerais e Rio Grande do Sul. Parece que no restante do Brasil
ninguém pratica mais futebol. Essa panela continua cozinhando o mesmo arroz há
décadas. Caso o presidente da federação daquele estado esteja afinado com a
CBF, ocorre o chamado do contrário nunca aparecerá na lista dos escolhidos.
Atualmente temos uma seleção de cores
multinacional: maioria é proveniente de equipes estrangeiras, caso do atacante
Hulk, que joga na Rússia. Presta-se mais atenção aos brasileiros atuando no
Exterior, do que naqueles ainda em clubes do Brasil. A desculpa é que o futebol
internacional evoluiu. Concordo. Então a qualidade dos nossos craques caiu?
Não! Continuamos a produzir bons jogadores, faltam oportunidades. Hoje quem
passa nas peneiras é o afilhado do diretor, não o menino calçando chuteiras
rasgada e magro, mas bom de bola.
Enquanto imperar a mentalidade tacanha de usar
a Seleção Brasileira para fins políticos e massa de manobra para iludir a
população, desviando sua atenção dos graves problemas ainda existentes em nosso
país, correremos o risco de ver outros times ganharem a Copa do Mundo. Aliás,
eles aprenderam a se organizar. Investiram dinheiro na montagem de boa
infraestrutura. Proporcionaram condições para que a comissão técnica pudesse
trabalhar, sem a ingerência de dirigentes interessados apenas na manutenção de
cargos políticos, para continuar bebendo leite na mamadeira do governo.
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