Aparelho de ginástica instalado no Horto Florestal (SP), num local cheio de goteiras |
Luís Alberto Alves
Desde minha época de criança, há mais de 40
anos, vejo o noticiário destacar a falta de cuidado que o governo tem na
preservação do patrimônio público. Seja
na esfera municipal, estadual ou federal. A regra é a mesma. Não importa a
qualidade do equipamento; foi comprado, alguém ganhou dinheiro na licitação
(raro isto não acontecer) e o restante é deixar abandonado até estragar e a
história voltar à repetição.
Há poucos dias no Horto Florestal de São
Paulo, Zona Norte da Capital, a administração, subordinada ao governo tucano de
Geraldo Alckmin (PSDB), instalou um aparelho de ginástica. O curioso é que ele
está embaixo de uma espécie de coreto, cujo telhado de madeira é repleto de
buracos. Com a chuva, o local enche de água, e claro respiga sobre o
equipamento que os freqüentadores utilizam.
Não consigo compreender como alguém comete
erro tão grosseiro: colocar algo que custou dinheiro público sob um teto que
não resiste à chuva e logo irá danificá-lo. Talvez o responsável por tamanho
absurdo desconheça a realidade. Viva somente dentro de escritórios refrigerados,
longe da vida das ruas. Os discos de ferro, de vários quilos, estão soltos, sem
qualquer corrente fina presa ao aparelho, facilitando o furto, por desocupados
que também freqüentam o Horto Florestal.
Infelizmente o Brasil é o país do desperdício.
Quantos hospitais nas regiões mais afastadas dos grandes centros receberam
instrumentos e maquinários para auxiliar no tratamento de doentes e
permaneceram jogados nos depósitos até a ferrugem destruilos? Há alguns anos a
Polícia Militar de SP recebeu várias peruas Kombis para usar no patrulhamento.
Virou alvo de piada, pois este tipo de veículo é para transporte de carga, não
para perseguir carros de bandidos. Provavelmente alguém ganhou dinheiro nessa
estranha licitação.
Na rodovia paulista Anhanguera, após a cidade
de Piraçununga, existe um viaduto que liga o nada a lugar nenhum. Está ali
desde o final da década de 1970. O mesmo aconteceu com a Via Dutra, antes da
privatização, com uma ponte sobre a Rodovia Hélio Smidt, que serve de ligação
com o Aeroporto Internacional de São Paulo/Guarulhos. A base de concreto nunca
foi utilizada e ali permaneceu vários anos.
Outro descaso são as obras de despoluição do
Rio Tietê. Há mais de 20 anos a história é ouvida pela população paulista de
que o governo está trabalhando para torná-lo limpo. A cada dia fica mais sujo
e, claro, alguém ganha dinheiro. Geralmente empréstimo feito por bancos
estrangeiros. O Metrô, na década de 70 e metade dos anos de 1980 sinônimo de
boa administração, hoje é sucata. Os trens abrem algumas portas em movimento,
colocando em risco a vida de passageiros.
Só depois de muita discussão, o governo
federal resolveu substituir os obsoletos caças Mirage, responsáveis pelo
patrulhamento do espaço aéreo brasileiro. Mesmo assim a escolha final dos
aviões que serão fornecidos pela Suécia ficou parecida com parto complicado.
Valeu a mesma regra: deixa a situação ficar no limite para ser tomada alguma
decisão. Desconheço porque os governantes agem dessa forma, mas acredito que
seja pelo lucro obscuro oferecido em qualquer licitação.
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