Vários motivos levam alguém a morar nas ruas |
Luís Alberto Alves
Ao andarmos pelas ruas nos deparamos com
mendigos, alguns até jovens. Qual a razão para alguém ir fazer das ruas um lar?
De forma consciente é difícil entender por que homem ou mulher abandona a casa
para enfrentar os perigos externos, dormir ao relento, fazer do lixo
alimentação e matar a sede com a água que escorre pelas calçadas ou espirra nas
fontes das praças.
Várias teses são levantadas, entre elas a
violência doméstica, que colabora para que crianças fujam da presença da família
que as maltratam e de mulheres que optam pelas ruas a ficar sob jugo do marido
agressor. A questão é que nas ruas o problema vai aumentar, pois é um
território de ninguém, onde a proteção inexiste, principalmente por parte da
polícia.
Muito tempo atrás, no final da década de 1990
entrevistei um mendigo e lhe perguntei qual o motivo para ele estar naquela
situação, fazendo do banco da praça o seu colchão e jardim o sofá. De imediato
seus olhos ficaram cheios de lágrimas. Logo começou descrever sua história. Era
engenheiro eletrônico, havia participado do desenvolvimento de programação da
primeira linha do Metrô de São Paulo em 1974. Ganhava bom salário e mantinha
bom padrão de vida.
Casado,
com três filhos, tinha a felicidade no lar. Viajava constantemente ao lado da
família. Num final de semana sofreu um grave acidente, só restando ele vivo,
após dias de internação. Não aguentou a perda. Mergulhou no álcool até perder o
emprego. Passado anos, foi morar na rua para tentar esquecer a tragédia que lhe
abateu. Elogiou o Metrô, que fez todo esforço para lhe retirar do alcoolismo,
mas a dor da solidão prevaleceu e saiu do trabalho.
Em outro caso conversei com um menino, talvez
com sete anos de idade, na região da Praça da Sé, na década de 1980. De calção,
sem camisa e descalço, lhe questionei o porquê de escolher a rua como casa. A resposta
veio fulminante: “Em casa apanho todos os dias. Prefiro aqui fora onde ninguém
me bate. Tenho paz”.
Os problemas são inúmeros, mas sempre têm
ligação com traumas. Essas pessoas tentam esquecer o passado de dor longe do
seu lar. Como se as ruas funcionassem como calmante. Longe das imagens
domésticas, tentam sobreviver apagando da mente cenas que lhes trouxeram
sofrimento.
Depois que chegam neste estágio, aprendem suportar as durezas
impostas pela vida a quem escolhe a rua como casa. O coração e a mente
dificilmente aceitam mais a sua rotina existente dentro de um lar. Só Deus para
mudá-los de ideia.
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