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Ustra é acusado de matar vários militantes políticos sob tortura |
Luís
Alberto Alves
O
coronel reformado Carlos Alberto Brilhante Ustra, de 83 anos, morreu na
madrugada desta quinta-feira, em Brasília. Ele estava internado no Hospital
Santa Helena em tratamento de quimioterapia contra um câncer e estava com baixa
imunidade. A família ainda não decidiu onde Ustra será velado e enterrado.
Entre 1970 e 1974, auge do terror implantado
pela Ditadura Militar de 1964, ele foi chefe do DOI (Destacamento de Operações
de Informações) Codi (Centro de Operações de Defesa Interna) criado para
reprimir manifestações políticas de oposição. Entre os militantes que
conseguiram sair vivos do centro de tortura que funcionava, onde hoje é o 36⁰
DP (Paraíso), Paraíso, Zona Sul de SP, ficou conhecido como Dr. Tibiriça,
codinomes usados para evitar agentes do Estado envolvidos na repressão.
Durante depoimento à Comissão Nacional da
Verdade, em 10 de maio de 2013, negou que tenha torturado opositores do regime.
Para arrancar informações, no DOI/Codi, os suspeitos tomavam choques elétricos
dependurados no pau de arara (barra de ferro onde a pessoa ficava suspensa com
pés e mãos amarrados), passavam por sessões de enforcamentos, tinham a cabeça
enfiadas em baldes cheios de água durante processo de afogamento, recebiam
golpes de palmatória nas mãos, pés, costas e de aspirar amônia.
Dependendo do grau de suposta periculosidade
do então considerado terrorista pelo regime da época, Ustra acompanhava a
selvageria, às vezes colocava a mão na massa. Orientava aos torturadores,
geralmente delegados da Polícia Civil ou oficiais da PM, que o sofrimento não
podia matar. A regra era obter informações de como prender outros militantes,
de preferência vivos.
Segundo depoimentos de sobreviventes, os
castigos duravam mais de 24 horas seguidas, como ocorreu com o estudante de
Geologia Alexandre Vannuchi Leme, detido na USP (Universidade de São Paulo) em
1973, acusado de participar do grupo armado Ação Libertadora Nacional. Preso em
15 de março daquele ano, foi torturado pela equipe de Ustra dois dias seguidos.
Como regra usada na época, o DOI/Codi alegou
que Vannuchi morreu atropelado ao fugir do cárcere. Para tentar ocultar o
crime, o enterraram no cemitério de Perus, extremo Norte da capital paulista
numa cova rasa, sem caixão, num local forrado de cal virgem para esconder as
marcas das torturas.
Somente
dez depois os familiares conseguiram resgatar os restos mortais de mais uma
vítima do regime que Ustra serviu rigorosamente. Em 17 de março de 2014, 41
anos após sua morte, a família de Vannuchi recebeu atestado de óbito retificado
em que a causa da morte é reconhecida como lesões provocadas por tortura e o
local como dependência do II Exército, DOI/Codi SP.
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