Entrevista fictícia com presidente interino Michel Temer

"Grupelhos não receberão dinheiro para fazer suas festas"

Luís Alberto Alves

Sem aparentar nervosismo e cercado de seguranças e assessores que não fazem nada, o vice-presidente interino Michel Temer (PMDB) me recebeu para uma curta, mas impactante entrevista. Escolado com o linguajar dos políticos, procurei ser curto e grosso com o homem que passou a ser acusado de golpista pelos esquerdistas e partidários do PT, PC do B e Psol. Ou seja, a oposição do micro-ônibus.

Presidente interino Temer, o senhor vai extinguir direitos do trabalhador?

O Brasil é uma mãe para o trabalhador. Veja o caso das mulheres. A partir do momento que ficam grávidas não podem ser demitidas. Após ganhar o nenê vão para casa e só voltam depois de quase seis meses. Neste período continuam sendo remuneradas. Não é mordomia?

Mas uma mulher grávida precisa de proteção, principalmente após dar à luz...

No passado a mulher ganhava nenê e no outro dia estava no trabalho, puxando enxada na roça, carregando lenha na cabeça, colhendo café. Vou colocar o trabalhador na real. Chega de vida mansa.

Não é pesado aposentadoria mínima aos 65 anos, enquanto os políticos gozam de várias mordomias?

Hoje alguém aos 65 anos de idade é novo.  Veja a quantidade de idosos disputando corridas de rua, principalmente de maratonas. Na década de 40 era diferente. Chegar aos 42 anos tinha de levantar as mãos para os céus. Calculo que é possível trabalhar até os 80 anos. Vou lutar para manter esse ponto de vista.

O seu governo é contra minorias?

Quando era jovem você participou de movimento estudantil? Como funcionava as assembleias? A minoria tinha de aceitar o voto e a vontade da maioria. Este é o meu pensamento. Chega de privilégios. De projetos de lei parecido com bicho grilo. Nossa proposta é manter a vontade da maioria. Em tudo. Por exemplo, na minha opinião o conceito de família é de homem e mulher, não o que predominou no governo do PT, onde a célula mater da sociedade recebeu vários ataques.

Mas não é uma visão retrógrada em relação ao século 21?

Não é. Vou combater propostas como educação sexual de gênero para crianças no Ensino Infantil. Que é isso? Nesta idade não é aconselhável dar qualquer tipo de orientação sexual para uma criança. Mas no governo do PT isso era normal, por que nunca gostaram da família. Atraso é defender ideias que parece avançadas, mas trazem no seu bojo a semente da destruição. Nosso governo abomina as ideias de cunho socialista/comunista, interessadas apenas em regras reprovadas pelo mundo.

Então política de gênero está descartada nesta gestão?

Chega de papagaiada. É absurdo se gastar dinheiro para um grupelho se locupletar. Deixamos de lado a maioria e vamos agradar a minoria? O correto é o contrário. Vou cortar verbas publicitárias para eventos patrocinados por esse segmento da sociedade. Eles é que enfiem a mão no bolso e façam com seu dinheiro. A torneira do governo secou.

O senhor é satanista, o que tem a ver o personagem Marlon, do livro “Filho do Fogo”, com sua vida?

Vocês jornalistas são muito criativos. Não me chamo Marlon. Meu nome é Michel. Acredito em Deus.

Qual Deus?

Só falta você também acreditar que sou representante das trevas. Olhe bem para meu rosto, minhas mãos. Tenho algum anel de cunho ocultista, apresento marcas na minha fisionomia? Nunca ouvi falar deste livro “Filho do Fogo”. Fico espantado de a imprensa continuar acreditando numa besteira dessa. Defendo a tese de que todos os caminhos levam a Deus (batendo a mão fechada na madeira da mesa e olhando para um crucifixo pendurando na parede).

Como o senhor vê sete ministros do seu governo pegos pela operação Lava Jato, quando se prega honestidade e suspeitos de crimes ocupando pastas importantes?

Caso sejam julgados e condenados sairão do meu governo direto para a cadeia. Mas por enquanto é ilação, fofocas dos invejosos e desonestos do PT que acabaram nas mãos da Justiça Criminosos eram os ocupantes da gestão anterior. A honestidade é o meu lema. Sempre.

Em termos de publicidade, o senhor vai privilegiar os grandes grupos da mídia ou os alternativos terão direito a um quinhão desse bolo?

Entre investir num blog de fofoca e numa emissora igual a Rede Globo, não tenho dúvidas de que a grande mídia será compensada. Valorizo empresas jornalísticas, do porte da Veja, Isto´É, Estadão, Folha de S. Paulo, verdadeiros arautos da liberdade de expressão, testemunhas das vozes da rua. Quantos aos fofoqueiros de plantão que arrumem emprego e vão trabalhar.

E quanto aos movimentos sociais, serão tolerados ou sofrerão o peso da repressão, como é regra do governo tucano em São Paulo, Geraldo Alckmin?

Chega de baderna. Quem são os militantes? Desocupados, que ganham sanduíche de mortadela e R$ 50 para xingar as autoridades. O ministro da Justiça tem o meu aval de mandar reprimir. O Brasil precisa de trabalhadores, não de bagunceiros. Neste time incluo o MST, onde tem agricultor que nunca viu uma enxada na vida, não sabe nem plantar no campo ou colher café do pé. Se a PM não der jeito, autorizo a tropa de choque do Exército entrar em ação.

Parece que o seu governo adotou a política do ódio, em vez do diálogo.

É alguns veículos de imprensa que tentam alimentar essa falsa imagem de mim. Tenho amor, mas pelo correto. Não admito bagunça. Tudo precisa andar direito. Presidência da República exige pulso firme. É igual casa, deixe seu filho fazer o que quiser quando pequeno e ele jovem você não segura mais. Na minha gestão a lei vai funcionar. Lugar de baderneiro é na cadeia. Aqui ninguém vai fazer festa com o nosso dinheiro. Trabalhem. Aliás, os brasileiros ficaram mau acostumados desde 2002, só recebendo benefícios. Agora chegou a hora de pôr as mãos no arado.