Luís Alberto Alves
Cabeça de jornalista
das antigas é assim mesmo. Lembrando das lições recebidas de mestres igual
Freitas Nobre, de quem guardo sábios conselhos, repórter deve sempre
desconfiar. Principalmente de respostas de autoridades e mesmo de vítimas.
Precisa pesquisar, comparar, mas com muito cuidado e sem a pretensão de ser
juiz ou promotor. Em nossa profissão não julgamos, apenas noticiamos.
Trabalhei três anos
fazendo reportagens de segurança pública. Só chacina cheguei a cobrir 12.
Homicídios perdi a conta de tantas pessoas que foram assassinadas e transformei
aquelas tragédias em matérias. Aprendi a reparar detalhes. Exemplo: mortos a
tiros, com as mãos fechadas, revela agonia. A vítima sentiu dor e demorou para
morrer.
Sinal de queimadura
na pele, mostra disparos à queima roupa, com a arma perto do corpo. Buracos de
balas na mão ou braço, é indicativo de que a pessoa, tentou em vão, se proteger
dos tiros. Boca fechada e dentes cerrados é outro sinal de dor intensa, antes
da chegada da morte.
No estupro não é
diferente. É uma agressão. A mulher resiste ao ataque. O criminoso torce o
braço dela, desfere socos no rosto, no peito, nas costas, rasga as roupas para concretizar
o ato sexual. As vítimas de estupro ficam traumatizadas. Nos primeiros minutos
após essa terrível relação, muitas não conseguem nem ficar de pé.
Elas choram, sentem
vergonha de pedir socorro e até mesmo de ir até a polícia registrar queixa.
Sentem imundas, pois tiveram sua intimidade invadida por um desconhecido,
talvez com doenças sexuais mortais, caso do HIV. Com todo esse quadro que
descrevi, como é possível alguém sofrer tamanha violência sexual e ainda encontrar
forças para contar quantos homens a estupraram?
Se uma mulher
enfrenta tamanho sofrimento quando é penetrada de forma brusca apenas vez, e
quando esse ato ocorre 33 vezes? Vamos supor que tenha sido drogada, mesmo
assim, após o efeito passar, a dor vai explodir na região genital, inclusive
com sangramento. Qual razão para tudo ter ficado sob controle?
Qual namorado admite
sua amada sofrer estupro 33 vezes, sem fazer nada? Que explicação para essa
anomalia? O histórico dessa jovem alguém levantou? Ela frequentava essa favela?
Tinha vida sexual intensa? Como era a convivência dela na escola, com os amigos
ou mesmo parentes? O ditado popular diz o seguinte: “Os números não mentem, mas
os mentirosos inventam números”!
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