Apenas um número informa que alguém está enterrado naquele local |
Luís
Alberto Alves
Que morador de rua é tratado com descaso, a
maioria da população sabe. Mas poucas pessoas tiveram a experiência tétrica de
ver o enterro de um mendigo ou desconhecido sepultado como indigente nos
cemitérios de Perus (Zona Norte), Vila Formosa (Zona Leste) ou do Jardim São
Luis (Zona Sul). É algo que corta o coração de alguém que ainda sente amor pelo
próximo.
O rabecão (carro de transporte de cadáveres)
encosta numa das ruas próximo às sepulturas, os corpos são retirados, todos
nus, trazendo a enorme cicatriz no peito, revelando que passaram por autópsia,
e jogados em caixões de compensado. Depois eles são colocados na cova e
cobertos de terra. Em cima é fincada uma estaca numerada, avisando que alguém
desconhecido está naquele local.
Não existe por parte do Serviço Funerário
Municipal de SP qualquer humanidade neste momento, mesmo quando o morto é
alguém sem identificação. Parecem animais irracionais que ao morrer são enterrados
em qualquer lugar, acondicionados num saco plástico e jogado num buraco.
Os funcionários do cemitério, calejados nesta
tétrica função, trata o ato de sepultar como algo mecânico. Sem nenhuma
referência. Na gestão da prefeita petista Luiza Erundina, na década de 1990,
funcionários do Serviço Funerário impediram sepultamento de algumas vítimas
executadas pela polícia durante rebelião no pavilhão nove da extinta Casa de
Detenção, bairro do Carandiru, Zona Norte de SP. Motivo: os corpos estavam
amontoados nos caixões.
Este absurdo precisa ser corrigido rapidamente
pela administração pública municipal. Os atuais responsáveis pelo Serviço
Funerário da cidade de São Paulo precisam compreender que os mortos devem
merecer bom tratamento. A ausência de vida não é sinal verde para se cometer
todo tipo de violência, contra alguém que mesmo morto, carece de cuidado, pois
foi abandonado pela sociedade. Os direitos humanos precisam ser aplicados nesta
causa. Com urgência ou o poder público entrou na barbárie.
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