O publicitário Eduardo Pinto Martins, acusado de matar e esquartejar o zelador do prédio onde morava |
Luís
Alberto Alves
O assassinato, com requinte de perversidade,
de um zelador de prédio no bairro paulistano de Casa Verde, mostra a degradação
da nossa sociedade. Atualmente as pessoas se mostram intolerantes em tudo. No
trânsito, após a abertura do semáforo, o motorista não pode demorar a sair, do
contrário é atormentado com centenas de buzinadas e até xingamentos.
No trabalho, a chefia resolve cobrar
resultados da equipe por meio de gritos e ameaças. O policiamento é feito sob
égide do terror. Para qualquer PM, o cidadão comum é bandido e recebe mau
tratamento na abordagem, principalmente se tiver a insorte de morar na
periferia e for negro e favelado.
Mas quais motivos levam um casal de
intelectuais (o marido é publicitário e a mulher advogada) a cometer crime repleto
de barbaridade? Segundo as investigações, a vítima foi esquartejada e pedaços
do corpo acabaram numa grande mala e depois o publicitário tentou desaparecer
com o cadáver queimando o que restou dele numa churrasqueira. Algo macabro.
A nossa sociedade está doente, talvez na UTI
(Unidade de Terapia Intensiva). É um modelo decadente, como ocorreu na época do
Império Romano, onde a degradação dos costumes já não causava qualquer tipo de
constrangimento a ninguém. O certo ganhou a imagem de errado e vice versa.
Atualmente as posturas corretas viram alvos de
chacotas na escola ou no serviço. Caso uma mulher diga que pretende ter um
casamento, como manda o figurino, transando pela primeira vez na lua de mel,
vai virar alvo de piadas e de mau gosto. Marido que não trai a esposa, passa
longe de puteiro e recusa cheirar cocaína, fumar maconha ou crack é considerado
careta ou até afeminado, na visão de alguns.
Honestidade, no mundo de vale tudo onde
estamos mergulhados, é sinônimo de otário. Gente boa precisa desviar dinheiro
público ou inchar o volume de despesa na prestação de contas, quando retornar
da viagem de negócios. Declaração de Imposto de Renda decente precisa omitir
várias informações, com aval de alguns contabilistas que jogam no time da
sujeira.
Na briga pelo poder e ostentação, cada vez
mais reforçado pela mídia, o ser
perde lugar para o ter. O importante
é manter na garagem o carro top de linha, mesmo ao custo de inúmeras
prestações, a maioria atrasadas. Vale também comprar apartamentos, que mais
parecem caixas de fósforos, a preços astronômicos, e fazer das tripas coração
visando manter a aparência de alguém bem-sucedido financeiramente, mesmo que a
refeição diária seja à base de feijão e farinha de mandioca.
Milhões de pessoas passaram a pautar suas
vidas pelo que fazem os personagens de filmes e novelas. A realidade precisa
imitar a ficção das telas de televisão e cinema. As adolescentes e jovens
mulheres estão perdendo o gosto pela alimentação saudável, optando pelo veneno
do fast food, carregado de substâncias químicas nocivas, na busca pela silueta
de corpo que só existem nas páginas de revistas por causa do milagre do
photoshop e talento de profissionais da indústria gráfica.
É uma sociedade tão perversa, que até Deus
ganha, cada vez mais, a antipatia de pessoas preocupadas apenas em ter muito
dinheiro. Tudo gira em torno dele. Casamentos e relações de amizades são
destruídos por causa da guerra existente entre os seres humanos. O marido vê na
mulher uma concorrente e ela faz o mesmo. Poucos conseguem dizer o pronome “nós”
quando se referem à compra de algum bem ou conquista de algo, desejado há muito
tempo.
Este clima de loucura incendiou corações e
mentes da população. Para matar alguém é só pisar no pé alheio ou encostar de
leve na traseira do carro da frente nos insuportáveis congestionamentos de
nossas ruas e avenidas. É minoria, hoje, quem trata o próximo com educação. Que
o digam os profissionais da área da Saúde e Educação, alvos constantes da falta
de bons modos dos consumidores.
Infelizmente as pessoas viraram inimigas uma
das outras. O amor desaparece cada vez mais dos relacionamentos. Válido é tirar
vantagem, até mesmo na hora de estacionar o carro na vaga destinada ao idoso
nos estabelecimentos comerciais. Bom é enganar o semelhante ao lhe oferecer um
mau negócio, onde o importante é ganhar muito dinheiro. Estes são alguns dos
motivos que ajudam a apertar o gatilho ou segurar firme na coronha da faca para
tirar a vida de alguém que nos aborrece. É o nó da corda da barbárie sendo
apertado sobre o pescoço do insano, retrato fiel de uma sociedade extremamente
consumista e desumana.
Nenhum comentário:
Postar um comentário